Alexandre Rosa: “Me senti tolhido desde o primeiro dia da administração”
Arnaldo Neto 24/02/2015 16:44
[caption id="attachment_885" align="aligncenter" width="756"]Foto: Reprodução Alexandre fala de motivos que levaram ao rompimento político com Neco. Foto: Reprodução[/caption] Vereador por dois mandatos e atual vice-prefeito de São João da Barra, Alexandre Rosa (PMDB), está afastado das decisões administrativas municipais desde 2013. Nesse período, Alexandre não comentou sobre o assunto em nenhum meio de comunicação, nem nas redes sociais. Na abertura do Carnaval 2015 – diferente do que aconteceu nos anos anteriores – Alexandre não participou com o prefeito Neco (PMDB) de nenhum ato oficial. No seu gabinete, o vice-prefeito não era encontrado, o que fortaleceu os boatos de um afastamento político com Neco. Alexandre resolveu romper o silêncio e fala sobre os motivos que o levaram aos problemas com o prefeito. Arnaldo Neto: Como você define sua atual relação política com o prefeito Neco? Alexandre Rosa: Nós estamos desligados, completamente desligados. O que levou ao nosso desligamento foram algumas posturas que ele veio tomando e que, automaticamente, eu fui me afastando por não concordar com o perfil de administração, com algumas atitudes que ele veio e vem tomando. A.N.: Durante o seu discurso de posse, você afirmou que não seria “vice para ficar em casa”. Entretanto, atualmente não é visto com regularidade no gabinete. O que determinou essa mudança de postura? Alexandre: O sanjoanense é testemunha de como eu me empenhei no início do mandato, ao exigir um gabinete para mim, ao estar na Prefeitura e atender de 30 a 40 pessoas por dia, tanto com demanda pessoal, como demanda para população como um todo, para resolver problemas do município, da cidade, bairros, comunidades. Porém, desde o primeiro dia do mandato, eu já comecei a me sentir tolhido em participar da administração. Eu sou uma pessoa que estou há 10 anos na política, tenho curso superior em gestão pública e sei que, posso não estar sendo modesto, mas eu teria uma certa bagagem para ajudar o governo, para ajudar o prefeito, ajudar o povo e ajudar o município. Como eu falei, desde o primeiro dia de governo eu já me senti excluído. A partir do momento que a minha sala tem uma porta que dá acesso a sala de reuniões e quando eu meti a mão na porta, para minha surpresa, ela estava fechada e sem uma chave. Pedi a chave até para que eu pudesse da minha sala ter acesso à sala de reuniões, ajudar na participação das decisões. Lógico que a gente sabe que o prefeito que tem sua obrigação e que tem a sua autonomia, é gestor, é ordenador de despesa. Mas, conforme foi dito em campanha, a gente iria governar junto, eu ia poder estar ajudando. Não foi isso que aconteceu. Portas fechadas, participação em decisão de nada eu tinha. Quando um secretário estava sendo nomeado ou exonerado, eu só sabia através do Diário Oficial do Município. Então, eu fui me sentindo excluído. E fui aos poucos me afastando, por conta desse perfil individualista e de autossuficiência do prefeito. A.N.: Em 2010, você fez parte da bancada de oposição à então prefeita Carla Machado, intitulado de G-5. No seu retorno ao grupo governista, você ficou com a secretaria de Turismo, como secretário. Desde então, o posto sempre foi de pessoas de sua confiança. O atual, Jorge Ribeiro, foi indicação sua. A permanência dele é ainda por sua influência? Você participa da indicação de nomes do primeiro escalão? Alexandre: Eu fiz a indicação do Flávio (Raposo, ex-secretário de Turismo) e, assim que iniciou o governo, ele sentiu que não tinha a autonomia que tinha no governo passado. Ele mesmo pediu a sua exoneração, porque estava vendo que estava secretário somente no nome, mas que não podia tomar nenhum tipo de atitude, administrar a secretaria. Seja lá o que fosse, a mínima coisa, tinha que depender do prefeito e muita das vezes sem conseguir ter acesso. O tempo passava, os eventos chegavam e não conseguia uma resolução. Quando ele saiu, eu ainda estava com um relacionamento razoável com o prefeito. Aí eu falei que o Flávio estava querendo sair, mas que eu tinha outra pessoa para indicar. Falei no nome do Jorge e ele (Neco) aceitou. Só que hoje eu não considero mais como indicação. Apesar de que, a indicação do Jorge foi só do nome. Eu nunca tive nenhum tipo de gestão sobre a secretaria neste mandato. Hoje eu não considero mais Jorge como uma pessoa indicada minha. Até porque ele tem o relacionamento dele com o prefeito, é leal ao prefeito e não nega isso. A.N.: Fato marcante da sua vereança foi a confusão com o ex-vereador Zezinho Camarão, que teve até agressão física e repercussão na mídia nacional. Como você encarou a aproximação de Camarão com um governo no qual você é o vice-prefeito? Alexandre: Um dos motivos... tanto na vida pessoal, na vida particular, na vida privada, como no poder, tem um ditado que diz que as palavras o vento leva. Porém, eu fui agredido fisicamente e isso repercutiu nacionalmente. E se eu não tiver um pouco de amor próprio, não serão os outros que terão por mim. Hoje você disse que ele se aproxima, não. O Camarão hoje faz parte do governo. Atuando, indicando, está sempre colado, envolvido com o prefeito em festinhas. Quando eu vi essa aproximação na campanha passada, para deputado e governador, foi um dos motivos que me afastaram. O que a população iria falar ao meu respeito, se me visse caminhando ao lado de uma pessoa que me agrediu? “Ah, Alexandre por uma questão de poder, ou por uma questão de interesse financeiro, está se sujeitando a estar caminhando lado a lado de uma pessoa que deu um soco na sua cara”, falando