O “vale-tudo” da política brasileira
José Paes 03/03/2014 10:28

Na última terça-feira, durante cerimônia para comemoração dos vinte anos do Plano Real, em Brasília, o Senador Aécio Neves, candidato do PSDB a presidência da República, abordou uma questão interessante, que demanda reflexão: É preciso acabar com o “vale-tudo” da política brasileira.

Hoje – na verdade, já faz bastante tempo -, o que se vê no Brasil é uma política feita em torno de pactos de conveniência, em torno de condomínios de poder. Darei um exemplo. Encaramos com naturalidade, atualmente, a questão do apoio político em troca do loteamento de cargos públicos. Não só em Campos, como em todo o Brasil, o que mais se vê são declarações públicas de políticos afirmando que o apoio a determinado governo depende da entrega de um determinado número de cargos em comissão. A coisa é tão escandalosa, que não se procura nem mais tratar dessas questões nos bastidores da política. Tudo é feito às claras, como se fosse natural. Questões ideológicas, por óbvio, sequer são consideradas.

Dentre diversos outros fatores, uma das causas para esse tipo de situação é o esgotamento do modelo político brasileiro. A questão não é de simples solução, mas, volto a insistir, passa, necessariamente, por uma reforma política que valorize os partidos políticos verdadeiramente ideológicos e faça uma profunda mudança na questão do financiamento de campanha.

Muito além disso, contudo, como bem ressaltado pelo ex-governador mineiro, para que essa situação seja alterada é preciso recuperar o interesse da população pela política. As recentes manifestações populares despertaram, de certa forma, esse interesse, mas é necessário algo mais profundo. Além disso, é necessário demonstrar para a população que as reformas que se fazem necessárias no Brasil dependem necessariamente da participação da sociedade na política partidária.

Enfim, espero que a questão levantada pelo Senador Aécio Neves seja efetivamente incluída no debate da disputa presidencial, pois precisamos, de fato, de um novo rumo para a política brasileira.

Artigo publicado na versão impressa da Folha de 27.02.

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