Crivella: ?Estamos no 2º turno?
14/09/2014 11:09

Alexandre Bastos e Mário Sérgio Júnior
Foto: Divulgação 

O senador Marcelo Crivella (PRB), que, de acordo com as últimas pesquisas Ibope e Datafolha, foi ultrapassado pelo governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), ainda não entregou os pontos. Em entrevista à Folha, o candidato ao governo do Estado garantiu que estará no segundo turno ao lado do atual governador. Deixando claro que existe uma sintonia com o senador Lindberg Farias, ele poupou o candidato petista e disparou diversas vezes contra Pezão e o deputado federal Anthony Garotinho (PR). Segundo Crivella, “o eleitor vai escolher o melhor, e não o que tem mais dinheiro ou o que manipula a pobreza com política de um real”. Apontando o atual momento do estado como de “crise” e o ex-governador Anthony Garotinho como “retrocesso”, Crivella respondeu sobre assuntos polêmicos, se esquivou de alguns temas e prometeu proteger o rio Paraíba do Sul: “O Paraíba do Sul é o sangue do Rio. Vamos protegê-lo com o peso da legitimidade que o povo nos dará, espero, nas próximas eleições”, disse. Sobre suas posições em relação aos homossexuais, o bispo da Igreja Universal garantiu: “No meu governo não haverá qualquer tipo de discriminação, seja de religião, orientação sexual, classe social ou de opinião (...). Durante toda a minha trajetória no Senado e no ministério, eu nunca misturei política com religião”, afirmou.

Indagado sobre o seu aproveitamento no pleito de 2006, quando apareceu em segundo lugar durante toda a eleição e foi ultrapassado na reta final por Denise Frossard, ficando fora do segundo turno contra Sergio Cabral (PMDB), Crivella garantiu que a história em 2014 será diferente. “Amadurecemos muito nesse período. E a população também amadureceu”, disse.

Folha da Manhã – Em recente entrevista o deputado federal Anthony Garotinho (PR) afirmou que o ministério da Pesca, sob o comando do senhor, liberou R$ 4,5 milhões para a Bahia Pesca, que por sua vez repassou boa parte da verba para a ONG Fazenda Nova Canaã, fundada pelo senhor e pelo seu tio, o bispo Edir Macedo. O que o senhor tem a dizer sobre esta situação?

Marcelo Crivella – Isso foi uma matéria publicada pela revista IstoÉ, em 2013. Uma inverdade, nunca destinei qualquer verba pública para a Fazenda Nova Canaã. Repito o que falei na época: “Não usei nenhum centavo de dinheiro público para produzir peixes na Fazenda Nova Canaã, onde há mais de 10 anos centenas de crianças pobres do sertão da Bahia estudam, se alimentam, recebem uniforme e transporte escolar gratuito. A Fazenda Nova Canaã jamais recebeu ajuda do governo. Seria até justo que ali se fizesse um projeto de aquicultura, porque se trata de uma entidade beneficente de utilidade pública municipal, estadual e federal, mas não foi feito.

Folha – Técnicos da Controladoria Geral da União (CGU) apontaram, em relatório sobre o ministério da Pesca, realizado em 2012, falta de planejamento, ausência de controle de projetos e de orçamento, e desperdício de dinheiro público. Qual é a posição do senhor sobre o relatório?

Crivella – Na verdade, no ministério da Pesca, conseguimos quase dobrar a produção pesqueira do Brasil, que era de 1 milhão e 400 mil toneladas, e foi para 2 milhões e meio. Nós gastávamos no seguro-defeso, benefício equivalente a um salário mínimo pago aos pescadores durante a reprodução das espécies, R$ 2 bilhões e economizamos 400 mil salários mínimos, por números do ministério do Trabalho. Essa é uma economia jamais vista na história do nosso país. Nós simplificamos o licenciamento ambiental. Antes era preciso de três licenças para a aquicultura, criação de peixes, hoje só precisa de uma em todo o país. E quando eu me despedi, a presidenta Dilma, que acompanhou de perto, disse: ‘O Crivella fez história no ministério da Pesca’.

Folha – Em visita ao município de Macaé e, depois, ao passar por Campos, o senhor disse que “tem candidato com a ficha mais suja do que a do Fernandinho Beira Mar”. Antes disso, em um encontro no Rio, o senhor afirmou: “Vocês vão querer eleger um homem que vai estar o tempo todo sujeito a ser apeado do governo? A Justiça é lenta, mas o processo corre. Em um desses 32 processos, ele vai perder”. O Globo identificou esse tal candidato como Garotinho. É?

