Uma câmera, um fusquinha e uma esquina
01/03/2015 15:03

Thaís Tostes
Foto: Divulgação

Uma fotografia que mostra um carro Fusca passando nos arredores da famosa “Praça do Liceu” (a Praça Barão do Rio Branco), em Campos, compõe o painel #Street, da exposição “#MobilePhotoNow”, que está em cartaz (e ficará até o dia 30 de março) no Columbus Museu of Art, em Columbus, capital de Ohio, nos Estados Unidos da América. A imagem foi clicada pela fotógrafa Juliana Jacyntho, natural de Campos, e é conceituada como uma produção da mob fotografia, universo das fotografias feitas (e editadas) em plataformas “mobiles”, móveis, como câmeras de aparelhos celulares e de tablets. A imagem assinada por Juliana foi uma das escolhidas para serem impressas e emolduradas, compondo a exposição que também exibe imagens num telão. A mostra reúne 300 fotografias e é resultado de um concurso no qual foram inscritas 45 mil imagens, produzidas por fotógrafos de todo o planeta. Em entrevista à Folha Dois, Juliana contou como foi ir a Columbus ver de perto a fotografia que ela clicou de forma espontânea, enquanto fazia um ensaio fotográfico para uma de suas clientes na Casa de Cultura Villa Maria e na Praça do Liceu. Juliana também falou um pouco sobre as novas plataformas de produção de imagens, que já são um boom mundial, impulsionado pela rede mundial de computadores.

— No fim do ensaio com minha cliente, fui atravessar a rua e passou um fusquinha que me chamou a atenção. Cliquei na hora. Estive em Columbus no sábado de Carnaval, com meu marido, Eduardo Meira. Quando chegamos lá no Columbus Museum of Art, a temperatura lá fora que estava inferior a 18 graus Celsius deu lugar a um calor muito grande dentro do coração porque foi, de fato, muito emocionante entrar no salão da exposição e ver minha foto. A exposição em Ohio foi, para mim, um presente, porque foi a minha primeira exposição em fotografia, a primeira em mob fotografia, a primeira nos Estados Unidos e o mais importante: com uma foto simples, preta e branca (eu que sou muito das cores), de um fusquinha virando uma esquina numa bela rua da minha cidade natal. A beleza está nas coisas simples e ganhar o privilégio de estar na #MobilePhotoNow com essa foto só me confirmou isso: temos que estar atentos ao entorno, para as simples belezas da vida. E essa beleza pode residir ali, num fusquinha virando a próxima esquina. Tem uma hashtag no Instagram que faz muito sucesso e que eu gosto muito, que diz “nothingisordinary”. E é isso: nada é tão ordinário, tão descartável, tão sem propósito que você não deva dar atenção. Temos que ser generosos com tudo a nossa volta, pois quem dá o sentido àquilo que a gente enxerga é a gente mesmo. Há muito significado por trás de uma imagem. Um convite à reflexão. É o que a fotografia e a mob fotografia nos propõem — relatou Juliana.

Além de #Street, a exposição foi composta pelos painéis #P&B, #Community e #Portrait. Juliana começou a fotografar de forma amadora, quando, aos nove anos, ganhou uma câmera Kodak Cross, de sua madrinha, e fez uma foto de coelhos que estavam numa casinha de madeira, num sítio em Teresópolis-RJ. Juliana carrega no currículo vários cursos e workshops, dentre eles o curso de Fotografia Miksang, área da fotografia contemplativa em estilo tibetano, feito com o professor Yuri Bittar, e um curso de Fotografia, realizado na Escola Techimage, no bairro Brooklin, em São Paulo, onde Juliana reside e trabalha.

— Desde 2014, trabalho como fotógrafa de pessoas, famílias, gestantes e ensaios individuais. Tenho o site www.jujacyntho.com e criei uma conta no Instagram (www.instagram.com/jujalife) para explorar a fotografia miksang e a mob fotografia, que é um movimento que vem ganhando muita força no mundo inteiro. “Mobgraphia” é o nome do “movimento” aqui no Brasil. Essa marca foi criada por Cadu Lemos e Ricardo Rojas, dois fotógrafos de São Paulo que têm um site para divulgar e apoiar a mob fotografia no Brasil (www.mobgraphia.com) — contou a fotógrafa.

Ju Jacyntho destaca as plataformas móveis

A Ju Jacyntho fotografa pessoas usando câmeras profissionais e, também, a mob fotografia, em registros classificados por ela como “Fotografia de Rua”. A fotógrafa que já morou em capitais como Belo Horizonte-MG, Rio de Janeiro-RJ e Curitiba-PR capta imagens de pessoas nas ruas das cidades por onde passa. As paisagens urbanas são uma das paixões de Juliana e estão catalogadas na hashtag “#cityscapes_jj”, em seu perfil no Instagram (www.instagram.com/jujalife).

Para Juliana, as plataformas móveis estão cada vez mais potentes, mas ainda têm suas limitações, se comparadas às lentes e aos sensores das “câmeras DSLR” ultramodernas que os fotógrafos usam para clicar pessoas em estúdios, por exemplo. No entanto, a fotógrafa considera incrível a quantidade de recursos das câmeras de smartphones e, também, a diversidade dos aplicativos de pós-produção, que possibilitam uma edição de imagens mais sofisticada, por meio da mob fotografia.

— O compartilhamento, a rapidez na disseminação da imagem e a difusão para uma gama muito vasta de pessoas é sim, para mim, a grande revolução gerada pela fotografia mobile. Outro ganho é que essa democratização na divulgação do trabalho do fotógrafo, por meio da mob fotografia e das redes sociais, sem sombra de dúvidas aproxima o fotógrafo do grande público. Vejo que as plataformas móveis vieram democratizar a produção da fotografia e as formas de disseminação, apesar do custo de um smartphone de última geração com uma boa câmera não ser nada democrático em nosso país.  Acredito que a fotografia mobile pode, sim, proporcionar um mundo melhor, na medida em que as pessoas estão cada vez mais atentas às cenas do seu cotidiano, da sua cidade, para registrá-las e divulgá-las rapidamente, compartilhando-as com um montão de gente pelo mundo — comentou Juliana, adicionando:

— Esse ato de parar e olhar em volta, no meio de tanta correria, e enxergar o seu entorno com mais amor, mais generosidade, ‘com olhos de enxergar coisa boa’ (como eu sempre brinco), faz, sim, toda a diferença no mundo. Sempre há beleza em volta. A gente só precisa parar para enxergar. E depois registrar, é claro.

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