Considerações sobre a greve dos rodoviários
José Paes 02/05/2014 20:29

São inúmeras as questões e peculiaridades que envolvem a greve dos rodoviários, que dificilmente se conseguirá abordar todas elas de uma só vez. A complexidade da situação, por vezes, também colabora para que sejam proferidas declarações que mais confundem do que esclarecem os motivos pelos quais se chegou a essa situação lamentável, em que perdem os rodoviários, os empresários, a prefeitura, mas, sobretudo, e acima de tudo, o cidadão comum, que se utiliza e depende do transporte coletivo.

Alguns considerações, contudo, precisam ser feitas.

Não se pode negar o direito de greves dos trabalhadores. A pauta de reivindicações é justa. Descontar o salário do trabalhador, por exemplo, quando há roubo aos ônibus, é algo absurdo que precisa ser combatido. Isso não quer dizer, que se possa defender eventuais abusos desse direito, nem mesmo o descumprimento de ordens judiciais, que devem ser apurados e punidos, através dos mecanismos legais.

Não se pode negar, também, que a situação econômica dos empresários é caótica. Como exigir de quem, há mais de 6 anos, não vê a tarifa do transporte coletivo reajustada, o cumprimento das exigências dos trabalhadores? Não se pode querer que o empresário, além das suas obrigações legais, ainda seja obrigado a bancar o programa social do município.

Do mesmo modo, não se pode negar o direito da prefeitura interferir para garantir a continuidade da prestação do serviço. Afinal de contas, o interesse público deve prevalecer sobre o direito do particular, sobretudo para garantir a prestação de serviço tão essencial como o transporte. Essa situação, todavia, não faz desaparecer a imensa culpa que prefeitura possui por ter deixado a situação ter chegado a esse ponto. É a prefeitura a maior culpada pelo caos no serviço de transporte. Já são quase seis anos de governo, e nada foi feito para solucionar o problema. Faltou diálogo, faltou bom senso e não se pode agora lavar as mãos e colocar o problema na conta da sempre conturbada relação patrão x empregado.

A manutenção do serviço também não pode servir de palco para estrelismos, de quem tem como função tutelar os direitos da sociedade, e não servir de porta voz e advogado de determinado grupo político. Assim como devem ser apurados eventuais abusos de empresários e trabalhadores, é necessário que se apure também eventuais abusos no ato de apropriação temporária dos ônibus das empresas.

É importante que se aborde também a questão da licitação dos ônibus. Não sou contra a licitação, algo, aliás, que já deveria ter ocorrido faz tempo. Mas como já disse em outras oportunidades, querer colocar a culpa pelo seu atraso na conta dos empregados é absurdo. O governo precisa reconhecer que não teve competência suficiente para apresentar um edital dentro da legalidade, o que atrasou todo o processo e acabou ocasionando a situação atual.

É leviano, também, vender para a população que os problemas do transporte irão acabar com essa licitação. De nada adiantará legalizar a situação das empresas, se o governo continuar a gerir o sistema como o faz. Não basta apenas passagem barata, é preciso ter responsabilidade e competência para gerir um serviço de tamanha importância.

Enfim, para que o problema efetivamente se resolva, é preciso que se deixe a hipocrisia e os egos de lado e que os problemas do sistema sejam reconhecidos e discutidos em conjunto. Enquanto isso não acontecer, quem continua a sofrer é o povo.

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