Crivella – O povo do meu estado sabe quem é.

Folha – Metade da bancada federal do seu partido, o PRB, é investigada por acusações como peculato e trabalho escravo. Além disso, por conta do mensalão, o bispo Rodrigues, ex-deputado, foi condenado a seis anos e três meses de prisão em regime semiaberto no processo do Mensalão. O senhor não acha que esses episódios podem deixar o eleitor com um pé atrás em relação ao seu partido? Não são fatos como esses que fazem os eleitores perderem um pouco a fé na política e nos políticos?

Crivella – Hoje, na vida pública as pessoas são acusadas de tudo, a gente tem que ver depois dos processos tramitados e julgados. Eu sou ficha limpa, não tenho nenhuma acusação, nenhum processo, nada tramita contra mim na Justiça Eleitoral, Cível ou Criminal. Nem por isso me sinto no direito de julgar os outros, de julgar até mesmo os meus adversários que têm dezenas de processos. Não será da minha boca que vai haver qualquer tipo de pré-julgamento. Cabe à Justiça; se forem condenados, vão deixar o partido. Aliás, eu fundei o PRB junto com o José Alencar, exatamente por discordar das práticas do antigo PL.

Folha – Nas articulações para definir alianças o senhor contava com aliados que, na última hora, optaram por outros candidatos. Um caso emblemático foi o do Pros, que ficou ao lado do deputado federal Anthony Garotinho após intervenção do governo federal. Como ex-ministro e aliado da presidente Dilma Rousseff (PT), como o senhor avalia esse movimento no tabuleiro político?

Crivella – O preço que se paga por uma aliança é muito alto, por isso estou sozinho, minha aliança é só com o povo, não tenho compromisso com mais ninguém. Temos que votar pensando na lei do ficha limpa! Vou fundar um novo marco institucional ético no estado. Vou sozinho, em busca do Rio de Janeiro dos meus sonhos.

Folha – Em 2006 o senhor foi candidato ao governo do estado e apareceu na segunda colocação das pesquisas durante quase toda a eleição. Porém, na última semana antes da eleição, foi ultrapassado pela candidata Denise Frossard e acabou ficando fora do segundo turno. O senhor não vê um filme semelhante nesta eleição? O que fazer para evitar que aconteça em 2014 o que ocorreu em 2002?

Crivella – Amadurecemos muito nesse período. E a população também amadureceu. É claro que enfrentamos um poder econômico sem precedentes, o que, sem dúvida, influi nas pesquisas. Pezão declarou a intenção de gastar R$ 100 milhões na campanha. De qualquer modo estamos confiantes em que o eleitor vai escolher o melhor, e não o que tem mais dinheiro ou o que manipula a pobreza com política de R$ 1,00.

Folha – O senhor se elegeu senador em 2010, assim como o senador Lindberg Farias (PT). Agora, em 2014, ambos sentem dificuldades na campanha pelo governo estadual. Quais são as principais diferenças entre as eleições para o Legislativo e Executivo?

Crivella – Cada eleição é diferente.

Folha – A presidente Dilma Rous-seff já fez campanha com Pezão e Garotinho, sem contar o candidato próprio, Lindberg Farias. Por acaso, o senhor se sente o “patinho feio” dessa ninhada?

Crivella – De forma alguma, fui ministro da presidenta Dilma por dois anos e temos uma ótima relação.

Folha – No último debate realizado pela Rede TV, foi possível perceber o clima de troca de afagos entre o senhor e o candidato petista Lindberg Farias, que chegou a pedir votos para o senhor. Essa dobradinha é uma tentativa de reverter a diferença mostradas nas últimas pesquisas do Ibope e Datafolha?

Crivella – O Lindberg e eu somos adversários, temos nossas campanhas, mas ambos queremos governar o Rio de Janeiro. Em um possível segundo turno, podemos conversar. No entanto, nossa candidatura continua na luta para ser alternativa à crise que está aí, comandada pelo Pezão e ao retrocesso que é o Garotinho.

Folha – Críticos comentam que, para o deputado Anthony Garotinho, religião, poder financeiro e mídia são meios um fim político. Ao passo que, para a Igreja Universal, a política seria um meio para se obter poder religioso, financeiro e de mídia. Concorda ou discorda dessa análise? Por quê? Qual das opções seria mais perigosa?

Crivella – Durante toda a minha trajetória no Senado e no Ministério, eu nunca misturei política com religião.

