Artigo
Nino Bellieny
Em Setembro de 2014, um detento da Casa de Custódia de Itaperuna, com um tijolo, tentou quebrar a parede da cela e até o cadeado. Foi impedido de continuar pelos agentes de segurança interna sendo a ocorrência representada na 143ª DP. Na mente do rapaz, a ideia fixa de que, a sogra dele, instalara câmeras que o filmariam e depois, as cenas seriam exibidas no programa do Datena.
Dá pena. Não só por esse homem, talvez vítima de delírio psicótico ou simplesmente, pelo mais presente desejo na maioria das pessoas: o de aparecer. E a qualquer custo. Seja nas redes sociais ou nas emissoras de tv e vice-versa. Quase sempre planejada, a sequência tem requintes de superprodução ou é feita do modo mais tosco. O objetivo é o de atingir milhares de acessos e uma repercussão, nem sempre além de 3 ou 4 dias, insuficiente para preencher um ego faminto, esvaziado logo em seguida.
A vontade de ser alguém famoso e a facilidade para se chegar a este status tão volátil, é retroalimentada pelos programas de reality show, sites de notícias banais, blogs sensacionalistas e revistas semanais de fofocas sobre a vida de celebridades, quase todas instantaneamente desintegradas. Cometas fulgurantes, estimulam mesmo assim, a imaginação de milhares de mentes aprisionadas. É o cabelo, o corpo , a roupa, o carro, os flashs, as festas, a inspirarem jovens e adultos cansados de serem eles mesmos, ansiosos por uma transformação súbita, ainda que seja pagando um mico colossal.
Essa busca é antiga, somente acelerada pelas novas tecno-formas de comunicação.
Hoje tão comum nas declarações impulsivas, revelações íntimas de saúde, relacionamentos amorosos, indiretas raivosas e auto-espelhadas até chegar às selfies eróticas ou simplesmente bizarras, expostas visceralmente nas redes sociais.
Prevista por Andy Warhol há muitos anos, a ideia de que todo o mundo seria famoso por 15 minutos em um futuro à época distante, realizou-se turbinada: 15 segundos. Da terra ao céu ou ao inferno e de ambos, ao limbo. Em apenas 15 segundos. Sem enredo, sem permanência, sem história. E provavelmente, com um vazio ainda maior dentro de si.
( Flash-back de texto publicado em 24/09/2015)