Lindberg: ?Garotinho não tem moral para atacar ninguém?
21/09/2014 11:09

Arnaldo Neto e Dora Paula Paes
Foto: Héllen Souza

O candidato do PT ao Governo do Estado, Lindberg Farias, dá sinais de que está seguindo a risca a orientação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — seu padrinho político — para tirar o candidato do PR, Anthony Garotinho, do segundo turno. Há 10 dias, Lula esteve com Lindberg, em São Paulo, e apontou o caminho: aproveitar “a onda de voto útil contra Garotinho”. O petista acredita que haverá uma segunda onda que poderá beneficiar sua candidatura, levando-o para o segundo turno com o candidato do PMDB, Luiz Fernando Pezão. Ainda na entrevista à Folha da Manhã, o petista não deixou de fazer críticas aos dois principais adversários que despontam nas intenções de voto, destacando que “um representa o retrocesso e outro lidera um governo desgastado que se afastou da população”. O candidato do PRB, Marcelo Crivella, foi o único que ficou de fora das críticas.

Ao comentar a aliança no Rio entre o PT e o PSB, destacou ter ficado muito abalado com a morte de Eduardo Campos — candidato à Presidência pelo PSB, vítima de acidente aéreo. Diz que seu aliado socialista no Rio, o candidato ao Senado Romário, é um amigo de lutas. Mas, quando perguntado se seu apoio para presidente da República vai para Dilma Rousseff (PT) ou Marina Silva (PSB) ele é taxativo: “É claro que sou Dilma”.

Quanto ao seu programa de governo, Lindberg destaca ações em áreas, que segundo ele, merecem mais atenção por parte dos governantes como segurança, saúde e educação. Sobre a questão do rio Paraíba do Sul, ameaçado de sofrer uma transposição por São Paulo, disse que não vai permitir medidas que prejudiquem o abastecimento da população.  

Folha da Manhã — A candidatura do senhor foi lançada no dia 26 de junho em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, com a principal notícia sendo a confusão entre militantes e políticos com fiscais do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ). Nesta reta final, a confusão no dia da homologação se transformou em uma ação com pedido de inelegibilidade até 2022 que partiu da Procuradoria Regional Eleitoral (PRE). Foi uma surpresa?

Lindberg Farias — Essa ação não tem fundamento jurídico e espero que o mesmo tratamento, que é dado à minha candidatura, seja dado aos outros candidatos. Há gravíssimas denúncias, já constatadas pela Justiça Eleitoral, de abuso de poder, uso da máquina pública e compra de votos praticadas pelos candidatos Anthony Garotinho e Luiz Fernando Pezão. Todas essas denúncias, inclusive, já foram comunicadas formalmente ao Ministério Público Eleitoral, cuja atuação respeito. Realizamos uma simples e regular convenção partidária, idêntica às realizadas pelos outros partidos que participam do processo eleitoral no Rio e em todo o Brasil. Foi um ato democrático, em ambiente fechado, respeitando todas as formalidades legais. Tanto que a convenção foi homologada pelo Tribunal Regional Eleitoral.

Folha — Dessa ação da PRE, o candidato ao Senado pela coligação, Romário (PSB), que estava na festa, ficou de fora. O que se diz é que o socialista está de fora da sua campanha. A real parceria do PT com o PSB no Rio foi só uma composição para aumentar o tempo da propaganda eleitoral na TV?

Lindberg — Romário é meu parceiro de chapa e estamos juntos neste projeto por mudanças, pela renovação da política no Rio. A população não merece ser governada por um grupo político predatório que domina a administração estadual há quase 16 anos. Estamos exaustos desta mesmice, dos métodos clientelistas. Nossa parceria com o PSB vem reforçar esse objetivo, de trazer sangue novo, de dar equilíbrio nos investimentos e combater a desigualdade social que maltrata o Estado do Rio. Quero destacar, aqui, a minha amizade com Eduardo Campos e enfatizar sua determinação e firmeza por um Brasil melhor, mais justo e igual. Sua morte prematura me abalou muito. Vale lembrar que minha parceria com Romário não é de agora. Estamos juntos no Congresso, defendendo causas comuns, entre elas a melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência. Uma luta que nos uniu ainda mais.
 
