O Mar
Mariana Luiza 15/05/2020 18:17 - Atualizado em 15/05/2020 18:18
Eu estava sentada de olho nas ondas quando ele chegou. Parecia íntimo do mar. Era marinheiro ou pescador. Talvez um filho de Yemanjá. Chegou e foi logo entrando de roupa e tudo. Sem cerimônia. Sem parcimônia. Aflito pela chegada do novo ano. Sem pedir licença às ondas, colocou sobre as águas um barquinho de madeira azul e um punhado de rosas brancas. Eu não consegui ver o que tinha dentro do barco. Supus que eram presentes para Odoyá. Para as sereias. Saudações do novo ciclo. O marinheiro pescador sussurrava a cada flor que lançava no mar. Se eram pedidos ou agradecimentos, não consegui ouvir. Mas pelo semblante de tristeza, ele deixava no barco mais mágoas do que conquistas. As ondas se encarregaram de levar o barco para fora do nosso alcance. Algumas das rosas foram devolvidas na areia. Nem tudo a rainha aceita. Nem tudo o mar engole. O senhor catou uma por uma das flores rejeitadas forçando o presente mal recebido. O mar não estava nem aí, devolveu-lhe novamente, e novamente e novamente até o pescador marinheiro desistir da insistência. Ele se banhou nas águas deixando que o sal levasse para o fundo todas as mazelas daquele ano. Esfregava o corpo com a água salgada como se quisesse lavar o que tinha de mais dolorido na pele e no coração. Levar para longe, para o fundo do mar toda desesperança. Bem nas profundezas do oceano, onde a luz do sol não chega, descansam tesouros naufragados, barcos de madeira, mágoas e tristezas de corações aflitos que sempre recorrem ao mar, ao sal, as sereias por um novo recomeçar.  

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