A São Silvestre é um case negativo de marketing de serviço
Marcos Almeida 01/01/2014 18:10

Por Cassio Politi

"A edição deste ano mostra que a maior prova do Brasil é também uma das que mais maltratam o corredor.

Teve pontos positivos, é verdade, e começo por eles:

1. A mudança para a manhã.

2. O clima festivo entre público e corredores.

3. A medalha, muito bem trabalhada.

Teve também um ponto dúbio:

4. O percurso novo (desde 2012) é melhor do que o antigo em alguns aspectos e pior em outros. Já trabalhei em organizadora de provas e sei que a escolha do trajeto não é apenas técnica. Os órgãos públicos são umas pragas nesse aspecto.

E , enfim, o lado negativo:

5. A prova não comporta 27 mil pessoas. Foi superlotada de ponta a ponta, muito mais do que nos anos anteriores (a última que corri havia sido 2010). Em diversos trechos, houve congestionamento. Isso aconteceu até no km 10, quando, normalmente, uma corrida já dispersou. Faltou água em TODOS os postos de hidratação. Embora eu tenha corrido leve, 'for fun', na companhia da primeira-dama Alessandra, não estávamos na rabeira da prova. Mesmo assim, conseguir água sem gelo e Gatorade foi uma luta.

6. A organização da São Silvestre não aplica conceitos elementares de marketing de serviço. Ela acredita que a força da prova esteja no número de inscritos, e não na experiência proporcionada. Não entende que a prova é forte pela tradição e exposição na mídia, e não por ter 27 mil inscritos. Basta ver que outras provas brasileiras têm agido de forma inversa, entendendo que menos é mais. Ou seja, ter menos corredores significa entregar maior qualidade e gerar maior satisfação. Asics, Nike e Track & Field — para citar só três — fizeram nos últimos anos provas menores e melhores. Chega a ser impossível compará-las à SS, que já encaramos assim: "aquilo lá é uma zona, não dá para correr, vou só para me divertir".

7. Talvez a SS queira chegar ao patamar de uma grande prova mundial, competindo em quantidade com as maiores do mundo. Então, que se inspire no projeto como um todo, e não apenas no número de inscritos. Já corri nos EUA provas de diversos quilates, como a gigante Maratona de Chicago, a intermediária Maratona da Disney e a minúscula Cleveland River Run. Conclusão: as majors não são apenas as maiores, mas são também as melhores no tratamento ao cliente — o corredor. Não falta hidratação, as avenidas são largas e comportam 40 mil corredores, a largada é feita em ondas. A chegada tem uma festa, e não um locutor cantarolando desafinado "Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo". E lá as provas têm 40 mil porque esse é o limite. Elas recebem centenas de milhares de inscrições e escolhem os inscritos por algum critério (sorteio, ordem de inscrição etc). E ninguém vai só para se divertir — vai para correr.

Para não ficar só na crítica, aqui vai minha sugestão, como alguém que também organiza eventos (em outra área): limitar o número de corredores a 15 mil, por exemplo, continuará fazendo da SS a mais importante prova do Brasil, gerando uma disputa maior pelas vagas, o que valoriza a prova e permite fazer uma entrega decente. A organização atual precisa ter mais arrojo e fazer da SS a prova mais importante não apenas para os telespectadores, mas para o primeiro público-alvo dela própria e dos patrocinadores: os atletas amadores."

Cassio Politi é jornalista e corredor

Fonte: Pulso

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    Marcos Almeida

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    Marcos Almeida é assessor esportivo, especialista em Ciência da Musculação e mestre em Ciência da Motricidade Humana.

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