Calazans: "Uma única saída: ressuscitar"
Alexandre Bastos 09/07/2014 11:31

O futebol brasileiro pentacampeão do mundo, os donos dos cinco títulos — jogadores, técnicos, torcedores de todas as épocas — não mereciam isso. Não mereciam saber disso, muito menos ver isso, presenciar isso, assistir a isso. Não mereciam passar por essa vergonha, essa tragédia — e, vou dizendo logo, uma tragédia maior, muito maior, do que a vivida no Maracanã, na Copa de 1950, quando perdemos o título para o Uruguai, por 2 a 1. Não tem comparação. Quem imaginava que um dia fôssemos nos redimir daquela derrota, na primeira Copa realizada no Brasil, se sente, agora, na segunda, mais desencantado do que nunca, com a derrota de 7 a 1 para a Alemanha na semifinal. E quem achava que, lá atrás, tínhamos passado por uma vergonha simplesmente não sabe o que dizer. Ou talvez saiba: uma humilhação.
O futebol brasileiro — aquele dos cinco títulos mundiais — só tem uma única saída: ressuscitar. Não há forma de remissão, de recuperação, de reação. O futebol brasileiro tem que nascer de novo. Tem que renascer. Para quem foi, para quem é pentacampeão do mundo, para quem tem um lugar definitivo na História, não deve ser impossível. TÉCNICOS IGUAIS A CARTO LAS - Para tanto, é preciso haver a conscientização de que o futebol brasileiro precisa ser reformulado, a começar por essa CBF que não se dá ao trabalho de estudar, aprender, discutir, se informar, se atualizar com o futebol que corre o mundo. Uma conscientização da cartolagem. Não será com essas reeleições na CBF que isso se realizará. Criticar só cartolas é muito fácil. É politicamente corretinho poupar, por exemplo, nossos técnicos, os ditos “professores”, que, com raríssimas exceções, estão tão desatualizados, tão desinformados, tão despreparados, tão desinteressados no nível de qualidade do futebol brasileiro quanto os cartolas. Do que eles tratam aqui? Estão tantos e tantos anos atrasados que tratam de defender, armar retranca, segurar vitória de 1 a 0, dar chutões para frente, desencadear correrias, ensaiar faltas táticas, cometer essas faltas, dar pontapés, agarrões, puxões, coisas assim. Vocês viram ontem, entre um gol e outro que marcava na seleção brasileira, como se estivesse jogando contra uma ingênua equipe colegial — vocês viram a seleção alemã recorrer a um desses “recursos” citados acima e que vemos todos os dias nos campos brasileiros? E como anda nosso trabalho nas divisões de base? Estamos preparando atacantes e armadores como já tivemos — tantos! — nos anos do pentacampeonato? Ou estamos selecionando a garotada mais forte, mais parruda, para formar volantes, zagueiros e atacantes de força que corram mais do que os outros? Quem cuida, quem dirige, quem determina — depois do século passado — a filosofia, os conceitos, os princípios da formação de nossos jogadores? São nossos técnicos de renome? São os “professores “ tão admirados, estudados e comentados pela crítica? São os técnicos que passaram pela seleção nos últimos anos, inclusive o atual? JOGO NÃO FOI TÃO APÁTICO - Felipão teve um gesto bonito ontem, no fim do jogo, um gesto corajoso, apresentando-se em campo para abraçar seus jogadores. Mas errou na entrevista coletiva, com de hábito. Disse que o jogo foi atípico. Meio atípico talvez, pelos números do placar. Mas foi, ao contrário do que ele pensa, típico, rigorosamente emblemático, do atraso por que passa nosso futebol — nossos cartolas e nossos treinadores — em relação ao futebol dos melhores times e seleções do mundo. Esse jogo, essa derrota, essa goleada histórica tem que ser guardada na memória, para marcar o início de uma era de total reformulação. Fonte: Fernando Calazans/O Globo 
A coluna do Fernando Calazans também pode ser lida na Folha da Manhã.

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