O Legado da Copa
Mariana Luiza 22/01/2017 01:20 - Atualizado em 18/05/2020 21:40
Não se via o Cristo. As nuvens cinza-negras cobriam todo o céu do Jardim Botânico. Eu desci do ônibus e mal atravessei a rua quando a chuva começou. O céu embranqueceu rapidamente despejando sobre nós um dilúvio típico de tarde de verão, só que era inverno. Tinham muito mais carros na rua do que o habitual. Muito mais gente correndo da chuva e correndo contra o tempo. Só que quase ninguém ali estava atrasado para o trabalho. Era o dia do jogo do Brasil. Em Belo Horizonte não chovia e os jogadores já estavam em campo quando conseguimos atravessar o túnel que levava ao parque da bola. A tenda branca que abrigava a equipe de transmissão se confundia com o branco do céu. Na grama sintética que cobria o parque, pessoas encharcadas corriam de um lado a outro disputando os pouquíssimos espaços cobertos. Não tinha outra escolha a não ser enfrentar a tempestade para ver o jogo no telão. Quando o hino do Brasil estava quase no fim... Um apagão. Ficamos uns bons cinco minutos sem transmissão alguma do que se passava no Mineirão. Pensei em pedir meu dinheiro de volta, atravessar a nado o Jardim Botânico para assistir num barzinho próximo à vitória do Brasil, mas os cinco minutos quase eternos terminaram antes que tivéssemos coragem de abandonar o lugar. E a transmissão seguiu tranquila até o Brasil tomar o primeiro gol. A gente ainda acreditava na virada. “Brasil time de raça, vamos lá!” Do Mineirão se ouvia o sofrido grito da torcida Atleticana “Eu acredito, Eu acredito”. Mas uma sequência de quatro gols em seis minutos, que mais pareciam replay de jornal esportivo, roubou de nós o sonho do campeonato. Eu, como boa Americana Mineira, já deveria estar acostumada a derrotas. Mas não foi tão simples assim. Decidimos assistir ao fim da tragédia num bar onde pudéssemos afogar as mágoas. As buzinas eufóricas em dia de vitória deram lugar ao silêncio num bar do BG que mais parecia uma capela em velório. E o clima fúnebre assim seguiu até que a Alemanha fizesse o sexto gol mudando todo o cenário. Torcedores abatidos e frustrados deram lugar à empolgação e gritavam palavras como “Hexa”, “Flamengo” e outras insanidades só cometidas por amantes com orgulho ferido. Peguei um taxi onde se ouvia no rádio que uma confusão-tiroteio acarretou na prisão de torcedores na arena da Fifa em Copacabana. Na televisão, dava a notícia de que um torcedor alemão apanhou nas proximidades do Mineirão. Depois vim saber que o mesmo ficara surdo de um ouvido. Quando cheguei em casa já choviam piadas nas redes sociais. A cada minuto recebia um meme mais criativo do que o anterior zoando a seleção Brasileira. Havia também os que choravam e os que culpavam a choradeira da seleção pela derrota vergonhosa. A internet estava um saco (e ainda está até hoje)! E eu que só queria um gol-consolação para ver os alemães dançarem o Lepo-Lepo, revi pelo computador as tímidas celebrações da seleção Alemã e do jogador com maior número de gols na Copa do Mundo. Tem gente que sabe ganhar e gente que não sabe perder.

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