É muito mais que o valor do cachê
José Paes 06/02/2014 11:17

Nas duas últimas semanas, abordei neste espaço a questão da contratação de shows e eventos esportivos pelo Município de Campos e os altos valores pagos por isso, o que demonstra a verdadeira falta de prioridade dos gestores públicos. Aliás, importante destacar que essa vem sendo uma prática adotada por gestores de diversos outros municípios da região. Contudo, diante do que se visa comentar, mais uma vez me limitarei a abordar o município de Campos.

Sempre que se fala nesse assunto, os defensores do atual governo levantam fatos dos governos passados, para tentar demonstrar que a situação hoje é muito melhor que a vivida em gestões anteriores. É sempre a mesma história: “Na gestão passada, os shows eram superfaturados”; “na gestão passada, gestores públicos foram presos”; “hoje, os shows são mais baratos”; “hoje, tudo é feito dentro da legalidade”, afirmam.

Acredito eu, porém, que a discussão sobre o tema deva ser muito mais profunda. Todos nós conhecemos os males da gestão Mocaiber, mas já é chegado o momento de deixarmos de discutir o passado e enfrentarmos o nosso presente. Precisamos deixar de lado a mera discussão sobre valores pagos hoje e ontem, a mera discussão sobre quem é mais honesto - ou menos corrupto, talvez.

Precisamos discutir, isso sim, se a política de shows e eventos esportivos milionários, adotada não só por esse governo, mas por quase todos que o antecederam, é a mais adequada para atender aos anseios do Município. Precisamos discutir se realmente precisamos de shows, eventos de MMA, futebol com artistas e coisas do tipo, ou se não deveríamos utilizar os recursos gastos com esses eventos em outras áreas, como saúde, educação, dentre outras. Precisamos discutir, se o poder público deve custear sozinho os eventos de verão, ou se deveria buscar o apoio da iniciativa privada. Precisamos discutir, é se devemos apoiar o esporte escolar e os atletas da região, ou financiar eventos particulares, já repletos de patrocinadores.

O que se vê, na verdade, é que em matéria de política cultural, de lazer, de estímulo ao turismo, ou melhor, em matéria de prioridades, esse governo não destoa muito dos anteriores. Ambos comungam, em maior ou menor intensidade, das mesmas práticas, dos mesmos interesses, dos mesmos objetivos. E não poderia ser diferente, pois os grupos que governam e governaram, hoje antagônicos, têm a mesma origem, partilham das mesmas ideias e só não estão juntos por questões que só a política explica.

Enfim, devemos discutir muito mais que o valor do cachê, mas se quem hoje está no poder realmente tem condições e quer fazer diferente do passado.

Artigo publicado na versão impressa da Folha de hoje (06.02)

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