Sexo dos anjos
José Paes 04/08/2014 14:04

Já faz algum tempo que venho refletindo sobre a polarização dos debates sobre a política no Brasil, em especial sobre a radicalização de discursos ditos de direita e esquerda. A divulgação e circulação de discursos vazios, sobretudo nas redes sociais, seja de um lado ou de outro, em que muito se agride e pouco de propõe é algo que preocupa bastante.

Recentemente, tive a oportunidade de ler um artigo do Frei Betto sobre o assunto, que me fez ter a vontade de também escrever um pouco sobre a questão. O texto de Frei Betto, intitulado “O esquerdista fanático e o direitista visceral: dois perfeitos idiotas” aborda com rara felicidade a questão do radicalismo do pensamento político e como essa situação cria personagens que pouco contribuem para um verdadeiro debate político.

É justamente o que vivenciamos hoje. Uma infinidade de textos vazios, em que se ataca o ponto de vista alheio, se estereotipa pessoas e pouco se discute sobre aspectos importantíssimos para o desenvolvimento nacional. Enfim, o que se vê é muita discussão entre os “barbudinhos” da esquerda e os “coxinhas” da direita, mas debates verdadeiramente importantes como reforma política, tributária, da saúde, educação, são raros. Prefere-se discutir, por exemplo, se é educado e necessário xingar a Presidente da República a discutir-se os motivos pelos quais isso aconteceu.

E o pior de tudo, é que essa situação parece ter contaminado o próprio debate eleitoral em si. Pergunto a você leitor: Nesses primeiros dias de campanha eleitoral, você ouviu alguma proposta que seja de quaisquer dos candidatos envolvidos no pleito, em especial para os cargos majoritários? São muitos ataques, acusações e poucas propostas. Veja o caso do banco Santander, que apresentou relatório criticando o governo Dilma. Criou-se um turbilhão de agressões em torno do posicionamento do banco sobre a política econômica, mas pouco se discutiu sobre a política econômica em si e o que fazer para melhor a situação atual.

O que percebo, aliás, é que esse vazio de ideias, de bom debate, também se instalou em nosso município. De um lado, a oposição – na qual me incluo – muito critica – e com razão -, mas pouco propõe. De outro lado, o atual governo pouco faz e sempre coloca a culpa das muitas coisas erradas do município nos governos passados. Em resumo, é crítica para todos os gostos, mas não conseguimos debater a fundo os principais temas que precisamos enfrentar.

Sinceramente, não sei quais são os fatores que nos levaram a essa situação, mas é necessário que reflitamos sobre a questão, a fim de que deixemos de discutir apenas o sexo dos anjos e possamos debater sobre temas verdadeiramente importantes para a sociedade.

Artigo publicado na versão impressa da Folha da última quinta-feira (31/07)

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