Leitura de sábado: doping no esporte
Marcos Almeida 07/02/2015 07:55

tumblr_nd4zsjXXwE1rg58bpo1_500Após mais um caso de uso de doping, ou o seu suposto uso, percebe-se que estes "suplementos" fazem parte do esporte, e ao que parece, desde o recreacional até o de performance.

Qual a melhor solução nestes casos, visto o atleta ser apenas umas das engrenagens neste complexo tabuleiro que demanda muitos interesses (financeiros, status e etc.)?

Pelo que temos visto, o atleta "limpo" vai sair sempre perdendo, visto o desenvolvimento de substâncias ergogênicas estarem sempre anos luzes a frente.

Em texto da Mariliz Pereira Jorge, colunista da Folha de São Paulo, uma boa sugestão que concordo e compartilho. Neste trecho a seguir, dá para ter uma ideia da sua ideia central:

Muita gente, e não somente Armstrong, diz que é o doping que mantém atletas na ponta e garante que sigam se superando –o que garantiria o interesse do público e dos patrocinadores. Se todos –ou pelo menos a maioria– usam, não seria mais honesto que algumas drogas fossem regulamentadas para serem usadas dentro de um limite de segurança?

Abaixo o texto na íntegra:

Uma pesquisa feita com jogadores de pôquer constatou que 73% deles usam alguma substância pra aumentar a concentração, 11% para manter a calma, outros 11% para ficar acordado e 2% para melhorar a memória. Os dados impressionam porque pôquer –e deve acontecer o mesmo no xadrez–, não é um esporte de desempenho físico, mas mental. Mesmo assim, os praticantes dão lá seu jeito de ficar mais acordados, mais concentrados, mais sabidos do que os outros. Parece natural, então, que quando um atleta precisa aumentar sua força muscular, sua energia e, consequentemente, sua performance, seja tentado a usar até o que não pode. Veja, não estou defendendo o uso de doping, mas depois de tantos casos envolvendo atletas excepcionais –e eles não são excepcionais apenas porque tomam boleta–, me parece hipocrisia achar que entre os milhares de praticantes haja apenas alguns mal intencionados. Em 2003, a "Sports Illustrated" publicou reportagem sobre o Comitê Olímpico Americano, que havia encoberto o doping de mais de cem atletas, incluindo 19 medalhistas olímpicos, como o velocista Carl Lewis. O mesmo Lewis que ficou com a medalha de Ben Johnson, na Olimpíada de 1988. Sim, aquele Johnson que encantou o mundo como o cara mais rápido do planeta. Talvez o caso mais recente e mais chocante seja o do ciclista Lance Armstrong. Eu contribuía com sua ONG de apoio a doentes de câncer, a Livestrong. Foi uma decepção pensar que um ídolo como ele era um ídolo de mentirinha. Mas parei pra pensar: quem não é? Armstrong diz que faria tudo de novo e que atletas de ponta estão afundados até o pescoço em doping. Ele, melhor do que ninguém, talvez saiba o que acontece de mais nebuloso na elite esportiva. Como no mundo dos famosos, todo mundo sabe quem cheira, quem é gay, quem trai o parceiro. E seguem se fingindo de mortos. Sim, quem é pego diz que todos usam. Mas se a gente olhar a história, cai duro com a quantidade de casos que não repercutem por não envolverem atletas como Johnson, Armstrong e Anderson Silva. Além de todos os casos que não são descobertos. Se as entidades que regulamentam os esportes têm testes cada vez mais sofisticados para desvendar as fraudes, há um submundo muito eficiente em desenvolver novas drogas que não são detectáveis ou em descobrir formas mais modernas de administração que não deixem rastro. Muita gente, e não somente Armstrong, diz que é o doping que mantém atletas na ponta e garante que sigam se superando –o que garantiria o interesse do público e dos patrocinadores. Se todos –ou pelo menos a maioria– usam, não seria mais honesto que algumas drogas fossem regulamentadas para serem usadas dentro de um limite de segurança? Se reles mortais, que batem ponto na academia, se entopem de "whey prontein", creatina, hormônio de crescimento, muitas vezes sem prescrição e sem necessidade, por que não deixar que atletas profissionais se valham da medicina e da tecnologia para serem mais eficientes e mais competitivos? Ou vamos continuar fingindo que estão todos limpinhos e apenas alguns jogam sujo? 

Fonte: aqui.

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    Sobre o autor

    Marcos Almeida

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    Marcos Almeida é assessor esportivo, especialista em Ciência da Musculação e mestre em Ciência da Motricidade Humana.

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