Sessão da Câmara vira "Show do Garotinho"
Alexandre Bastos 24/02/2015 23:43
[caption id="attachment_31130" align="aligncenter" width="437"] Foto: Gerson Gomes/Secom[/caption]

Há 15 anos o ex-governador Leonel Brizola conversou com jornalistas sobre a personalidade do então governador Anthony Garotinho. Bem humorado, o velho caudilho imitou o apresentador Sílvio Santos e disse: "Garotinho é um animador de auditório. É ou não é? Ééééé?". Antes que ele diga que essa frase não é de Brizola, aí está o link, no site do PDT: aqui.

Se pudesse ver a sessão desta terça-feira (24) da Câmara de Campos, Brizola poderia afirmar: "Eu tinha razão!". A sessão ordinária, com a presença de Garotinho, que levou uma mensagem da prefeita Rosinha, lembrou muito um programa de auditório. A Casa estava cheia de "colegas de trabalho" e tinha até rosáceo fazendo o papel do Roque, ao esperar o tempo certo para puxar os aplausos. Só faltou sorteio de produtos da Jequiti e número musical.

Colocando em prática a sua estratégia de se tornar o centro das atenções para defender o seu grupo político, Garotinho contou histórias, tentou desconstruir os argumentos da oposição e sugeriu um "show" mensal. "Posso voltar todo mês, trazendo um secretário", se ofereceu, sendo prontamente atendido pelo presidente da Câmara, Edson Batista (PTB), que colocou o tema em votação e a Casa aprovou.

Durante o "show", ao ser questionado pela oposição sobre as dificuldades financeiras da Prefeitura de Campos no final de 2014, mesmo com um orçamento que superou R$ 2,4 bilhões, Garotinho encarnou uma espécie de "Rolando Lero", só que mais agressivo do que o personagem da "Escolinha do Professor Raimundo". Falou, falou, voltou ao passado e respondeu pouco.

[caption id="attachment_31142" align="aligncenter" width="396"] Montagem enviada por um leitor do blog[/caption]

Para tirar o crédito dos questionamentos do vereador Marcão (PT), ele citou os problemas econômicos do governo Dilma e disse que petistas não são "pessoas adequadas para falar em orçamento". Depois, ao rebater o vereador Fred Machado (SDD), comentou sobre a prisão da ex-prefeita de São João da Barra, Carla Machado (PT). Para completar, resolveu voltar mais de trinta anos no tempo e citou o ex-prefeito Zezé Barbosa para atingir o vereador Rafael Diniz (PPS). Mesmo dizendo que "não ataca quem não pode se defender", Garotinho citou diversas vezes o ex-prefeito: "Ele me tirou do ar (...) Ele apoiou a Ditadura (...) Campos tinha cacique, tinha dono", comentou Garotinho. Mas logo depois, com um tom de voz completamente diferente, o secretário olhou para Rafael e disse que "as críticas eram no campo da política, não pessoais". "Minha família tem muito apreço pela sua. Meu pai trabalhou com o seu avô e estudou graças a ele", lembrou Garotinho.

Durante as indagações do vereador José Carlos (PSDC), que trocou a situação pela oposição, Garotinho fez de tudo para mudar o tom da abordagem. "A prefeita gosta muito de vossa excelência. O senhor já teria até dito que estava cansado da oposição e que depois da eleição voltaria. Estamos esperando para um café", disse Garotinho, deixando José Carlos sem muita ação. Porém, o oposicionista aproveitou para disparar na direção dos rosáceos: "O senhor precisa é tomar cuidado com os morcegos que atuam nesse governo. É muita gente para atrapalhar, muita gente inoperante. E essa turma que está aqui hoje tem é medo de perder o emprego", disparou José Carlos.

Aluguel de Carros - Indagado pelo vereador Fred Machado sobre o contrato de R$ 8,7 milhões para aluguel de carros, Garotinho disse que "o vereador citou uma nota de jornal que não representava a verdade". Segundo Garotinho, o vereador não citou uma outra nota com a explicação da Prefeitura. Porém, Garotinho não entrou em detalhes sobre o contrato.

Aluguel de Ambulâncias - Ao responder sobre os contratos milionários para o aluguel de ambulâncias, Garotinho informou que esta foi a melhor maneira encontrada pela Prefeitura e criticou os governos passados. "Tinha um cemitério de ambulâncias nos governos passados".

Shows - Após o vereador Rafael Diniz comentar sobre o gasto de R$ 1,3 milhão só com cachês de artistas nacionais, durante o "Verão da Família", Garotinho disse que patrocinadores bancaram 70% dos cachês. Porém, não entrou em detalhes sobre os contratos com os patrocinadores. Ele também não informou se os R$ 2,7 milhões gastos com palcos, luz, som e fogos também foram bancados pelos patrocinadores.

Cidade da Criança - Após o vereador Fred Machado comentar sobre os gastos com a "Cidade da Criança", que teria passado de R$ 6 milhões para R$ 16 milhões, Garotinho alegou que o Parque Alzira Vargas é considerado um patrimônio histórico e, por conta disso, a obra foi mais delicada do que o previsto. Além disso, informou que durante as obras a prefeita resolveu ampliar o projeto, transformando a "Cidade da Criança" em um Parque Temático.

Taxa de Iluminação - Sobre o reajuste da Taxa de Iluminação, que faz parte do "pacote de maldades", Garotinho disse que se fosse dividido o que a Prefeitura paga pela iluminação para cada cidadão, o valor ficaria em R$ 16,00 para cada um. "Porém, a contribuição é de R$ 4,50 e a Prefeitura arca com o restante", disse Garotinho, dizendo que não é possível deixar de cobrar. "Se quiser o vereador Marcão não quer que ninguém pague nada, vai ter que pagar tudo ou andar no escuro". Mas é bom lembrar que, no Rio, a filha de Garotinho, Clarissa Garotinho, lutou contra uma Taxa semelhante, criada pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB).

Obras - Indagado pelo vereador Alexandre Tadeu (PRB) sobre as obras sem conclusão, Garotinho respondeu:  “As obras não serão paralisadas, mas vamos realizar num ritmo mais devagar, conforme o cenário da economia". Sobre se as obras do Programa Bairro Legal, se serão ou não feitas em todo bairro, como é o caso do Esplanada,ele explicou que “todas as ruas serão contempladas com as obras de infraestrutura, porém, algumas vão ser pavimentadas em paralelos. – As principais ruas com asfaltamento”.

Demissões - Sobre a redução dos quadros, Garotinho, disse: “Ninguém gosta de dispensar um trabalhador chefe de família, da mesma forma que a presidente Dilma não gostaria de deixar milhões de trabalhadores fora do seguro desemprego, nem gostaria de mexer em outros benefícios como o rendimento das pensionistas. Mas a Prefeita Rosinha prefere ser realista e responsável. Afinal, é melhor ter um quantitativo menor, mas que a Prefeitura possa pagar os salários dessas pessoas corretamente, sem atraso nos pagamentos”, respondeu o secretário.

O blog "Eu Penso que", do jornalista Ricardo André Vasconcelos, fez uma cobertura da sessão em tempo real: aqui 

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