A Santa Casa
José Paes 26/09/2014 23:26

Nos últimos meses, a situação dramática vivida pela Santa Casa de Misericórdia de Campos ganhou destaque na imprensa e foi alvo de intensos debates na Câmara municipal. A interrupção de serviços historicamente ligados à instituição, como a maternidade, a demissão de médicos e a cobrança particular – dita “social” por alguns – de consultas chegaram ao conhecimento da população.

Contudo, quem acompanha mais de perto o funcionamento dessa secular instituição, sabe que esses problemas não são recentes e que a situação vivida hoje, apenas reflete anos de gestão administrativa deficiente. Na verdade, diante da relação de proximidade que possuo com a Santa Casa – meu pai é definidor grande benemérito da instituição – poderia elencar uma série de graves problemas que colocaram o hospital nessa vergonhosa situação. Contudo, me reservarei a fazer uma análise mais genérica da situação.

O caos administrativo da Santa Casa de Campos reflete um problema vivido não apenas por esse hospital, mas por diversas instituições filantrópicas de saúde do Brasil inteiro: a falta de gestão profissional. Na maioria dos casos, se administra essas entidades da mesma forma como se fazia no início do século passado, havendo um engessamento das estruturas administrativas, que impede a condução dos serviços de forma minimamente moderna.

O exemplo das Santa Casas e das figuras dos seus provedores – cargo máximo de direção dessas instituições - é bastante elucidativo. Esse tipo de gestão até poderia dar certo no passado, em que instituições filantrópicas como a Santa Casa eram geridas, basicamente, através de contribuições de seus associados, em geral figuras de relevância econômica e social que praticavam benemerência e quando a complexidade e valores dos serviços oferecidos eram menores.

Esse quadro, contudo, não condiz mais com a nossa realidade. Não se pode deixar apenas nas mãos de diretorias não remuneradas – que supostamente cedem parte do seu tempo em prol do bem comum – a administração complexa de entidades que ocupam papel fundamental de complementação aos sistemas públicos de saúde. Vide a situação que esse tipo de gestão amadora gerou na Santa Casa do Rio de Janeiro, para citar apenas o exemplo mais emblemático.

A vedação ao recebimento de quaisquer valores pelas direções das entidades filantrópicas, não impede a contratação de competentes equipes administrativas, especializadas, capacitadas para uma boa gestão. Não se pode tratar a administração de instituições desse porte como hobby, muito menos querer tirar vantagens delas. É preciso repensar os conceitos de administração, sob pena de entidades importantes como a Santa Casa sucumbirem e fecharem as portas.

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