Folha – Durante o debate da Band uma declaração do senhor sobre a maconha gerou polêmica na internet. Na ocasião o senhor disse que, na Holanda, o consumo da maconha teria contribuído para que aviões da empresa Fokker tivessem problemas. O senhor não acha que esse tipo de declaração abusa da inteligência do eleitor?

Crivella – Sou contra a descriminalização da maconha.

Folha – Em junho, o senhor chegou a declarar em um programa de televisão que “homossexualismo não é crime, mas é pecado”. Como seria governar um estado cuja capital, sem contar o consumo interno, é apontada com um dos principais destinos do turismo gay mundial?

Crivella – No meu governo não haverá qualquer tipo de discriminação, seja de religião, orientação sexual, classe social ou de opinião. Quero ser governador para ser o primeiro servidor público do estado e o Rio de Janeiro voltar a prestar serviço público de qualidade para todos os cidadãos.

Folha – De acordo com a revista Carta Capital, a Igreja Universal controla mais de 20 emissoras de televisão, 40 de rádio, gravadoras, editoras e a segunda maior rede de TV do Brasil: a Record, que tem como principal emissora adversária a rede Globo. Sendo a Universal controlada pelo seu tio, o bispo Edir Macedo, existe algum tipo de vantagem na mídia para campanha de políticos evangélicos?

Crivella – Respondo pela minha campanha. Eu conto com o apoio do povo.

Folha – Em Campos o PRB conta com o vereador Alexandre Tadeu, que foi o segundo vereador mais votado em 2012. Agora, em 2014, ele é candidato a deputado federal. O PRB aposta no vereador como um nome para disputar a Prefeitura de Campos em 2016?

Crivella – Isso é a direção do partido que decide.

Folha – De acordo com o seu projeto de governo, para a área da saúde o senhor disse que vai “reorganizar a rede de saúde estadual, desprivatizá-la e reabrir hospitais e unidades de saúde que foram fechadas no atual governo”. Atualmente, um dos projetos que tem dado certo no interior do estado é a da UPA. O senhor pretende manter esse projeto? O que fazer para aumentar o número de leitos da rede estadual de saúde?

Crivella – Vamos manter as UPAs onde deu certo. Aperfeiçoaremos um sistema que trate prioritariamente da prevenção para poder oferecer atenção curativa eficaz em níveis de complexidade crescentes, quando necessário, desde o posto de saúde até o hospital especializado. Nosso Governo vai dar fim à fila de 14 mil fluminenses que aguardam por uma cirurgia, às vezes de baixa complexidade. Para isso, serão feitos convênios com a iniciativa privada e com o governo federal. Investiremos na criação de consórcios intermunicipais para reduzir os custos e ampliar o atendimento de forma mais inteligente organizando a demanda. Nossa gestão vai reverter o processo de privatização da gestão hospitalar, que fracassou na atual gestão e priorizar a reformulação de um plano de cargos e salários pa-ra a categoria. Em face de uma saúde pública estadual falida, é nosso firme propósito exercer o papel de coordenador do SUS, integrado também pelas redes de saúde municipal e federal, a fim de tornar a saúde no Estado efetivamente universal, com qualidade adequada.

Folha – Na questão do Meio Ambiente, o senhor cita um projeto de despoluição da Baía de Guanabara. Além dessa importante hidrografia, temos também no nosso estado o rio Paraíba do Sul que corre o risco de sofrer uma nova transposição em projeto do governo de São Paulo. O que o senhor pretende fazer em prol do Paraíba do Sul?

Crivella – O Paraíba do Sul é o sangue do Rio. Vamos protegê-lo com o peso da legitimidade que o povo nos dará, espero, nas próximas eleições.

Folha – O senhor pretende manter o projeto das UPPs e ampliar para trazer mais segurança para a população e conforto aos soldados. O senhor chegou a declarar também, durante caminhada em Copacabana, que pretende “trazer policiais aposentados para que as tropas possam ir para as ruas”. Que tipo de reformulação o senhor pensa em fazer nas UPPs? E o concurso público não seria a melhor opção para aumentar o efetivo do policiamento, ao invés de resgatar policiais aposentados?

Crivella – Estou pensando em trazer policiais aposentados como medida de emergência, até que se concluam os processos de concurso público, sabidamente demorados. Quanto às UPPs, quero acabar com seu caráter precário, melhorar as instalações e dar aos policiais condições dignas de trabalho. Quanto a iniciativas políticas mais amplas, nossa ideia é complementar a UPP da segurança com a UPP dos serviços sociais oferecidos pelo Estado, a fim de conquistar definitivamente a solidariedade das comunidades com os agentes públicos que lhes servem.

