Haja palhaço para tanto circo
José Paes 30/01/2014 11:33

Na semana passada, teci os meus comentários sobre a realização de eventos de MMA em Campos, pagos pelo Poder Público municipal, o que demonstra a verdadeira falta de prioridade dos gestores públicos. Hoje, continuarei na mesma linha, agora destacando os altos valores pagos por shows de artistas de fama nacional.

Assim como no caso do MMA, tenho uma dificuldade enorme em aceitar o ponto de vista daqueles que justificam a realização dos shows, sobretudo durante o verão, como estímulo ao turismo na região. Que me perdoem os partidários desse entendimento, mas o retorno para cidade não justifica a quantia despendida. Apenas com os shows de verão, já entregamos mais de 1 milhão de reais nas mãos de artista forasteiros, que chegam, fazem breves shows, e levam nosso dinheiro embora, dinheiro esse que poderia ser injetado na economia local de outras formas. Temos, portanto, uma política de turismo que não se sustenta, pois se retirarmos o dinheiro público, nada acontece.

Não questiono a importância de eventos musicais, não apenas para estimular o turismo, mas também como forma de lazer, porém, numa ponderação de interesses com outros direitos da população, como saúde e educação, me parece clara a ilegitimidade desses gastos.

Vejam bem, essa política de shows é a mais adequada para suprir as necessidade de lazer de uma população que convive com eternos e graves problemas na saúde do município? É realmente necessário contratarmos shows de artistas consagrados nacionalmente, com cachês altíssimos, se poderíamos, atendendo igualmente o direito ao lazer, contratar artistas locais, por preços infinitamente menores, redirecionando a verba economizada para outros setores, mais prioritários? Por que o governo municipal não busca, como faz a Prefeitura do Rio, parceiros privados para ajudar no financiamento dos eventos? Não haveria na iniciativa privada empresas interessadas em diluir os custos dos shows com o Município, em troca da divulgação dos seus produtos?

Não bastasse valorizar a política do pão e circo, os governos recentes de Campos ainda parecem ter a necessidade de mostrar à população que podem fazê-la por conta própria, sem a ajuda de ninguém. Algo, de certa forma, esperado, para quem possui orçamentos bilionários e está acostumado ao desperdício.

Enfim, precisamos repensar a política de turismo e lazer do município, precisamos redefinir nossas prioridades, mas, sobretudo, precisamos incentivar práticas de gasto público eficiente, que estimule o desenvolvimento da iniciativa privada, em detrimento do paternalismo do poder público. É a hora de tirarmos os narizes de palhaço e cobrarmos dos gestores públicos.

Artigo publicado na versão impressa da Folha de hoje (30/01)

Nota do blog: Infelizmente, essa é não é uma prática apenas dos gestores campistas. É algo que contagia toda nossa região, talvez em razão do grande volume de receitas oriundas dos royalties do petróleo.

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