Em debate morno, Dilma e Aécio citam Petrobras, corrupção e inflação
Alexandre Bastos 20/10/2014 00:35

Deixando o embate de lado e focando mais no debate de ideias, os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PMDB) se enfrentaram neste domingo (19) pela terceira vez no segundo turno, desta vez no debate da Rede Record. O primeiro bloco, com oito perguntas direitas, foi tomado por questões propositivas. A corrupção só veio à tona na referência ao escândalo da Petrobras. Aécio trouxe para a pauta o reconhecimento de Dilma, feito na véspera, de que houve, de fato, desvios na estatal. O tucano cobrou da presidente uma posição em relação ao tesoureiro do PT José Vaccari, que é também conselheiro de Itaipu. Perguntou três vezes à presidente se ela não o puniria, visto que ele fora citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, nos depoimentos prestados depois do benefício da delação premiada. Aécio deu a entender que Vaccari já ocupava o cargo quando Dilma era ministra das Minas e Energia. "Cobrei nestes últimos debates uma posição em relação à Petrobras e não obtive. Quero fazer um reconhecimento de público: ontem a senhora reconheceu que houve desvios. Quando apresentamos a proposta da CPI, fomos tachados de aproveitadores eleitorais. A senhora confia no seu tesoureiro, João Vaccari Neto, que é conselheiro de Itaipu? A senhora confia nele?", perguntou Aécio.

Dilma devolveu a pergunta, com outra, deixando clara uma estratégia de associar o escândalo também a aliados de Aécio: "O senhor confia em todos aqueles que, segundo as mesmas fontes que acusam Vaccari, dizem que o ex-presidente do seu partido, lamentavelmente morto, recebeu recursos para acabar com a CPI?", disse Dilma, citando a referência feita por Paulo Roberto Costa ao ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra — Porque, da última vez que um delator denunciou pessoas do seu partido, no caso do metrô e dos trens, o senhor disse que não ia confiar na palavra de delator.

Dilma, então, disse que sabe que “há indícios de desvio de dinheiro” na Petrobras, e que deveria ser cumprimentada porque disse que ela iria investigar assim que o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal (STF) divulgasse informações e punissem os que cometeram delitos. Ela voltou a lembrar casos de corrupção nos governos tucanos: "No caso específico do seu governo (as gestões tucanas), não podem responder onde estão os corruptos da pasta rosa, da compra de votos para a reeleição, do processo Sivam, dos trens e metrôs. Todos inteiramente soltos. Eu sou a favor da punição, doa a quem doer. E sou contra engavetamentos como foram feitos", afirmou Dilma.

Ao comentar as declarações da petista, Aécio disse que teria havido “um recuo'” de Dilma em relação à declaração dada na véspera, de que houve desvios na estatal. Lembrou ainda que o delator citou o nome da senadora Gleisi Hoffman, ex-mininstra chefe da Casa Civil e seu marido, Paulo Bernardo, ministro das Comunicações. E defendeu a profissionalização da Petrobras. "A senhora não acha mais que houve desvio, mas indícios de desvios — disse o tucano, voltando a perguntar se ela confiava no tesoureiro Vaccari, e a lembrar da presença dele no conselho de Itaipu. — Na Petrobras, onde ele (Vaccari) não tinha acesso formal, dois terços (da propina) eram para ele. E em Itaipu, onde ele tem um crachá, assina documentos? Por que nestes anos todos não se tomou nenhuma providência? (A corrupção) Está acontecendo também em outras empresas? Governança foi o que faltou na Petrobras", frisou Aécio.

 "Triste é o país em que o presidente manda investigar" — Ao ouvir de Dilma que foi o governo petista que investigou, Aécio reagiu: "As instituições é que investigam. Que triste é o país em que o presidente manda investigar. Isso pode funcionar em algumas ditaduras amigas do seu governo", disse Aécio.

"Ações da Petrobras a preço de banana"- No segundo bloco, os candidatos voltaram a falar sobre a Petrobras, sem citar a corrupção, mas sobre a gestão da estatal. Aécio lembrou que, em 2010, o governo federal fez “uma grande campanha” para que o trabalhador brasileiro investisse seu fundo de garantia em ações da estatal. "Candidata, quem investiu R$ 1000, agora no fim deste governo tem apenas R$ 600. Será que é justo que tirem dele algo tão valioso?", questionou o tucano. A petista rebateu afirmando que o governo de FHC vendeu as ações da estatal a “preço de banana”. "Vocês venderam 30% da Petrobras no mercado de ações a preço de banana. Na época, a Petrobras valia R$ 15, 5 bilhões, hoje passou do patamar de R$ 100 bilhões. Vocês não tem a menor moral para falar de valor da Petrobras", rebateu Dilma, que concluiu: "Isso significa que de valor, você pode ficar descansado. Todos que investiram na Petrobras vão ganhar muito dinheiro. Vocês diziam que nós não teríamos capacidade de explorar o pré-sal. Ora, candidato, o pré-sal está explorando 500 mil barris por dia, e é algo que o Brasil levou 30 anos para extrair, agora extrai em menos de oito anos".

Bolsa Família - Ao defender o Bolsa Família, Dilma se referiu aos projetos sociais da gestão Fernando Henrique como “o seu Bolsa Família”. E, ao comparar com o programa em sua gestão, chamou de “meu Bolsa Família”. "Não faça isso com os brasileiros. O seu Bolsa Família? Não é seu", retrucou o tucano, citando o “terrorismo eleitoral’’ que a campanha adversária estaria fazendo ao afirmar que ele, caso eleito, acabaria com o Bolsa Família.  "(O Bolsa Família) É do povo brasileiro. É uma marca perversa do PT achar que os programas sociais lhe pertencem", disse Aécio.

Debate morno - A distância que a TV Record determinou entre as bancadas de Aécio e Dilma  era tudo o que os dois candidatos à Presidência da República queriam. A uma semana da votação no segundo turno, os candidatos travaram um debate morno e sem surpresas, repisando frases ensaiadas e repetidas à exaustão na propaganda eleitoral na TV. Foi tudo calculado. Depois do tenso embate no SBT, na última quinta-feira, marcado por ataques pessoais feitos por Dilma – que disse até ter passado mal depois do debate – , o duelo deste domingo não tirou nenhum dos candidatos do sério. O script, na verdade, foi o mesmo dos debates do primeiro turno: Aécio lembrou a profusão de escândalos na Petrobras, e Dilma respondeu dizendo que o PSDB planejava vender a Petrobras quando governou o país. Aécio apontou a inflação crescente, e Dilma disse que os "pessimistas" não reconhecem as conquistas sociais dos doze anos de governo do PT.

Fontes: O Globo e Veja   

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