O PREGADOR
lucianaportinho 18/01/2014 15:58
O Pregador Quem me dera se nesses tempos de calor viesse aqui conversar sobre o vento nordeste e a necessidade do pregador de roupa no varal. Sigo na linha de destrinchar mais um personagem da grande família dos ‘or’. O ‘pregador’ do qual falo é aquele que a cada dia é mais frequente em nossos centros urbanos. São os proclamadores de algum credo ou religião. Estão pelas ruas vestidos de terno, sob uma solina inclemente. Geralmente, na mão um microfone e ao seu lado uma caixa de som, e eles bradam mensagens de intimidação pela fé. Pretendem esses pregadores - uns com boas intenções, outros por algum desequilíbrio, ou ainda, por alguma carência - conquistar novos fiéis à sua fileira, geralmente evangélica. Como pregoeiros são enfáticos em anunciações catastróficas. Alguns desses juntam gente temerosa em volta, mas, a maioria deles ralham ao vento. Ano passado, uma liminar do Ministério Público exigiu da Super Via o fim das pregações religiosas dentro de trens, no Rio de Janeiro. Segundo o promotor que proferiu a liminar “… Ninguém é obrigado a se submeter indiscriminadamente a doutrinas religiosas”. Enfim foram poupados os trabalhadores de serem obrigados a ouvir as ladainhas de fanáticos que não se contentam com a própria fé, mas querem impô-la a todos. Esquecem-se estes pregadores que o estado brasileiro é laico e que os meios de transportes coletivos são concessões públicas. Voltando no tempo, é bom lembrar de que Jesus fez mais do que pregar. Seus ensinamentos foram mais valiosos do que a sua pregação propriamente dita. Não são esses que perduram como valores edificantes através dos séculos? Além do mais, orar é ato de silêncio da alma. No século XVI ao propor a Reforma Protestante Martinho Lutero preconizou, “Portanto, fora com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo, Paz, paz!, sem que haja paz.” Pois bem, entramos em ano eleitoral, aí a coisa complicou. É ano propício à demagogia, ao uso indevido da religião na política. Surgem os pregadores políticos profissionais. Autodenominam-se, ‘Irmãos’. Sugerem a troca: “Eu oro por você e você ora por mim”, é o famigerado toma lá dá cá, como marketing eleitoral jogam a rede, se anunciam portadores da palavra de paz. Como dito popularmente este ‘pregador’ é espertinho, não bate prego sem estopa.
Makhoul Moussallem                                                     Médico, Conselheiro do CREMERJ e do CFM * artigo publicado na Folha da Manhã em 16/01/14

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