a grosso modo. Foi um dos motivos que me afastaram também. A gente vê aí hoje pessoas competentes sendo excluídas, pais de famílias sendo exonerados, pessoas que ajudaram a nos eleger estão fora do governo sem uma satisfação qualquer, pessoas competentes, que poderiam estar ajudando bastante. Hoje a gente vê pessoas que só querem usurpar o nosso município, tendo esse poder de indicar pessoas para cargos de confiança, cargos que são técnicos e não têm competência para tal. A.N.: Durante uma reunião com a presença da imprensa, o prefeito anunciou em agosto de 2013 o ingresso de Ranulfo Vidigal como secretário de Fazenda. Sua reação foi imediata, ao afirmar que não sabia da escolha. Desde essa época, a relação entre vocês já não estava “afinada”? Alexandre: Eu fui pego de surpresa quando me ligaram convidando para uma reunião no gabinete, onde todos os secretários estavam presentes, e seria apresentado Ranulfo como secretário de Fazenda. Fiquei surpreso, fui até lá para averiguar. Cheguei, continuei surpreso porque não estava acreditando naquela atitude. Quando o prefeito disse que Ranulfo estava vindo para somar, eu falei: espero que seja para somar mesmo. Fiz questão de colocar para todos os secretários que eu não sabia, que estava sendo uma surpresa. Demonstrei minha insatisfação naquele momento. Logo após, o prefeito chamou os secretários para um almoço na casa dele, para receber Ranulfo. Eu fui o primeiro a sair, bati a porta e fui embora, demonstrando ali a minha insatisfação com a vinda de Ranulfo para o grupo e a insatisfação de mais uma vez não ter sido comunicado ou ajudar a participar dessa decisão. Tanto a decisão foi ruim, que hoje ele não se encontra mais no governo. A gente fica sabendo pelos bastidores que o sua exoneração foi por um motivo desagradável. Não posso afirmar o que foi, porque não tenho provas. Mas sei que a relação entre ele o prefeito se estremeceu por atitudes, que me parece, não deixou o prefeito satisfeito.  A.N.: Neco já demonstrou interesse em ser candidato à reeleição no próximo ano. E os planos do Alexandre Rosa, quais são? Alexandre: Ainda não estou definido com relação a isso. Não sei se serei candidato. Se for, não sei a que serei candidato. Mas, como sanjoanense nato, tenho vontade, ao mesmo tempo que a política me trouxe muita decepção e muitos problemas; tenho vontade de me manter firme e continuar na luta por São João da Barra e pelo nosso povo. A.N.: Hoje você está filiado ao PMDB. Pretende trocar de partido? Já existe algum em mente ou ainda é cedo? Alexandre: Pode não ser mais tão cedo. A gente sabe que para ser candidato ano que vem, até outubro tem que tá definindo as questões partidárias. Como o ano acaba começando depois do Carnaval, eu acho que as articulações começam agora. Eu também vou buscar aí ver o que a gente faz, com relação à questão partidária. Estamos começando a analisar essa questão partidária. A.N.: O município hoje está dividido em três frentes políticas, uma liderada pelo prefeito Neco, outra pela ex-prefeita Carla e a do PR, sob o comando do ex-prefeito Betinho Dauaire e do filho e deputado estadual Bruno Dauaire. Você pertence a algum desses grupos? Qual? Alexandre: É uma pergunta delicada, porque existe a questão partidária. Eu não posso dizer que faço parte de outro grupo, como também não me considero fazendo parte do grupo do prefeito. Estou numa caminhada independente. E esperando ver o que a gente tem de oportunidade para o futuro. Futuro próximo, a gente estará definindo até no máximo em setembro, acredito eu. Posso dizer que sou do PMDB e não tem outro grupo partidário que eu esteja participando. A.N.: Rolou nos bastidores boatos que você teria apoiado a ex-prefeita Carla na campanha para deputada estadual. Isso aconteceu? Por que você não anunciou publicamente seu apoio a nenhum candidato durante as eleições? Alexandre: Eu fui a primeira reunião, onde o governador Pezão esteve aqui, e declarei meu apoio a ele. Como membro do PMDB, vice-prefeito do PMDB, declarei meu apoio ao Pezão. Como de fato, votei no Pezão. Porém, a questão de deputado, realmente eu neutralizei e não trabalhei para ninguém. Até por uma questão de fidelidade partidária. Não me identifiquei com os candidatos apresentados pelo partido aqui, eu preferi declara meu apoio somente ao governador. Pela primeira vez, em 10 anos na política, eu não participei dessa eleição proporcional de outubro passado. A.N.: Como você avalia o governo Neco até o momento? Alexandre: Como eu falei no início, tanto na questão dos novos aliados do prefeito, que também me fizeram afastar do governo, a postura do prefeito administrativamente, que não me deixou participar de decisões, de nada para ajudar o governo, eu me afastei também porque prefiro estar ao lado da população. A maioria da população sanjoanense está decepcionada com o atual governo. Ao ficar ao lado do prefeito ou ao lado da população, eu opto por ficar ao lado da população que tem a maioria insatisfeita. Assim também como hoje nós temos a maioria dos vereadores que foram eleitos no nosso palanque, insatisfeita com o governo. Isso demonstra que ele não está no caminho certo. Mesmo se eu não tivesse de acordo com a postura política ou de alianças políticas que o prefeito vem fazendo, eu poderia estar de repente afastado. Mas poderia estar aplaudindo, se o governo estivesse no caminho certo. Como sanjoanense, eleito pelo povo, e sendo cobrado do jeito que eu tenho sido, eu prefiro estar afastado do governo e junto a população que hoje se encontra insatisfeita com as atitudes administrativas e políticas do prefeito Neco.

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