Autopista Fluminense: pague para entrar, reze para não precisar
Christiano 18/01/2014 15:26

Na última semana, a Autopista Fluminense entrou no olho do furacão, após a acertada decisão da 1ª Vara Cível de Campos, do juiz Ralph Manhães Jr, que suspendeu a cobrança de pedágio na BR-101, em processo movido pelo Ministério Público contra a concessionária pela má prestação de serviços.

Os campistas que trafegam na teoricamente privatizada BR-101 conhecem de cor e salteado a inexistência de melhorias relevantes que justiquem a cobrança do pedágio. A grande maioria tem parentes e conhecidos que perderam a vida na rodovia, uma verdadeira fábrica de mortes.

Em sua linha de defesa, a Autopista cita algumas melhorias, como sinalização, atendimentos e reboques para panes e serviços de resgate. O atendimento para panes na estrada é para inglês ver. Quem já teve problema na estrada sabe. Quem não sabe, basta ler aqui o sufoco que Flávio Augusto Gomes passou nesta semana.

Quem infelizmente precisar do serviço de resgate com atendimento pré-hospitalar na rodovia, deve ouvir os relatos a seguir, feito por pessoas que já trabalharem nele. O serviço de resgate da Autopista Fluminense é terceirizado, com uma empresa chamada ENSEG. Nada contra terceirização, que pode ser bem vinda quando não é na atividade fim, desde que o contratante fiscalize.

O serviço prestado é da pior qualidade, não pelos funcionários, que normalmente dão o seu máximo, mas pelas péssimas condições de trabalho. Resgate é vocação e quem trabalha ali normalmente o faz com raro prazer laboral. Os funcionários são admitidos com a função de resgatista e não como enfermeiros, para economia nos proventos pagos, com salário de R$ 680,00. Alguns resgatistas trabalham como motoristas sem ganhar o devido acúmulo de função, segundo a denúncia feita.

A região entre Campos e Macaé, que concentra grande movimento e inúmeros acidentes, muitos fatais como o de ontem, conta com três pontos de serviços de resgate. Um é no km 78, ao lado do posto da Polícia Rodoviária Federal próximo à cidade, onde tem somente um carro de resgate.

Outro é no km 123, no pedágio de Serrinha, inspecionado pelo juiz Ralph Manhães Jr e pelo promotor do MP Leandro Manhães Barreto, onde tem uma UTI móvel. O terceiro é no km 162, onde também só há um carro resgate. Os carros de resgate, pasmem, não tem médicos, somente um condutor/resgatista e dois técnicos resgatistas.

Apenas a UTI móvel tem um médico a bordo, junto com um condutor/resgatista e um enfermeiro. Significa que se você tiver um acidente na Autopista Fluminense, em todo este trecho, você terá de esperar a UTI móvel sair do pedágio de Serrinha para chegar até você, isto se não estiver em outro atendimento. Velocidade para os primeiros socorros é vital para evitar vítimas fatais.

A condição de trabalho ideal e de maior segurança para os usuários da rodovia é que cada ponto deste tivesse uma UTI móvel. Não bastasse isto, a UTI móvel que atendia toda esta região bateu, em um atendimento, próximo ao Natal. Desde então, em vez de uma UTI reserva, a ENSEG mandou um carro de resgate para o lugar dela.

Como as fotos abaixo mostram, o carro de resgate foi adaptado, de forma bisonha, para ser uma UTI móvel. Os medicamentos ficam no chão espalhados, assim como o desfibrilador, com tudo caindo com o carro em movimento. O respirador é preso com atadura.

[caption id="attachment_209524" align="aligncenter" width="420" caption="Medicamentos no chão do carro de resgate adaptado como UTI móvel"][/caption] [caption id="attachment_209525" align="aligncenter" width="480" caption="Desfibrilador no chão do carro de resgate adaptado para UTI móvel"][/caption] [caption id="attachment_209526" align="aligncenter" width="480" caption="Respirador preso por atadura no carro de resgate adaptado como UTI móvel"][/caption]

Este carro de resgate ficou adaptado como UTI móvel até o dia da decisão do juiz Ralph Manhães Jr. Um dia depois, ciente da inspeção que sofreria, milagrosamente, a ENSEG, contratada da Autopista Fluminense, apareceu com uma UTI móvel. Foi trocado também, nas vésperas da inspeção, o pneu careca de uma de suas unidades, mostrado abaixo.

Não bastasse a escassez de recursos, a única UTI móvel e os carros de resgate são convocados para fazer trabalho de inspeção de pista, para verificar a presença de animais e efetuar sinalização para carros com pane, serviço que deveria ser feito por outra empresa terceirizada contratada, com outros veículos e profissionais. Por falhas no serviço de reparação de cercas por outra terceirizada, há mais animais na pista que deveriam.

Os carros de resgate não tem os equipamentos adequados para remover vítimas de acidentes das ferragens, tendo sempre que esperar os Bombeiros. A má condição dos veículos é tamanha que uma Toyota Hilux de inspeção de pista teria sido apreendida na semana passada pela Polícia Rodoviária Federal, por estar sem os vidros.

Os funcionários que reivindicam melhores condições são sumariamente demitidos. Só nesta semana teriam sido cinco. Demitidos, são obrigados a cumprir o aviso prévio em Rio Bonito, inviável para quem mora em Campos. Eles reclamam que o vale transporte para os campistas teria sido diminuído, de R$ 310,00 para R$ 175,00, além do corte de plano de saúde e odontológico, sem qualquer prévio aviso.

Enquanto isto, as mortes continuam na BR-101. Que a justiça, com base nestes dados, continue com o seu pulso firme para que os cidadãos tenham retorno do pedágio que pagam, apurando mais esta denúncia. Que o Ministério do Trabalho também apure as condições de trabalho impostas a estes funcionários pela ENSEG e, consequentemente, pela Autopista Fluminense.

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    Christiano Abreu Barbosa

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