Folha — O ex-presidente Lula foi quem apostou e brigou pela sua candidatura ao Governo do Rio. O ato em defesa do pré-sal, com a participação do ex-presidente na última segunda-feira, foi marcado por confusão entre sindicalistas e militantes, com muitas críticas à sua participação. Para sua candidatura, apostar nessa agenda com Lula foi uma decisão acertada? O senhor espera uma nova oportunidade para pedir voto junto com o ex-presidente, onde não ocorra saia justa?

Lindberg — Pelo contrário, foi um ato emblemático, expressivo, que contou com milhares de pessoas e teve excelente repercussão. Só fortaleceu nossa posição em favor do pré-sal. Fui um dos parlamentares que mais lutou pela manutenção dos direitos adquiridos pelos estados produtores de petróleo, durante a votação do veto presidencial à lei que redistribui os royalties do petróleo. Antes do evento, encontrei com Lula na Cinelândia, de onde seguimos para sede da companhia. Sou muito próximo de Lula, que tem um papel muito grande na minha trajetória política, desde o período em que fui líder estudantil. A partir daí, estivemos juntos em todas as lutas pela democracia e pelo combate das desigualdades sociais. Lula sempre me inspirou. É um grande exemplo. Para mim, ser seu aliado e contar com sua presença e participação na minha campanha é uma honra.

Folha — A composição PT-PSB foi costurada pelo Eduardo Campos. Com a morte do presidenciável no início de agosto, Marina ascendeu, mas ela sempre rejeitou essa aliança no Rio, como em São Paulo também. Afinal de contas, Lindberg é Marina ou Lindberg é Dilma?

Lindberg — Essa pergunta não faz sentido. É claro que sou Dilma. A despeito da aliança que fizemos com o PSB no Rio, ela é a minha candidata à Presidência da República. Isso ficou estabelecido desde o início da discussão com o PSB e, depois, na formalização da nossa parceria. Sempre tive uma relação ótima com Marina Silva, de muito respeito. Inclusive, fui um dos sete senadores a acompanhar sua posição na votação do Código Florestal. Mas isso não interfere no meu voto e no apoio à candidatura de Dilma.
 
Folha — A estratégia da presidente Dilma Rousseff de estar em todos os palanques no estado o agrada como petista? Dilma já tinha participado da campanha de Pezão (PMDB) e Garotinho (PR). Seus números nas pesquisas poderiam ser outros se ela tivesse colocado sua campanha em primeiro lugar?

Lindberg — A situação eleitoral no Rio é muito diferente da de outros estados. Aqui a candidatura de Dilma tem o apoio dos quatro principais candidatos a governador. É natural que ela participe de atos de campanha com cada um desses candidatos. Para mim, não há nenhum problema nisso.
 
Folha — Primeiro era Lindberg sem o H no final do nome, depois com o H e, agora, sem, outra vez. Essa história do H surgiu como? Foi pura superstição? O que levou a essas mudanças? Foram elas também que resultaram na troca de todo o seu pessoal do marketing?

Lindberg — Meu nome é o mesmo do meu pai: Lindbergh com o H. Mas, em todas as campanhas eu sempre usei sem a letra H para facilitar a vida do eleitor. Não tem nenhuma superstição. Quanto ao marketing da campanha, essa informação é incorreta. Não houve nenhuma mudança de pessoal.  

Folha — O senhor responde a seis inquéritos na Justiça. Todos têm relação com a sua gestão como prefeito de Nova Iguaçu. Entretanto, se apresenta como candidato ficha limpa e com propostas de uma “nova política” para o Rio de Janeiro. Não existem denúncias demais para um candidato que se apresenta como proposta de novidade?

