Mariana Luiza
22/01/2017 01:20 - Atualizado em 19/05/2020 10:59
O Dicionário Oxford elegeu “vape”, que na língua inglesa significa “fumar um cigarro eletrônico”, como a palavra do ano de 2014. Em 2013, a palavra escolhida foi “selfie”. Segundo o próprio dicionário o uso do vocábulo aumentou cerca de 17.000% desde 2012. Ao contrário de “vape” cuja moda não pegou por aqui, o autorretrato eletrônico pôde ser considerado a sensação de 2013 e porque não dizer de 2014. Não bastasse a mundialmente famosa “selfie do Oscar”, no Brasil tivemos alguns autorretratos que também deram o que falar. Exposições embaraçosas como a constrangedora foto de uma mulher no funeral do candidato a presidência Eduardo Campos, ou da enfermeira de Fortaleza demitida pela auto exposição ao tirar uma selfie ao lado da maca onde estava Neymar desencadearam discussões populares sobre o caminho do narcisismo moderno. Ingenuamente, pensei que com a virada do ano, o vocábulo e sua prática cairiam em desuso. Ledo engano. “Selfie” e seu uso se sofisticaram e ganharam um forte aliado capaz de estender o ângulo captado pela câmera. Agora, um novo personagem estampa as fotografias nas redes sociais. A sombra do pau do selfie que impõe sua presença na fotografia dos distraídos. Nas praias cariocas, nos mercados populares e camelôs o produto é amplamente comercializado. O pau do selfie se tornou um promissor candidato a palavra do ano de 2015. Pode-se parecer simplória a tentativa de resumir o ano em uma só palavra. Mas “selfie” abrevia num vocábulo o destino de uma sociedade cada vez mais egocêntrica que supervaloriza a autossuficiência. Os self-services alimentares, nos postos de gasolina ou supermercados proliferam como progressos sociais. Telefones recebem apelidos que os qualificam de espertos, por hospedarem aplicativos que cada vez mais substituem o contato entre as pessoas. Não é mais necessário perguntar a direção daquela rua no posto ou ao taxista no sinal de trânsito. Aplicativos como Waze e Google Map oferecem um serviço muito mais eficaz orientando inclusive sobre os congestionamentos de trânsito e a presença de policiais ou acidentes. O Google também nos poupa de perguntar na banca mais próxima onde fica aquela agência bancária. Não é mais necessário comprar jornais e revistas. Podemos ler tudo pelo smartphone. Cigarros, até mesmo os cigarros, podem ser adquiridos por um simples toque de tela no seu celular. E fumar, um ato mundialmente conhecido como solitário, ganha mais independência com a adesão popular do objeto eletrônico. Palavra do ano de 2014. Além de ser menos danoso a saúde, o cigarro eletrônico é self-suficiente. Com ele, não é mais preciso pedir ao colega do lado o isqueiro emprestado.