Folha - O que tem a dizer sobre sua polêmica declaração, durante entrevista à TV Band, quando afirmou que “se deixar a população da Baixada, das regiões periféricas, vivendo na miséria, essas pessoas migram para vir roubar na capital onde tem a maior riqueza”? Foi uma opinião infeliz?

Crivella – No dia seguinte, a repórter da Band, Mariana Procópio, que realizou a entrevista, afirmou que a minha resposta foi mal interpretada e descontextualizada por O Globo. Ela destacou, “Acho injusto você tirar uma frase do contexto, colocar entre aspas e atribuir a ele como se fosse algo preconceituoso. Não foi”.

Folha – Na área da Educação, o seu projeto de governo ressalta a restauração de Cieps, ampliação de escolas técnicas profissionalizantes no ensino médio e estímulo para que a Uerj, a Uenf e Uezo expandem seus cursos, inclusive à distância. O senhor também prevê valorização profissional. Atualmente, o estado do Rio se encontra no 4º lugar no ranking nacional do Ideb, o que o senhor pretende fazer para conseguir avançar mais, se eleito?

Crivella – Melhoramos no Ideb, mas o Ideb mede a eficiência educacional para quem está na sala de aula. E nosso drama são os “nem nem”, os que nem estudam, nem trabalham. É para diminuir a evasão e trazer alunos de volta que pensamos no Ciep em tempo integral, assim como na difusão do ensino técnico profissionalizante. É a forma de proteger nossa juventude da droga e do crime.

Folha – Sobre habitação, o senhor pretende intensificar as parcerias com o governo federal para expansão em todo o estado do programa “Minha Casa Minha Vida”, ao mesmo tempo em que, para as áreas mais carentes da periferia metropolitana, a ampliação do alcance do programa Cimento Social. Se eleito, a intenção é construir quantas casas ao longo de seu governo?

Crivella – Evidentemente que, antes de assumir o governo e verificar sua realidade orçamentária, seria uma leviandade especificar o número de casas que vamos construir. O que podemos dizer é que: esta será uma prioridade do nosso governo. Quem fez com recursos próprios o programa “Cimento Social”, saberá mobilizar recursos públicos para ampliá-lo largamente.

Folha – O senhor disse que o orçamento do Governo do Estado está “dilapidado”. Como pretende enfrentar, no Estado, a crise econômica que para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era uma “marolinha” e para a presidente Dilma é alvo de pessimismo?

Crivela –Pretendo mobilizar a força política do Rio para colaborar com o governo federal na implementação de uma grande estratégia para o enfrentamento da crise internacional. No Rio nosso governo vai garantir a transparência e a lisura na administração pública e destinar recurso do estado para as áreas que realmente precisam de investimento.

Folha – Ainda em seu plano de governo, o senhor cita que “será implementada uma estratégia que integre as regiões das Baixadas Litorâneas com o norte do estado, notadamente Barra do Furado e Porto do Açu”. Que estratégia seria essa?

Crivella – Um grande plano que aproveite as vocações naturais dessas regiões com programas de industrialização e empreendedorismo, vinculados a programas de habitação, de forma a resolver pela raiz o problema da mobilidade, fazendo com que as populações morem junto a seus trabalhos. Em complemento a isso projetaremos os sistemas de transporte de massa. Note que a região de Betim, em Belo Horizonte, e a do ABC Paulista são áreas simultaneamente de trabalho e de residência. É isso que pretendemos construir aqui.

Folha – O senhor também pretende reduzir as secretarias em no máximo 13. Atualmente, são mais de 20 secretarias estaduais. Como pretende fazer essa transição sem deixar nenhuma área desassistida?

Crivella – Isso é o mais simples. Quando você extingue uma Secretaria não extingue necessariamente a função. A extinção da Secretaria não é medida de economia, mas de racionalidade administrativa. É para melhorar a eficiência do estado e facilitar o trabalho de equipe do governo.

Folha – Em um de seus compromissos de campanha, no centro do Rio, o senhor chegou a declarar que o candidato Luiz Fernando Pezão seria “a Rosinha de Cabral” no sentido de continuidade de ambos os grupos políticos ficaram no Governo. Na sua visão, o que diferenciou os oito anos liderados pelo casal Garotinho do tempo de Cabral e Pezão?

Crivella– Um pouco mais de demagogia de um e um excesso de negociatas do outro.

Folha – Num possível segundo turno, o senhor apoiaria o candidato Luiz Fernando Pezão ou acreditaria no apoio dele ao senhor?

Crivela – Nós estamos no segundo turno.

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