Lindberg — Ao contrário de meus principais adversários, não tenho nenhuma condenação. Não há no Supremo Tribunal Federal nem mesmo ação penal recebida contra mim. Todos os inquéritos levados a julgamento no Supremo, no total de dez, foram considerados improcedentes e acabaram arquivados. Em vários casos, com o apoio do procurador-geral da República. E tenho a convicção de que os inquéritos ainda em tramitação também serão arquivados. Agora, os meus dois principais concorrentes, Garotinho e Pezão, já foram condenados. Pezão foi condenado em compra de ambulâncias superfaturadas e Garotinho foi condenado por formação de quadrilha junto com o ex-secretário de Segurança Álvaro Lins.
 
Folha — Seus adversários políticos sempre batem na tecla de que o senhor tem fama de não cumprir acordos políticos. O também candidato Garotinho, no início do ano, chegou a expor no seu blog, um episódio envolvendo o senhor e o Godofredo Pinto, ex-prefeito de Niterói, que iria apoiar a candidatura de Marcelo Crivella (PRB), alegando que o senhor o teria preterido como seu suplente ao Senado. Esse Lindberg pintado pelos adversários existe?

Lindberg — Isso é um absurdo. Dar espaço a acusações como essas, vindas de um personagem como Garotinho é desrespeitar a mim e ao eleitor. Garotinho não tem autoridade moral para atacar ninguém. Me espanta que vocês levem isso a sério.
 
Folha — No final de janeiro deste ano o PT, ou parte dele, desembarcou do governo Sérgio Cabral (PMDB) visando à eleição de outubro. Um exemplo é o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, que sempre marcou sua posição de apoiar Pezão. O partido continua dividido? Existe hoje uma pontinha de remorso por ter deixado o governo para tentar candidatura própria?

Lindberg — Quem acompanha a política sabe que eu vinha defendendo há muito tempo a saída do PT do governo estadual. Não foi uma coisa de agora. O governo Cabral/Pezão se perdeu no segundo mandato, não cumpriu os compromissos assumidos e errou nas prioridades. Foi por isso que o PT, numa decisão absolutamente legítima, decidiu lançar a minha candidatura, na luta por um caminho novo para a política do Estado do Rio de Janeiro. Isso é natural na democracia.  
 
Folha — Em 2006, quando o senhor era candidato a prefeito de Nova Iguaçu, afirmou que “a era Garotinho no Estado do Rio pode terminar a partir de Nova Iguaçu”. Em setembro de 2013, na Folha Online, o senhor voltou a provocar dizendo que seu objetivo “não é só ganhar o Governo do Estado em 2014; é ganhar do Garotinho dentro da sua própria casa”. Wladimir, filho de Garotinho, devolveu o desafio: ‘Garotinho vai ganhar de Lindberg em Nova Iguaçu’ em 2014. E desses desafios, quem sairá vencedor?

Lindberg — Não tenho nenhuma dúvida de que serei o candidato a governador mais votado em Nova Iguaçu.

Folha — Em Campos e São João da Barra, o que espera dos candidatos Makhoul Moussallem (deputado federal) e Carla Machado (deputada estadual) nas urnas?

Lindberg — São dois ótimos candidatos que fazem muito pela região. Tenho certeza de que serão eleitos e poderão contribuir para a mudança de rumo que a sociedade exige.
 
Folha — Também em entrevista à Folha, em junho de 2013, o senhor foi farto em elogios aos correligionários de Campos Makhoul Moussallem e vereador Marcão Gomes, mas, na ocasião, apontou alguém de fora do PT, como a nova liderança regional: Dr. Aluízio, do PV, prefeito de Macaé. Um ano depois, ele optou por coordenar a campanha do governador Pezão na região, mesmo sendo do partido que integra a sua coligação. Qual sua opinião sobre Aluízio?

Lindberg — Cabe ao prefeito falar de seus atos e decisões políticas.

Folha — Durante encontro no sábado (12/09) com moradores das comunidades Rocinha e Vidigal, o candidato ouviu moradores sobre o atual modelo de segurança e a política adotada com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). No seu governo pretende manter o programa?

