Belido e os primeiros passos em jornal
Christiano 20/03/2014 14:11

Com o sugestivo título “O tempo – o senhor do passado”, o jornalista Guilherme Belido publicou na Folha da Manhã do último domingo, na página que leva seu nome, no caderno Folha Domingo, um belo texto onde rememorou seu início na vida de jornal. A matéria alcançou significativa repercussão.

Como gancho usou o contraste entre a longa trajetória (40 anos) e sua idade de pouco mais de 50, resultado de haver iniciado ainda menino. Variando do tipo de texto que normalmente faz, deixou fluir linhas para ele de certa emoção, como as que reproduziu os tempos de menino, onde frequentava o jornal de propriedade de seu pai, “brincando de subir e descer os degraus da rotativa e batendo no teclado de uma velha linotipo”.

Em contato comigo, Belido disse que o texto acabou desandando do que inicialmente pensou escrever, cujo título era “O tempo – o senhor das diferenças”, onde o pretendia traçar um paralelo entre os avanços tecnológicos e, no seu ponto de vista, o recuo da qualidade e a supressão da criatividade.

– Acabei me alongando na introdução e perdi o foco que pretendia discorrer, que trazia à reflexão paralelos comparativos. Por exemplo: pesquisa encomendada agora em março pelo Palácio do Planalto revelou que o órgão em que o público mais confia é o jornal. Para mim, é um alerta à maioria dos blogs autônomos – particularmente os que não estão ligados a um veículo de comunicação – e todo acervo de Internet que tanto agiliza e facilita quando compromete e desqualifica. É grotesco dizer, mas a internet é uma grande lixeira que aceita tudo.

Afeito a posições mais duras, o jornalista lembrou o que a informação que antes só chegava no dia seguinte, ou muitas horas depois pelo rádio e nos telejornais, hoje se manifesta em tempo real. "Ótimo. Mas salvo pelo que é produzido no ‘online’ dos sites de grupos de comunicação e alguns poucos sites independentes, via de regra o conteúdo é de baixíssima qualidade. E o que era feito mercê de aprendizado e aperfeiçoamento, hoje não precisa de nada".

Belido vai ainda mais longe na sua avaliação e critica. "Gente que mal sabe ler, tampouco colocar uma palavra atrás da outra para formar uma linha, cria um blog e ‘escreve’ um monte de bobagens não raro com informações apressadas, incompletas, erradas e desrespeitosas. E ainda acatam posts anônimos – o que é o fim da picada quando não moderados criteriosamente".

Reconhecido como pessoa que atua em todas as áreas da complexa indústria do jornal, Guilherme se preocupa com outro dado: "A não ser pelo fato de escrever na Folha, onde lamento não dispor de tempo para sequer visitar a redação, estou afastado de jornal. Mas observo com preocupação um certo recuo de qualidade da imprensa em geral. Não vejo, por exemplo, ninguém da minha geração, na casa dos 50 anos, que possa ser nivelado a nomes como (por ordem alfabética) Aluysio Cardoso Barbosa, Hervé Salgado Rodrigues, Luis de Gonzaga Balbi, Oswaldo Lima e Vivaldo Belido de Almeida – para citar apenas alguns que efetivamente tiveram vivência em jornal. E quando faço a comparação é evidente que não me incluo entre os ‘de minha geração’ porque, desta relação, só considero os melhores." Belido acredita que na grande imprensa aconteça o mesmo fenômeno.

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    Christiano Abreu Barbosa

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