Debate começa com propostas e termina com troca de farpas entre Pezão e Crivella
Alexandre Bastos 23/10/2014 22:46

Apesar de terem firmado um pacto para evitar ofensas e ataques pessoais, os candidatos ao governo do Rio protagonizaram cenas bélicas, no último debate das eleições, exibido nesta quinta-feira (23) na Rede Globo. Um primeiro bloco mais ameno, em que a gestão do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e de se seu antecessor, Sérgio Cabral (PMDB), foi todo o tempo questionada por Marcelo Crivella (PRB), foi sucedido por outro, repleto de troca de acusações e de ofensas. O clima azedou quando Pezão chamou Crivella de mentiroso. Se referia a dados citados pelo senador sobre gastos de Saneamento no estado. O candidato do PRB dissera que os gastos do governo Cabral com Saneamento (R$ 330 milhões) era quase equivalente a verba para publicidade (R$ 309 milhões), em 2013. "O convívio com Garotinho está muito ruim. Você esta mentindo igual a ele", disse Pezão, questionando o dado apresentado por Crivella, e associando-o ao ex-governador Anthony Garotinho (PR), adversário de ambos no primeiro turno, e, agora, aliado do senador.

Pacto durou pouco - Crivella voltou a citar o encontro entre secretários do governo Cabral e empresários, em Paris, onde foram fotografados em uma comemoração, usando guardanapos na cabeça. O senador fora perguntado sobre segurança, quando atacou: "A questão da segurança depende muito de um governador não estar em escândalos, de um governador não ir fazer dança na boca da garrafa ou com guardanapo na cabeça em Paris, se promiscuindo com empresários. Porque se não, você não tem moral. A Polícia Militar, parte expressiva dela, virou milícia. Vocês perderam o controle. Precisamos mudar a política que está aí. A mudança é tirar o PMDB", disse Crivella.

"Você (Crivella) é testa de ferro do Edir Macedo" - Pezão reagiu, usando a estratégia central de sua campanha no segundo turno: associar Crivella ao fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, bispo Edir Macedo: "Perguntei sobre segurança e você veio com ataques. No meu governo, mando eu. O espelho da corporação vai ser eu. Você quer botar o bispo Macedo, de quem você é testa de ferro. Você falou de tudo, menos de segurança. A tropa vai ser meu espelho. Aqui não vai ter Edir Macedo nem testa de ferro, que você é", disse o governador.

Clima bélico - Daí para frente, o clima do debate, dividido em três blocos, se tornou bélico. Crivella devolveu, em tom jocoso, com uma acusação: "Pezão, infelizmente você perdeu o juízo. Você não quer discutir política com corrupção, porque sabe que você faz parte de um governo corrupto. E quer misturar com religião. Se sou testa de ferro do Macedo, se ele tem tanto poder, porque que não botou dinheiro na minha campanha? Por que eu tive que andar e dirigir sozinho na minha campanha? Por que minha campanha foi tão sem recurso, por que eu não tive dinheiro para comprar 17 partidos, dar estrutura a eles, como fez o Pezão?", indagou Crivella.

Casas da família Crivella nos Eua - O governador fez ataques ainda mais diretos, ao falar dos imóveis da família do senador no exterior (sua mulher, Sylvia Crivella, tem dois apartamentos em Miami, nos Estados Unidos), e de supostas contas em paraísos fiscais. Pezão sustentou que, como engenheiro da Emop, ele não teria renda para ter as supostas contas e para ter comprado um canal de TV. Na época, Crivella ainda não era senador. "É importante você me respeitar, porque tenho 32 anos de vida pública e sou ficha limpa, como você. Você que tem que explicar por que você tinha contas e empresas em paraísos fiscais. Explicar como comprou um canal de TV com o salário da Emop", disse Pezão.

O senador sustentou que a investigação em torno da empresa fora arquivado, segundo ele, “há mais de 25 anos”. Disse ainda que Pezão teria sido citado na operação Lava-Jato, que investiga escândalos na Petrobras. "Imagine eleger um governador e amanhã ou depois ter problemas na Polícia Federal, com contas descobertas no exterior. Você que está pregando o ódio, você que começou neste debate me chamando de mentiroso", acusou Crivella.

Ao citar as casas da família do adversário no exterior, o governador afirmou que tem apenas uma conta bancária. E pediu novamente explicações ao senador: "Você que tem que explicar porque não está na sua declaração do Imposto de Renda o empréstimo que você pegou no Banco do Brasil para comprar residências no exterior. Você representa a organização Universal. É um perigo para este estado ter os programas sociais e as verbas todas no controle do bispo Macedo, que você representa", disse Pezão.

Em resposta à pergunta de Pezão sobre transporte público, Crivella disse que, caso eleito, vai tirar das agências reguladoras indicações de políticos. Crivella voltou a dizer que há influência “enorme” dos empresários na classe política. Crivella citou o caso de coronéis do Estado Maior envolvidos em esquemas de cobrança de propina. "Parte da polícia, não toda, virou milícia".

As UPPs, principal vitrine do governo que Pezão herdou de Cabral, foram alvejadas pelo senador, logo no primeiro bloco. Ao responder a pergunta de Pezão sobre as unidades de Pacificação, Crivella atacou: "A UPP deve continuar, mas não pode sofrer por ambições eleitoreiras, pelo desespero por voto", opinou Crivella. Já Pezão prometeu continuar com a instalação e UPPs em diversos pontos do estado.

Detector de mentiras? - No terceiro bloco, dedicado às considerações finais, foi marcado por um som estridente de um alarme, que disparou disparou duas vezes no estúdio. Primeiro na volta do intervalo. E, em seguida, interrompendo as considerações finais de Pezão. Os convidados começaram a gritar, como numa torcida, e foram repreendidos pela apresentadora. Nas redes sociais alguns gaiatos afirmaram que se tratava de um detector de mentiras.

Fonte: O Globo 

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