Lindberg — O que precisamos é consolidar o projeto das UPPs, que estão sob ataque. Em vez de falar em levar as UPPs para todos os lugares, é hora de dar um freio de arrumação para consolidar este projeto, que está sob ataque em algumas áreas. E eu tenho dito que só a ocupação policial nas comunidades não resolve, pois os moradores e os policiais ficam em risco. É preciso transformar cada comunidade em um território de oportunidades e investir pesado em educação integral, ensino técnico e profissionalizante, atividades culturais e esportivas. Do jeito que as UPPs foram implantadas, houve uma migração da violência para cidades de todo o Estado. Na área do 8º Batalhão da Polícia Militar, que atende Campos, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e São Fidélis, os homicídios subiram 27,08% de janeiro a agosto de 2014, em relação ao mesmo período de 2013. Os roubos de veículos mais que dobraram e os roubos totais tiveram alta de 26,62%. É preciso reforçar os batalhões da PM com novos policiais que estão sendo admitidos na corporação. Com os batalhões reforçados, será retomado o policiamento nos bairros e nas cidades, levando segurança para todos.
 
Folha — Na área da Saúde, o senhor vem destacando que a maior dificuldade da população do Rio de Janeiro é marcar consultas com médicos especialistas e realizar exames. Qual a fórmula apresentada no seu programa de governo para solucionar esses problemas na rede pública?

Lindberg — Este é realmente o maior problema. Serão contratados médicos especialistas, para que tenhamos pediatras, ortopedistas, cardiologistas e tantos outros no sistema de saúde do Estado. Será garantida, com a oferta de salários maiores, a presença dos médicos nas unidades que já existem, especialmente no interior. E vamos colocar médicos também nas policlínicas que vamos implantar em todo o estado. Não vamos construir nada, vamos aproveitar os prédios já existentes. Nas policlínicas, o cidadão poderá fazer consulta com o médico especialista, fazer exames e pequenas cirurgias. Tudo no mesmo lugar. A precariedade da saúde é mais um exemplo da má gestão do governo Cabral e agora do Pezão que só deteriorou os serviços públicos.
 
Folha — Na Educação, o Estado do Rio foi aprovado pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), passando da 15ª para a 4ª colocação. Isso é um feito do atual governo, no qual o PT também esteve presente. O que ainda precisa ser feito? Qual sua principal proposta?

Lindberg — Nós precisamos colocar a educação em primeiro lugar. Este resultado é só uma parte. Em todo o Estado do Rio temos, hoje, cerca de 30% dos jovens de 18 a 24 anos sem trabalhar nem estudar. Precisamos dar uma nova perspectiva aos jovens e essa perspectiva é a educação. Vamos implantar os Cieps do Século 21, com educação integral e ensino técnico e profissionalizante, reforço escolar, atividades esportivas e corporais e atividades culturais. Será um ambiente de alta tecnologia com internet livre para ser utilizada como ferramenta do aprendizado e da criação. O Ciep será um espaço comunitário de estudantes, seus pais e responsáveis, profissionais da educação e moradores. E também vamos criar o Via Certa, uma agência de primeiro emprego, para ajudar o jovem a conseguir o emprego que ele deseja. A valorização dos professores também é essencial na criação desse novo tempo na Educação do Estado do Rio de Janeiro. Será implantado de forma participativa, e com a colaboração de consultores especializados, um plano de carreira para os profissionais da educação. Serão valorizadas a formação docente, a experiência escolar e a carga horária desses profissionais.
 
Folha — Ainda na questão do Ideb, Campos e Nova Iguaçu ficaram empatadas no antepenúltimo lugar, na avaliação do primeiro segmento do ensino fundamental. Essas cidades são fundamentais nesta corrida ao Governo do Estado, afinal, são redutos eleitorais de dois candidatos: o senhor e Garotinho. Como reverter esses números de Campos e Nova Iguaçu no governo do Rio?

