Uma História Saborosa
mabamestrado 06/01/2014 22:09
Histórias saborosas sobre o sucesso de uma das maiores produtoras de champanhe, programa de primeira para quem aprecia vinhos borbulhantes. Com tijolos aparentes e vitrines pós-modernas, a mansão de dois andares impressiona. A verdadeira riqueza do lugar, no entanto, reside 20 metros abaixo da terra, onde ficam as chamadas crayères. O nome designa um labirinto de 24 quilômetros de túneis que abrigam, devidamente trancadas em armários com cadeados, garrafas de até 106 anos de idade. Estamos em Reims, cidade do nordeste francês, a 140 quilômetros de Paris, onde nasceu e funciona a empresa produtora do champanhe Veuve Clicquot, um dos mais famosos do mundo. Fica na Place des Droits de l’Homme, num bairro afastado do centro. Da calçada não se vê muito do que acontece atrás dos altos muros e dos portões de ferro que dão acesso a uma propriedade de 5 quilômetros quadrados. Dali saem, por ano, estimados 8 milhões de unidades da tradicional bebida dourada. VEJA SÃO PAULO percorreu parte dessas galerias subterrâneas, num tour bem acessível — conforme a duração e as variedades de espumante que se quer degustar, a entrada custa entre 40 e 170 reais. Divulgação A Grande Dame rosé leva esse nome em homenagem à viúva Clicquot e tem no rótulo o ano da safra em que foi produzida: na Europa, a garrafa custa, no mínimo, 250 euros (cerca de 600 reais) A Grande Dame rosé leva esse nome em homenagem à viúva Clicquot e tem no rótulo o ano da safra em que foi produzida: na Europa, a garrafa custa, no mínimo, 250 euros (cerca de 600 reais) (Foto: Divulgação) A Grande Dame rosé leva esse nome em homenagem à viúva Clicquot e tem no rótulo o ano da safra em que foi produzida: na Europa, a garrafa custa, no mínimo, 250 euros (cerca de 600 reais) O programa, como era de esperar, encanta apreciadores de vinhos. Mas não só. Quem curte boas histórias vai se impressionar com as da empresa familiar que virou uma das mais importantes grifes de luxo do mundo. O negócio foi fundado em 1772 por Philippe Clicquot. Não se engane pelo sobrenome: quem protagoniza a trama daria as caras somente duas décadas mais tarde. Trata-se, em escala crescente de importância, de seu filho, François, e da mulher dele (aí, sim, a verdadeira estrela), Barbe-Nicole Ponsardin. Recém-casados, os dois apostaram na fabricação de champanhe. Acontece que a vida na Europa andava dura na época em que o primeiro carregamento ficou pronto, em 1803. Devido à guerra iniciada por Napoleão Bonaparte, o comércio no continente se complicou. Ruim para os franceses, que acabaram isolados por um embargo econômico, e pior para os que forneciam produtos não considerados de primeira necessidade. Vitimado pela febre tifoide, François morreu dois anos depois — segundo uma versão extraoficial, teria cortado a garganta diante da perspectiva de falência. Aos 27 anos e com uma filha de 6, sua viúva (veuve, em francês) tomou as rédeas. É uma elegante funcionária caribenha, Mélissa Gaillard, quem relata as dores e delícias de madame Clicquot durante o passeio por Reims. E o faz, conforme a nacionalidade do visitante, em inglês, holandês, francês ou espanhol. Intercala a narração com peculiaridades sobre a maison e seus arredores. Uma delas diz respeito ao solo da região de Champanhe, que possui uma camada de terra de 40 a 60 centímetros sobre um substrato de calcário. Condições, em princípio, precárias para a agricultura. No entanto, isso funciona como um regulador de umidade e de calor, o que acaba beneficiando os vinhedos — sobretudo nos 5 quilômetros quadrados que são de propriedade da marca. A combinação única desses fatores faz com que as uvas dali sejam diferentes de todas as outras. Essa é a justificativa para que apenas possam ter o nome de 'champanhe' as bebidas produzidas com frutos provenientes de uma área de 350 quilômetros quadrados, delimitada por lei. Por essa razão, o valor do hectare nos grands crus, terrenos que combinam solo perfeito e exposição adequada ao sol, chega a 1 milhão de euros (2,3 milhões de reais). As condições geográficas favoráveis não dão conta de explicar o sucesso da Veuve Clicquot Ponsardin. Ah, sim, passou a ser esse o nome da empresa pouco depois que Barbe assumiu a liderança. “Um cometa mudou a vida dela”, conta Mélissa. Foi em 1811, quando um deles cruzou o céu da região. Por causa do astro, acredita-se, a colheita seguinte apresentou qualidade acima da média.

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    Marco Barcelos

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