Com relação à imagética, o registro da atividade muscular que resulta da imaginação de um movimento é mais intenso em indivíduos que possuem maiores experiências motoras prévias, ou seja, em atletas mais experientes, supondo assim que a capacidade de imaginar o movimento é mais real. Existem algumas evidências de que os desportistas de maior habilidade beneficiam-se mais da visualização do que desportistas com menos habilidade14.
Um estudo recente correlacionando atletas novatos e experientes, com baixa e alta capacidade imaginativa, mostrou que os atletas experientes apresentaram melho- ras significativas comparadas com o grupo de novatos, e que os atletas com alta capacidade imaginativa obti- veram melhores resultados do que os de baixa18. Apesar das controvérsias envolvendo a efetividade do uso da imagética, o autor ressalta os resultados demonstrando a efetividade do método para aquisição de habilida- des motoras complexas, principalmente para atletas experientes e com vívida imaginação. E acrescenta que a capacidade imaginativa, assim como o nível de experiência, deve ser avaliada antes do início de uma pesquisa nesta linha.
Acredita-se que, com a aplicação da imagética con- comitantemente à música, tenha-se criado circunstâncias propícias para uma boa integração sensorial nos pesqui- sados, principalmente no grupo de maior experiência, corroborando os estudos citados como referencial teórico para esta pesquisa.
Concluindo, poder-se-ia cogitar que a imagética, associada à música, apesar de não funcionar para uma significância estatística intra-grupos, revelou-se positiva de algum modo ao se considerar a tendência de melhora inferida da performance dos grupos, na tarefa sob estudo. Com relação às diferentes faixas etárias, o grupo mais experiente se mostrou mais eficiente, tanto na coleta antes quanto na depois da intervenção com música associada à imagética.
Acredita-se que, com o implemento deste trabalho cognitivo de menor carga física, deverão depender os atos necessários ao jogo, fato que deverá proporcio- nar, tanto aos atletas jovens como também aos mais velhos, uma vida esportiva mais longa e com melhor performance.
Para a aplicação de um trabalho cognitivo em atletas jovens supõe-se que, quanto antes for o início da sua prática, melhor serão os benefícios apresentados. Estes indivíduos, quando treinados a usar estratégias de contro- le, certamente apresentarão um aumento na performance cognitiva em fases posteriores.
Convém ressaltar que tanto a audição musical como a capacidade imaginativa são processos pessoais, que variam de indivíduo para indivíduo, sendo que tal varia-
ção tem relação direta com níveis de interesse, emoção, concentração e memória, podendo ser trabalhados, independentemente de idade, na busca de melhores resultados esportivos.
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Recebido: 17/06/2008 – Aceito: 21/09/2008