Uma Bucha de Maconha
Nino Bellieny 31/07/2015 03:13
QUAL A GRAÇA DE NOTICIAR A APREENSÃO DE UMA ÚNICA BUCHA DE MACONHA? Alguém muito inteligente fez a pergunta. Tenta-se aqui, a resposta... NB Popularmente chamada de bucha, pelo formato que, a embalagem plástica toma, quando se acondiciona a erva cannabis sativa, geralmente pesando entre dois e três gramas, é presença diária nos boletins enviados pelas sessão de comunicação dos batalhões de Polícia Militar do Brasil, comum no dialeto dos marginais e consumidores, falada e escrita por jornalistas. Uma única bucha não chama tanto a atenção do leitor ou de profissionais da mídia em busca de informes mais contundentes e espetaculares, porém, indissociável na cadeia do tráfico, uma com mais uma, formando um milhar. De um milhar a um milhão. Ou mais. Quando uma delas é retida, quebra-se, mesmo que, momentaneamente, a corrente. Através deste elo partido, pode se chegar aos demais. Para o policial, o flagrante se lavra da mesma maneira como se fosse o de uma grande quantidade.   Óbvio, uma tonelada apreendida causa muito mais impacto, todavia, no princípio da lei, tanto faz um grama ou mil gramas, um quilo ou mil quilos, se a droga estiver sendo comercializada ou carregada e a polícia chega no ato estragando a festa. O artigo Art. 33 da Lei de Tóxicos - Lei 11343/06 condena o tráfico em si, e não a venda desta ou daquela quantidade. Não há referência à quantia: "importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.". Apenas ficando no parágrafo inicial do artigo para não ir muito longe.     Em busca do espetáculo, mídia e leitor se tornam cúmplices de uma aceitação tácita daquilo que não é grandioso. Se não tem mortes, acidentes terríveis, corpos expostos, quantidades volumosas de entorpecentes, assaltos mirabolantes, tiro, porrada e bomba, como na música, não interessa. Não interessa, mas, continua fora da lei. Um crime é um crime, ainda que existam medidas diversas para o devido enquadramento. O tráfico, por exemplo, é o crime que mais leva para a prisão: o aumento foi de 339% desde a Lei de Drogas em 2006. Neste ritmo, não vai demorar muito e o país inteiro estará atrás das barras de ferro. Essa previsão geométrica foi feita no filme Tropa de Elite 2- O Inimigo Agora É Outro.   [caption id="attachment_3936" align="alignnone" width="300"]Foto-Suzi Lira- Jornal do Oeste Foto-Suzi Lira- Jornal do Oeste[/caption] Investisse mais em escolas, geração de empregos e inevitáveis centros de recuperação de viciados, o Governo gastaria bem menos, mas, não cabe ao policial sentar-se no meio-fio e lamentar-se sobre a ausência de políticas públicas com reais intenções de melhora social. Ele é um agente da lei e tem que cumprí-la. Seja uma bucha de maconha, um sacolé de cocaína ou um comprimido de uma droga moderna qualquer, quem estiver de posse, deverá ser encaminhado à delegacia mais próxima. É duro para o  comum consumidor de drogas ser confundido com um traficante. Ser visto como um pária social.     Há muitas incongruências no sistema vigente. Injustiças, defeitos e devaneios. Cabe aos legisladores mudar o que não está correto, buscar alternativas para um pais melhor, e o melhor só vem mais rápido se a Educação for valorizada. E junto, cultura, lazer, esporte, motivação e igualdade econômica. Sem isso, o povo não sabe distiguir, escolher, decidir e cobrar de quem ele coloca para representá-lo nos centros de poder. O policial é também um cidadão e sonha com um país justo. Enquanto sonha, não pode cochilar. Ou será conivente e pior ainda, parceiro do errado. Ele é a ponta da lei. Tem poucos segundos para interpretar e decidir. Não tem um processo em mãos para estudar com calma. Não é um tribunal ambulante. Ele segue o preceito, obedece ao procedimento. Por isso, tanta pressão e cobrança, nem sempre justificáveis.     Portanto, da próxima vez em que o leitor, ouvinte ou telespectador achar enfadonho ouvir mais uma vez, que, uma pequena quantidade de drogas foi apreendida em mãos de um, dois ou mais elementos, não critique o veículo que noticiou o fato nem os policiais em sua eterna tarefa de não deixar o gelo derreter de mais. São as pequenas formigas as mais famintas. Quase invisíveis, destroem uma plantação inteira. Deixá-las à vontade significa prejuízos incalculáveis. Enquanto as leis, modos e costumes não são transformados, nada fazer seria fatal.

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