Com as próprias pernas
José Paes 23/02/2015 15:50

Enfim chegou aquela época chata do ano entre o carnaval e o natal. Época em que deixamos de ser nós mesmos (palhaços, abelhinhas, diabinhos, odaliscas, sheiks, clérigos), para vestirmos nossas fantasias de advogados, médicos, professores, jornalistas, dentre inúmeras outras.

É hora de colocarmos em prática todos aqueles planos que ao longo dos últimos meses foram deixados de lado, em prol das férias, das festas, da praia, dos amigos e daquela cervejinha gelada, dia sim, dia também.

Bem que em Campos esse período que se finda hoje poderia durar um pouco mais. Nossa realidade não está e não será nada fácil. Nossa economia, brutalmente dependente dos cofres públicos municipais já sente, de forma cada vez mais forte, os efeitos perversos da queda da arrecadação dos royalties, agravados por anos de má gestão da coisa pública, até então camuflados pelo esbanjamento da nossa riqueza.

Não será nada fácil, portanto, essa transição entre o festivo e o cotidiano. Toda irreverência e criatividade que transbordaram até hoje precisarão persistir, para buscarmos caminhos e soluções para mitigar os efeitos da crise que aí está. Será preciso inovar, criar outros mecanismos de sobrevivência, para que possamos enfrentar um momento nada fácil para nossa região.

Particularmente, enxergo nesse momento uma oportunidade única para alterarmos os rumos da nossa cidade. Nos últimos 25 anos, com o crescimento explosivo das nossas receitas, oriundas dos royalties do petróleo, passamos a depender em demasia do Poder público. Deixamos de explorar nossas imensas outras potencialidades, em especial na agricultura, que tantas riquezas nos gerou no passado. De certa forma, hibernarmos, entramos num estado de leniência, aguardando, não importa a condição social, as benesses que o ouro negro nos poderia trazer.

Assim como no carnaval, contudo, uma hora a festa acaba, a realidade se apresenta e a vida precisa seguir. Não podemos enxergar esse momento de crise como o fim, mas como o início de uma nova história. Cobremos, sim, um novo caminho político, que necessariamente expurgue do poder os que aí estão, nada fizeram e que não têm condições mínimas de mudar a atual situação. Mas precisamos cobrar mesmo, é uma nova atitude nossa, dos cidadãos comuns. A festa acabou, é hora de colocarmos a mão na massa, crescermos e nos desenvolvermos por nossa própria conta. Precisamos cortar esse perverso cordão umbilical que nos liga a Prefeitura. Chega de comodismo, deixemos de ser garotinhos mimados, é hora de hombridade e iniciativa.

Artigo publicado na versão impressa da Folha de 19/02/2015

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