Contrastes na Cultura de Campos
05/07/2014 14:07

Talita Barros
Foto: Rodrigo Silveira

Há anos intelectuais e artistas campistas contestam a condução da política cultural do município de Campos. A maior parte das críticas se volta ao baixo investimento em produções locais enquanto os shows de verão, com figuras reconhecidas nacionalmente, ganham investimento e incentivo generosos. Este ano foi liberada a verba para o Fundo Municipal de Cultura, que totaliza R$ 176 mil. E há poucos dias, a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL) publicou no Diário Oficial (do dia 26 de junho), os preços de Pregões Presenciais para a contratação de empresas de diversos segmentos — camarins, trios elétricos, hospedagens, buffet, produção de vídeo em estúdio e muito mais — para o atendimento de eventos artísticos e culturais em Campos.

No Diário Oficial estão discriminados os valores de diversos Pregões Presenciais para contratação de empresas especializadas em vários segmentos para atender eventos culturais, comemorativos do município. A validade das contratações varia entre seis e doze meses. Os valores unitários somam em torno de R$290 mil. Haverá locação de trio elétrico para eventos de pequeno, médio e grande porte; contratação de empresa especializada em serviço de carga e descarga de cenário, camarins e instrumentos musicais; serviço de filmagem externa, transmissão simultânea, produção de vídeo em estúdio, edição com gravação e finalização em DVD; contratação de empresa especializada em transporte terrestre, entre outros serviços, como diárias em hotéis e fornecimento de alimentação por restaurantes.

No entanto, a resposta para toda a soma a ser investida ainda não será conhecida pelo público. O motivo é simples. A assessoria da Fundação foi perguntada pela Folha sobre os eventos que serão contemplados pelos serviços requisitados em Diário Oficial, mas não enviou resposta até o fechamento desta edição.

Enquanto isso, as inscrições para seleção pública de projetos culturais e artísticos a serem premiados ou financiados com base na lei do Fundo Municipal de Cultura podem ser feitas o dia 15 deste mês. Em função do mistério por parte da Prefeitura, dá para especular que parte da verba de cerca de R$ 290 mil seja investida para a montagem da estrutura dos eventos previstos no edital do Fundo de Cultura.

Os setores artísticos contemplados são: artes cênicas, artes plásticas, cultura popular, urbana e literária. No campo das artes cênicas, o edital premiará com R$ 12 mil, três grupos de teatro que se apresentarem durante o Festival de Esquetes. As apresentações inéditas acontecerão entre os dias 15 e 16 de agosto, no Teatro de Bolso. O tema é “Cenas da cidade”.
Serão também selecionados três projetos de espetáculos musicais, que receberão recursos destinados ao financiamento de montagens experimentais e inéditas na ordem de R$ 45 mil, cujo tema é livre.

O edital destinado a financiar a Exposição Coletiva de Artes Plásticas (ExpoArt), com a temática: “Um olhar sobre a cidade” vai selecionar dez artistas plásticos com até três obras para exporem seus trabalhos. O valor disponibilizado é de R$ 80 mil.
Os amantes do street dance também podem participar do festival. Na categoria, serão premiados os três melhores grupos com o valor total de R$ 12 mil, a serem divididos. Dentro da valorização dos artistas de rua, os grafiteiros estarão no Encontro Tribo Grafite, em que será dividida a quantia de R$ 21 mil para os autores de sete projetos de painéis que serão premiados. E “Quem quiser que conte outra” é o tema do edital de contadores de histórias que vai premiar os três melhores contadores, que dividirão a quantia de R$ 6 mil.

Outro evento que deve ser custeado por essa verba de R$ 290 mil é o Primeiro Encontro de Todas as Tribos, a ser realizado entre os dias 25 a 27 do próximo mês, no Centro de Eventos Populares Osório Peixoto (Cepop), que pretende reunir através de uma estrutura montada no Cepop, estandes com a presença de diversos segmentos como as tribos do Rock, Jazz, Moto Clube de Campos, Caça Lamas, Carros Antigos, Skatistas, apreciadores de Vinil, Patinadores, Tatuadores e a ONG Bike Saúde.

Municipalidade privilegia área de entretenimento

O fomento à cultura em Campos começa a ser questionado a partir da própria concepção de cultura adotada pela Prefeitura, que segue um viés verticalizado e de mero entretenimento, como já disse por diversas vezes em matérias da Folha o pesquisador e poeta Aristides Soffiati. Esse modelo, portanto, não atentaria para as produções de artistas locais, que muitas vezes têm que optar (ou podem optar) por outros tipos de financiamentos, como iniciativa privada, editais estaduais e federais, recursos próprios ou mesmo pelo crowdfunding (em português, financiamento coletivo).

O favorecimento a uma cultura do entretenimento é também questionado na Câmara de Vereadores, conforme informações do blog do Bastos, hospedado na Folha Online. Para o vereador Rafael Diniz (PPS), que por tantas vezes cobrou respostas à presidente da FCJOL, Patrícia Cordeiro, sobre os investimentos no setor cultural, o ideal seria um investimento de R$ 2 milhões no setor cultural. Certa vez, ele chegou a fazer um desabafo na tribuna da Câmara. “Uma cidade com um Orçamento de R$ 2,5 bilhões pretende destinar R$ 176 mil para o Fundo de Cultura? Vale lembrar que apenas no show da Maria Bethânia o governo gastou muito mais do que isso (cerca de R$ 233 mil). Tentamos aprovar uma emenda destinando R$ 2 milhões, mas a bancada governista negou”, disse Rafael.

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