Debate com confrontos diretos, nervosismo, humor e dobradinha
Alexandre Bastos 03/10/2014 02:03

O último debate entre os candidatos à Presidência da República antes das eleições, realizado pela TV Globo, foi eletrizante. Houve de tudo: embates diretos entre os principais presidenciáveis – Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) –, momentos de nervosismo explícito e de humor, dobradinhas entre candidatos e até um tenso confronto envolvendo nanicos.

O resultado da mais recente pesquisa feita pelo Datafolha, segundo a qual Aécio segue crescendo e empatou tecnicamente com Marina no segundo lugar, também ditou as estratégias dos candidatos: Dilma e o tucano travaram os confrontos mais explosivos. Líder nas pesquisas, a petista teve de responder várias vezes – e se enrolou devido à conhecida dificuldade com microfones – sobre os escândalos de corrupção que assolam a Petrobras. Logo na primeira resposta, após indagação da candidata Luciana Genro, do PSOL, Dilma disse: "Ninguém está acima da corrupção, todo mundo pode cometer, as instituições que devem investigar".

Nas respostas, a petista resgatou um ataque antigo, usado contra o PSDB desde 2006: se eleito, Aécio vai privatizar a Petrobras e bancos públicos. O tucano devolveu: "Faltou a senhora explicar quais foram os relevantes serviços prestados pelo diretor Paulo Roberto Costa", disse, em alusão ao delator do petrolão.

 Dilma e Aécio protagonizaram vários confrontos, muitas vezes discutindo o legado dos governos de Fernando Henrique Cardoso - presente na plateia e aplaudido ao ser citado por Aécio - e Lula. Inflação e Bolsa Família foram citados várias vezes. Ficou clara a disputa sobre a paternidade do Bolsa Família. Dilma lembrou que, em seu governo, o programa beneficia 56 milhões de pessoas, e no governo tucano eram 5 milhões. Dilma criticou a política econômica do governo tucano e a taxa de desemprego no período. Aécio afirmou que Dilma falou “uma pérola" ao dizer que a inflação está sob controle.

Dilma foi emparedada mais de uma vez pelos adversários sobre uma afirmação feita no debate anterior, da TV Record, quando disse ter demitido o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, pivô de um esquema de desvio de recursos da estatal para pagar propina a uma constelação de políticos e partidos. Segundo os documentos, Paulo Roberto renunciou ao cargo. Dilma disse que todo servidor público tem a oportunidade de abandonar o cargo antes em caso de demissão.

A dois dias das eleições – o debate começou na noite de quinta-feira, mas terminou na madrugada desta sexta –, alguns acenos também puderam ser facilmente flagrados – o que não significa nenhuma novidade em debates. O candidato do PV, Eduardo Jorge, ajudou Dilma a esfriar o debate no momento mais tenso para ela, no primeiro bloco. A petista questionou Jorge: sobre o Pronatec, programa do governo federal voltado ao ensino técnico. O debate esfriou. No segundo bloco, quando os temas foram estipulados por sorteio, Jorge deveria questionar a petista sobre corrupção, mas a pergunta foi: "O que você acha da lei que mata mulheres?". Ele falava sobre o aborto.

Dobradinha - O tucano Aécio Neves também trocou confortáveis perguntas com Pastor Everaldo, do PSC, abordando o uso político dos Correios para distribuir material de campanha do PT e barrar material do PSDB nestas eleições e a corrupção na Petrobras. Everaldo também usou suas considerações finais para lembrar que Dilma defendeu na Assembleia Geral da ONU diálogo com o grupo terrorista Estado Islâmico (EI), responsável por decapitar civis no Oriente Médio.

A candidata Marina Silva apostou em duas táticas: inicialmente, lançou a promessa de pagar 13º salário aos beneficiários do programa Bolsa Família. Depois, tentou chamar Dilma para o confronto: "Você não cumpriu seus compromissos de campanha e a corrupção foi varrida para debaixo do tapete. Você tem o projeto contra corrupção, mas não regulamentou. Houve uma ‘demissão premiada’ no caso da Petrobras?". Dilma devolveu: "Vamos colocar os pingos nos is. O diretor nomeado por você no Ibama foi afastado no meu governo por crime de desvio de recursos. E eu não saí por aí dizendo que você sabia disso. Esse diretor nós investigamos e prendemos", afirmou, em referência ao período em que as duas eram ministras do governo Lula.

Com as eleições nos estados encaminhadas, Aécio aproveitou para citar nominalmente o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), favorito à reeleição no primeiro turno no maior colégio eleitoral do país, e o seu candidato ao governo mineiro, Pimenta da Veiga (PSDB), que corre o risco de perder a eleição para PT já no domingo.

Nanicos – Eduardo Jorge e Luciana Genro aproveitaram o debate para fuzilar o folclórico Levy Fidelix (PRTB), conhecido candidato do Aerotrem, sobre a fala homofóbica no debate da Record, quando ligou homossexualidade a pedofilia. Jorge e Luciana sugeriram que Fidelix "pedisse perdão" pelas declarações neste debate. "Você só falou o que falou porque não há lei que torne homofobia crime. Você deveria sair daquele debate algemado, direto para cadeia", disse a candidata do PSOL. "O senhor envergonhou o Brasil", afirmou Jorge. Fidelix se defendeu dizendo que os rivais "fazem apologia às drogas" e ao aborto. Mas sobraram provocações, dedo em riste e tensão. Nas redes sociais, os duelos envolvendo Levy bombaram. Para se ter uma ideia, Levy Fidelix teve mais citações nas redes sociais do que a presidente Dilma. A maior parte repudiando as declarações do candidato.

Com informações da Veja, O Globo e G1

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