Concurso da Câmara: uma novela previsível
Alexandre Bastos 30/10/2014 12:22

Em janeiro de 2013 publiquei um artigo na Folha intitulado “Quem quer anular o concurso da Câmara?” (aqui). Na ocasião, comentei que, em política, o mais importante não é o que dizem. As verdades estão cuidadosamente escondidas entre palavras, atitudes, gestos e, principalmente, silêncios. Afirmei que toda polêmica envolvendo a gestão passada e a atual ia muito além de supostos “erros grosseiros” e  troca de farpas entre adversários que eram aliados e aliados que se transformaram em adversários.

No artigo de 2013 previ duas jogadas do tabuleiro político: “O grupo governista vai apontar falhas do ex-presidente da Câmara de Campos, Nelson Nahim, com o seguinte objetivo: anular o concurso realizado durante a gestão dele. Mas o que ganharia o grupo de Garotinho com a anulação do concurso? Para eles, seria uma forma de atingir dois alvos com apenas um disparo. Além de desgastar Nahim, a ideia é barrar a entrada do advogado José Paes Neto, que passou em primeiro lugar. Para quem não se lembra, José Paes é o autor da ação popular que barrou as terceirizações do Reda em agosto do ano passado. Na época, o governo municipal, através de nota oficial e de manifestações individuais de seus membros – inclusive de Garotinho, proferiu uma série de ataques ao advogado. Agora, alguns meses depois, é hora de mostrar quem tem o poder nas mãos”.

Jogadas de 2013 — Sem conseguir anular o Concurso, as peças foram posicionadas da seguinte forma: O vereador Thiago Virgílio (PTC) iniciou uma investigação da gestão de Nahim e a Câmara, presidida por Edson Batista (PTB), desclassificou José Paes Neto (1º colocado), com a alegação de que ele não entregou todos os documentos solicitados.

Jogada de 2014 - Para demonstrar que não estava "dormindo", a Câmara criou em janeiro deste ano (aqui) um Grupo de Trabalho para apurar a situação dos aprovados que foram desclassificados do concurso da Casa. Muitos meses se passaram e a novela foi se arrastando com capítulos repetitivos. Os governistas que dominavam o grupo decidiram, mais uma vez, que a culpa era dos concursados e da gestão passada. Já a oposição, que também fazia parte do Grupo, com os vereadores Fred Machado (SDD) e Rafael Diniz (PPS), protestou contra os velhos argumentos e cobrou mais transparência.

Fim do jogo? - Em seu blog (aqui), o advogado José Paes Neto informa que no próximo dia 05 de novembro termina a validade do concurso público. Até o presente momento, nenhum dos 29 candidatos aprovados foi convocado para tomar posse, apesar de inúmeras decisões judiciais determinando a nomeação.  "A comissão criada para apurar os eventuais e inexistentes problemas do concurso até hoje, apesar do fim do prazo inicialmente concedido, não apresentou relatório conclusivo. Apenas os vereadores Rafael Diniz e Fred Machado, para cumprimento das suas atribuições, apresentaram relatório paralelo, apontando a inexistência de empecilhos para convocação dos aprovados. Nos próximos dias, a Câmara inaugurará sua escola de gestão. Diante disso, indaga-se: Quem serão os servidores que atuarão nesse novo órgão?" indagou José Paes.

Oposição protesta e presidente tenta se explicar - Durante a sessão de ontem (29)  o vereador Rafael Diniz (PPS) voltou a cobrar uma posição sobre os aprovados do concurso da Câmara. “São muitas perguntas e poucas respostas. Os concursados merecem respeito”, disse Rafael, que ouviu o presidente da Câmara, Edson Batista, colocar a culpa na “gestão passada” e na "ausência de exames e documentos". A explicação não convenceu. “Respeito o presidente, mas essa Câmara já teve quase dois anos para convocar e não convocou. Além disso, os exames só poderiam ser feitos se os aprovados fossem convocados. Sobre os documentos, eles possuem comprovantes garantindo que entregaram”, completou Rafael Diniz.

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