Lindberg — Olha, temos que investir em educação integral para os jovens. Campos é a cidade que mais recebe royalties do petróleo, mas estava em último no Ideb anterior e continua em posição muito ruim. Já em Nova Iguaçu, a nota de 2013 foi a primeira que mostrou recuo, retornando ao mesmo nível de 2007. E lá a administração atual é do PMDB, do partido do Pezão. Eu assumi em 2005 e em 2007 e 2009, no meu governo, a nota do Ideb cresceu e ficou, inclusive, acima da meta em 2007 e dentro da meta em 2011. Eu saí em 2010, mas o Ideb de 2011 ainda mostrou crescimento. Em Nova Iguaçu nós fizemos um programa que foi premiado pelo Banco do Brasil, pela Caixa Econômica e pela Unesco, entre outros prêmios, que foi o Bairro-Escola. O programa oferecia educação integral e envolvia toda a sociedade, porque muitas atividades aconteciam em clubes, associações, igrejas, que viraram parceiras da Prefeitura na educação, cedendo seus espaços. Além disso, implantamos na cidade o melhor plano de cargos e salários do Estado na época, valorizando o professor.
 
Folha — Está no seu plano de governo criar o 13º salário do programa federal Bolsa Família no Rio, no qual o senhor fala em beneficiar mais de 800 mil famílias. Esse projeto foi a forma encontrada para ligar sua candidatura à política nacional do PT?

Lindberg — Não, de forma alguma. Eu já sou do PT, do partido do presidente Lula e da presidenta Dilma. Essa proposta é uma forma de ajudar, ainda mais, as pessoas que mais precisam. E esse benefício já existe em outras regiões do país. Para receber essa parcela, a família vai precisar ter pelo menos uma pessoa matriculada em curso técnico profissionalizante oferecido pelo estado e uma pessoa inscrita na Agência do Primeiro Emprego, que vamos criar. Essa nova parcela, paga pelo Governo do Estado, será um complemento ao Bolsa Família, um décimo-terceiro salário. No Rio, as famílias que participam do programa recebem R$ 160. Com essa parcela, o custo do Estado será de R$ 135 milhões. E, vinculado ao décimo-terceiro do programa Renda Melhor, de R$ 15 milhões, o valor total será de R$ 150 milhões. O Bolsa Família tem melhorado a vida de muitos brasileiros. Segundo os dados do Governo Federal, são 36 milhões de pessoas que saíram da pobreza extrema e 40 milhões que ascenderam à classe média. Os resultados positivos são visíveis. Apenas no Rio de Janeiro, 844 mil pessoas estão cadastradas e saíram da condição de pobreza extrema.

Folha — No seu programa de governo, há um capítulo intitulado “O Desafio das Águas”. O rio Paraíba do Sul só é citado uma vez, para justificar a reativação de reservatórios como alternativa de abastecimento, caso o Paraíba sofra crise de contaminação. Entretanto, não fala sobre o risco de o Paraíba do Sul sofrer uma nova transposição em projeto do governo de São Paulo. O que pretende fazer nessa questão?

Lindberg — Serei intransigente na defesa dos interesses da população do estado. Não vou permitir nenhuma medida que prejudique o abastecimento à população e a economia fluminense. Por isso, cobro mais energia do governo do Rio na defesa dos interesses do povo e do estado.
 
Folha — O jovem Lindberg Farias despontou no cenário nacional aos 22 anos, como presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), quando foi um dos principais líderes do movimento estudantil dos caras-pintadas, contra o então presidente Collor. Anos depois, o senhor faria parte do PT, que se envolveu no Mensalão, um dos maiores escândalos de corrupção do país. O senhor mudou a forma de pensar com relação à corrupção no governo apoiado no Senado por Collor? Qual a diferença entre o líder estudantil e o político Lindberg?

Lindberg — Hoje tenho 44 anos e me sinto preparado para governar o Estado do Rio. De lá para cá, fui deputado, prefeito de Nova Iguaçu. Fui o senador mais votado da história do Rio de Janeiro. Amadureci com essa experiência. Mas continuo intolerante com a corrupção. Quem comete erros precisa pagar por eles. O Collor representa o que tem de pior na política brasileira e quero deixar claro que, lá em Alagoas, estou apoiando a candidatura de Heloísa Helena, que disputa contra ele. Cheguei até a gravar declaração de apoio para ela exibir na TV.
 
