Cheiro de Mofo...
bethlandim 27/06/2015 12:15

Inadmissível... Este é o sentimento quando assistimos as imagens, quando temos algumas notícias dos presos políticos da Venezuela, quando presenciamos um regime ditatorial. Um regime ditatorial tão próximo a nós, em que o governo brasileiro insiste em fechar os olhos, ou melhor, colocar a venda nos olhos quando se trata da ditadura que se instalou naquele país com Hugo Chavez e permanece até os dias de hoje com Nicolás Maduro. Como poderíamos fechar os olhos e não nos pronunciarmos vendo um irmão nosso sendo covardemente espancado? Pergunto a você: você ficaria calado? Você assistiria calado se visse na sua família seu irmão ou um amigo sofrer covardemente, sem nada fazer?

A Venezuela vive o maniqueísmo – que se originou na Pérsia e foi amplamente difundido no Império Romano, cuja doutrina consistia basicamente em afirmar a existência de um conflito cósmico entre o reino da luz (o bem) e o das sombras (o mal), e em afirmar que ao homem se impunha o dever de ajudar à vitória do Bem por meio de práticas ascéticas. Não podemos aceitar este mundo maniqueísta que divide as pessoas entre boas e más, entre isto ou aquilo, pois a liberdade é o bem mais precioso que possuímos, e a escolha e as possibilidades na vida não se restringem a duas opções maniqueístas, mas na construção de um mundo feito a várias mãos, com éticas e pensamentos distintos, com ideias complexas e não lineares. A forma como foram recebidos o grupo de oito senadores brasileiros liderados por Aécio Neves, foi simplesmente vergonhosa.

Viajaram à Venezuela o presidente da Comissão de Relações Internacionais, Aloysio Nunes, além dos senadores Aécio Neves, Cassio Cunha Lima, José Agripino (DEM-RN), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Ricardo Ferraço, José Medeiros (PPS-MT) e Sérgio Petecão (PSD-AC), segundo informações da assessoria do PSDB. Barrados no aeroporto sem proteção policial, tiveram sua van interrompida por mais de cinqüenta homens que insistentemente batiam no carro, para impedir que continuassem na estrada e para amedrontá-los. A polícia da Venezuela nada fez. Ou fez...?! No entanto, outra comitiva esteve na Venezuela esta semana, liderada pelo senador Lindbergh Farias e teve escolta, da polícia, foi recebida por autoridades, não teve o carro retido e nem agredido. A chegada do grupo de parlamentares brasileiros, composto por Lindbergh Farias (PT-RJ), Roberto Requião (PMDB-PR), Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Lídice da Mata (PSB-BA), Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) e Telmário Mota (PDT-RR), ocorre um dia após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela marcar a data das eleições parlamentares para seis de dezembro.

Existem dois Brasis? Existem duas formas de ver a mesma ditadura? Todas as duas delegações conseguiram falar com as esposas dos presos políticos e dar notoriedade a todo excesso ditatorial que está acontecendo na Venezuela, o que por si só, já traz a tona o problema vivido pelos venezuelanos e aumentam as pressões de todo o mundo em cima do atual governo. País produtor de petróleo é tentado a acreditar que a riqueza decorrente do petróleo é inesgotável. E que, portanto, é permitido gastar sem limites. Chavez gastou. Maduro gasta... Democracia de mentira não resiste à pressão natural dos que pensam viver em uma democracia e dos que cobram uma democracia de verdade. Mais dia, menos dia, cai sua máscara. No caso da Venezuela, a máscara caiu e só não enxerga quem quer colocar venda nos olhos, ou pior, os que de fato não enxergam.

Não podemos permitir, que nos dias de hoje, sistemas políticos possam usurpar a liberdade do seu povo, nem tão pouco podemos fechar nossos olhos para ditaduras, muito menos fazer parcerias com ditadores. Não podemos nem sentir cheiro de mofo no ar... O mofo nos remete ao aprisionamento, a escuridão, ao envelhecimento das idéias, do sonho, dos ideais... Temos que libertar nossos sonhos, nossos pensamentos, nossa alma, não nos deixar acorrentar nunca... deixar o vento correr, ventilar as idéias, trazer o novo, ouvir, ouvir e ouvir... praticar o “e” e não o “ou”, pois vivemos no mundo que conjuga, que soma, o mundo do “e”, e não o mundo maniqueísta, que separa ou isto ou aquilo, ou o bem ou o mal...

Não podemos aceitar uma ditadura para o vizinho, pois estaremos dizendo... sim a ditadura pra nós também... Cheiro de mofo... jamais... cheiro somente de liberdade... de bons ventos...

Com afeto,

Beth Landim

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