Mais fraco,?gigante? acorda contra a Copa
15/06/2014 10:06

Mário Sérgio Júnior
Fotos: Folha da Manhã

Após um ano que o “gigante acordou” e foi às ruas protestar por direitos, ele parece estar em um sono latente, porém ainda em alerta. O que teve início por um aumento de passagem parece ter se espalhado para outras diversas insatisfações de brasileiros. Em Campos, a onda de manifestações foi puxada pelo movimento “Cabruncos Livres”, no ano passado, mas neste ano esse “gigante” parece ter enfraquecido. No entanto, a exemplo do grupo formado em sua maioria de estudantes, vários protestos foram realizados até o momento no município. Segundo dados da Folha, de janeiro até o dia 10 de junho de 2014 foram realizadas 67 manifestações, em Campos, por variados motivos. A Copa do Mundo também foi alvo de vários protestos recentes.

Para o cientista político e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Hamilton Garcia, as manifestações ajudaram a romper uma passividade da população. “Do ponto de vista sociológico, as manifestações de junho marcaram um ponto de ruptura com a passividade popular observada desde a chegada do PT ao poder. A expectativa ou esperança, depois de dois mandatos petistas, se transformou em frustração ou cansaço de uma parcela significativa das classes médias, que carregam o fardo de pagar imposto de renda, entre outros tributos, e ainda ter que contratar serviços privados para fugir aos péssimos serviços públicos na área de educação, saúde, segurança, entre outros. Do ponto de vista político, elas representaram a pá de cal num sistema representativo movido à base da corrupção, por baixo e por cima, que simula representar nos momentos críticos, mas que quotidianamente sonega pauta aos grandes problemas que afligem a sociedade”, pontuou.

Indagado sobre a forma como alguns protestos têm acontecido, Garcia disse: “A cobrança está ocorrendo de forma desordenada e irracional, mas não se pode esperar nada diferente num país onde o povo foi apartado da política e relegado à ‘politicagem’ à qual, infelizmente, o antigo partido da esperança e seus líderes maiores sucumbiram”.

O cientista político ressaltou, ainda, que “o protesto através do voto é uma arma poderosa”. “Apesar disso, nosso sistema eleitoral é perverso e opaco, o que prejudica esta atitude no voto proporcional (Câmaras e Assembleias Legislativas). No voto majoritário (Presidência, Governos e Prefeituras), a possibilidade de votar em partidos oposicionistas e obter resultados mais palpáveis é sempre maior, e isto deve ser tentado, pois o voto nulo ou branco, e mesmo a abstenção, tendem, em função da legislação eleitoral, a beneficiar as forças situacionistas que contam com o voto de cabresto”, comentou ao acrescentar que a população está em alerta. “O mau-humor, observado nas pesquisas de opinião e intenção de voto, além das manifestações de rua, demonstra que a população está alerta e bastante impaciente com a letargia do sistema de poder em todas as esferas da federação”, concluiu.

Copa - A presidente da República, Dilma Rousseff (PT) chegou a ser vaiada e xingada por brasileiros na estreia do Brasil na Copa, na quinta-feira passada. Os protestos contra a Copa no Brasil aconteceram em diversos lugares do país.

Em São Paulo (SP) uma jornalista da CNN ficou ferida durante um confronto entre manifestantes e policiais militares. Já um pai retirou seu filho menor de idade de um protesto também em SP. Ele teria falado que o filho teria direitos quando começasse a trabalhar.

Atos começaram por aumento de passagem

A iniciativa de ir às ruas para reivindicar direitos teve início em São Paulo com o Movimento do Passe Livre (MPL), no início de junho de 2013, a princípio em prol da revogação do aumento da passagem que subiu de R$ 3,00 para R$ 3,20.

A partir de então, outros municípios de diversos estados brasileiros adotaram a ideia da manifestação e outras pautas foram agregadas, como os protestos contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37 (que retirava do Ministério Público o poder de investigação de crimes, tornando-o exclusivo dos policiais Civil e Federal), contra a corrupção, entre outras reivindicações.

Em apenas um dia de protestos, mais de 1,25 milhão de pessoas participaram de protestos realizados em mais de 100 cidades brasileiras, pequenas, médias e grandes, no maior dia de manifestações desde o início da onda de marchas.

O efeito dos manifestos, alguns deles marcados pelo vandalismo, resultou na revogação das passagens, na derrubada da PEC e na aprovação pelo Senado do projeto que classifica a corrupção como crime hediondo.

“Cabruncos Livres” deixaram as ruas

Um dos integrantes do “Cabruncos Livres”, que preferiu não se identificar, disse que o movimento enfraqueceu em Campos, assim como no Brasil inteiro. No entanto, ele disse que os protestos nas ruas iniciados pelos “Cabruncos” deixaram inspirações para outros tipos de protestos e algumas reivindicações chegaram a ser atendidas. “O Movimento está sem ir às ruas porque não tem um comando centralizado. O Cabrunco foi uma reunião geral de insatisfeitos com o Governo Municipal e com os problemas históricos que o Brasil enfrenta, como corrupção, desigualdade social, precarização dos serviços públicos, entre outras coisas. Os efeitos positivos foram sensacionais. Diversas lideranças do Movimento Educadores de Campos em Luta já falaram e repetiram que se inspiraram nos Cabruncos Livres”, disse o integrante.

O movimento “Cabruncos Livres” realizou quatro manifestações em Campos. A primeira foi realizada no dia 17 de junho de 2013 e a segunda, que aconteceu três dias depois da primeira, obteve o maior número de pessoas.

Manifestos também ocorreram na região

Outros municípios das regiões Norte e Noroeste Fluminense também realizaram seus protestos no ano passado. Em São João da Barra, no dia 24 de junho, aproximadamente 200 pessoas fecharam a BR 356 em protesto contra a empresa de transporte que faz as linhas entre Campos e o município sanjoanense. Os manifestantes questionavam o preço da tarifa do ônibus que custava R$ 8,50 e pediam melhores condições dos veículos.

A exemplo de São João da Barra, os moradores de Itaperuna também foram às ruas por melhorias no transporte público e contra o monopólio da empresa que fornece o serviço. Em ambos os municípios, as tarifas tiveram uma redução.

São Francisco de Itabapoana também aderiu ao movimento nacional e realizou um ato pacífico, com a presença de centenas de jovens, que ao som do Hino Nacional se concentram em frente ao prédio da Câmara, do Colégio Estadual São Francisco de Paula e da prefeitura. Os protestos foram por mais qualidade nos serviços públicos e o fim da corrupção no país.

 

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    BLOGS - MAIS LIDAS