Grito Entalado na Garganta
Nino Bellieny 24/07/2015 00:08

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Ele é publicitário, documentarista, antropólogo e universitário. Mora em São Gonçalo, tem 34 anos. É mais um brasileiro cansado diante de tantas coisas que não mudam no país. E de outras que só mudam para pior. O artigo é um desabafo e um alerta: existem muitas palavras sufocadas em milhares de gargantas iguais a dele, esperando a hora do grito...

PARTICIPAÇÃO OBSERVANTE

Por Élbio Ribeiro

Passei uma semana inteira catando lata de aluminio, fuçando lixo. E o resultado? Acredito que menos de vinte reais em cinco dias. Muita gente catando. Fiz vestibular, com sucesso,  para duas Universidades Públicas (Ciências Sociais na UERJ e Biblioteconomia na UFF).  Em uma delas eu não posso mas ir pois o preço da passagem impede que eu chegue lá!

Já trabalhei com grandes políticos e sempre me recusei a me corromper. Eu era um jovem cheio de ideais. Acreditava no poder do trabalho. Acreditei nos ensinamentos da minha sofrida mãe. Mesmo tendo passado pra duas universidades a ética protestante e o espírito do capitalismo fazem ela pensar que eu não dei certo na vida, coitada. Ela pensa que eu tenho algum problema mental ou espiritual. Devo ter mesmo. Estou acometido pela doença da miséria e da pobreza que quando grudam em nossa carne e em nosso espírito só saem com cirurgias de cortes muito profundos! Esta doença é a herança que meu pai me deixou!

Todo mundo fica me perguntando quando eu vou me formar. A última coisa boa que me aconteceu foi a mãe da minha filha falar que eu não sirvo pra porra nenhuma porque eu não tinha "um puto no bolso"! Glória a Deus, Aleluia!

Sem essa de vítima. Já me vitimei demais. Caí na ladainha de ser bom moço pra fazer mamãe feliz. Respeitei filha dos outros. Dei muito a outra face e nunca deixei de apanhar. E vos pergunto: Pra que?

Pra que ser honesto? Pra que trabalhar? Pra quer estudar? Pra que lutar pelo social? Pra ver a roubalheira e a guerra nos jornais. Pra ver desvio de dinheiro público enquanto eu e meu povo mendigamos pra viver! Já chega!

Chegou a hora de ser protagonista. De ter ou impor o respeito. Chegou a hora de virar a mesa! Vamos virar esse jogo! Aquela dívida? Vc nem lembra mais... A sua justificativa é o diploma. Valeu. Aqui na minha terra quase ninguém tem diploma ou faculdade. Geral tem tv de led 3D de mil polegadas e carro zero pago em 800 parcelas. Eu sou tratado como mendigo maluco e doente. Sabe por que? Por que não tenho aquele Nike fluorescente. As mulheres? As daqui querem o papel bordado. Só é atraente quem tem dinheiro no bolso. Vamos nessa!

Fé em Deus e nos mulek das favelas!

Élbio Ribeiro Publicitário, Documentarista & Antropólogo.

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