Pão, circo e círculo
Foi prática, na Roma antiga, a política – que em nossa terra até hoje se perpetua - de desviar a atenção da população de a dureza do cotidiano. O chamado “pão e circo” é um recurso maquiavélico. É do mal. Pelos antigos romanos, foi largamente empregado ao presentear comida e diversão ao povo, com o objetivo de aplacar a insatisfação popular contra os governantes. Garantia-se o relaxamento das tensões sociais com espetáculos sangrentos, como os combates entre gladiadores, também com animais ferozes, ou ainda com apresentações de palhaços, artistas de teatro e bandas. Nos estádios – enormes arenas - qualquer semelhança com a nossa atualidade não é mera coincidência – os regalos do “pão e circo” monitoravam a fome e o tédio. A popularidade do imperador entre os mais humildes ficava consolidada.
Os séculos passaram e a tecnologia presente, garante um pão sem risco de bolor: o cartão magnético. Além das arenas modernizadas inventamos as gigantescas estruturas metálicas: o mega palco. Distanciado e suspenso, com parafernália de luzes em constante movimento e som nas alturas.
Parece que a fórmula do atraso veio para ficar em Campos. Caiu no gosto da administração pública. Recentemente a mídia local e os blogs trouxeram à tona a gastança desenfreada da prefeitura de Campos, com shows (no Farol e demais distritos) que na propaganda oficial é apelidada de Verão da Família. Como os royalties são depósitos fartos e certeiros, nenhuma preocupação em aplica-los para garantia futura do desenvolvimento de sua gente.
Os shows do Verão da Família, só no primeiro mês da estação, consumiram algo como R$ 2,5 milhões. São quantias que nos preocupam, para não pegar mais pesado. Com aluguel de banheiros químicos, a prefeitura vai gastar - dos royalties - R$ 651.500,00. Também dos royalties, já foram gastos meio milhão de reais (R$ 566 mil) para eventos de luta – MMA – duas edições do Jungle Fight e uma edição do Pink Fight. Com os buffets para os “eventos culturais, artísticos e comemorativos” foram publicados no Diário Oficial, dois Extratos de Contratos, que totalizam até aqui 260 mil reais. Vamos citar apenas o valor individual de dois shows no mês de janeiro: o da banda de Axé, Jammil, R$ 193 mil e o rodeio Tony Nascimento, R$166.560,00, na Festa de Santo Amaro.
Fevereiro começou sem ainda, neste dinheirão, estarem contabilizados os gastos que serão feitos até o fim da temporada sob o critério do “pão e circo”. A incultura do desperdício é o nosso círculo vicioso.
Makhoul Moussallem
Médico, Conselheiro do CREMERJ e do CFM