Folha — O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, em 2013, chegou a apostar no seu nome como “pule de 10” para 2014. O que ocorreu de lá para cá? É possível reverter?

Lindberg — A campanha ainda não acabou e a eleição não está definida. Num primeiro momento, houve uma onda de voto útil contra Garotinho e quem se beneficiou disso foi Pezão. Acredito que, nos próximos dias, haverá uma segunda onda de voto útil que pode me beneficiar. Garotinho está caindo nas pesquisas e não tem força para enfrentar Pezão. Tenho condições de crescer e tirar Garotinho do segundo turno. É difícil imaginar que o Rio caminhe para um segundo turno entre Garotinho, que representa um retrocesso, e Pezão, que comanda um governo desgastado e que se distanciou da população.   
 
Folha — Antes do início da campanha oficial ao Governo do Rio, o senhor disse que contaria com a desistência e o apoio político do colega de Senado Marcello Crivella. Isso não aconteceu e, atualmente, vocês aparecem fora do segundo turno nas pesquisas. Em suas aparições públicas, o senhor costuma dirigir críticas ferrenhas ao ex-governador Garotinho e ao atual, Pezão. Em um debate na TV, o senhor pediu votos para Crivella. Seria uma forma de já “jogar a toalha” na sua candidatura e declarar apoio ao colega de Senado?

Lindberg — De jeito nenhum. Respeito muito Crivella, que é um homem público correto e um senador que trabalha muito. Mas minha luta é para ir para o segundo turno.  
 
Folha — O Datafolha mostrou no dia 10 de setembro que a maioria do seu eleitorado no primeiro turno tende a votar em Pezão no segundo. Caso o senhor não chegue ao segundo turno, seguirá essa tendência?

Lindberg — Como eu já disse, minha luta é para ir para ao segundo turno.
 
Folha — O PT nunca conseguiu eleger um governador do Rio de Janeiro. Nesses últimos 20 anos, a única vez que o PT esteve no poder foi com Benedita da Silva, que ascendeu de vice, com a saída de Garotinho para ser candidato a presidente. Entretanto, quando se lançou candidata, Benedita perdeu para Rosinha Garotinho no primeiro turno. Por que os candidatos petistas não emplacam no Rio?

Lindberg — O PT tem agora a oportunidade de chegar ao segundo turno e vencer as eleições no Rio. Desta vez, há uma frente de forças progressistas que têm vinculação histórica e uma visão parecida do Estado. O Rio sempre esteve à frente dos movimentos do país, tem uma juventude muito ativa, uma classe média progressista. Não pode se conformar com um segundo turno entre um candidato que representa o retrocesso e outro que lidera um governo desgastado que se afastou da população. Pezão é refém do mesmo grupo político (PMDB) que sustentou Cabral. Sem contar que Pezão foi o braço direito de Garotinho e, em seguida, secretário de Governo de Rosinha.
 
Folha — Caso não seja eleito governador, terá quatro anos de mandato no Senado. O que esperar de Lindberg nesses próximos anos e quais as principais bandeiras serão defendidas?

Lindberg — Minha luta, no momento, é para chegar ao segundo turno e vencer as eleições.
 
Folha — Em 2010, ao lado de Sérgio Cabral, Pezão, Eduardo Paes, Picciani e Dornelles, o senhor afirmou: “Política tem fila. E essa grande liderança (Pezão) vai ser governador do Estado do Rio”. O que aconteceu desde então, para agora, em 2014, lançar candidatura própria? O fato de Eduardo Paes “estar na fila” para 2018 influenciou nesta decisão? Não sendo eleito neste momento, desiste do Palácio Guanabara?

Lindberg — O fato é que o governo do PMDB se perdeu e não atendeu as expectativas, virou as costas para a maioria da população e inverteu as prioridades. Estão aí o déficit financeiro, as desigualdades regionais, a precariedade dos serviços públicos, a falta de água, a migração da violência para o interior do estado, Baixada e região metropolitana, e tantos outros fatores que nos levaram ao afastamento do governo.

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