Saltos no treino de hipertrofia!? (Por Paulo Gentil)
Marcos Almeida 26/12/2013 05:17

O regime de trabalho dos saltos pode fazer com que eles sejam um método eficiente para promover melhorias na potência, mas não na hipertrofia muscular. Basta estudar um pouco sobre o tema (eu recomendaria ler o russo Iuri Verskhoshanski) e veremos que a indicação do uso de saltos é justamente promover melhoras neurais SEM promover ganho de massa muscular, o que é especialmente importante para os atletas que querem melhorar a performance sem aumentar o peso.

Há uma revisão interessante de pesquisadores croatas publicada no prestigiado Sports Medicine na qual se conclui que o treino de pliometria (que seria uma versão intensa desses saltinhos que o pessoal anda fazendo nas academias) pode até induzir hipertrofia, mas os efeitos são pequenos quando comparados ao treinamento com pesos (Markovic & Mikulic, 2010).

Além disso, ao saltar a ênfase é dada nos ângulos de 90 graus para cima, sendo que é justamente nas maiores amplitudes que há maior recrutamento de glúteos e quadríceps (Bryanton et al., 2012) e é justamente quando se treina nelas que se ganha mais força e massa muscular (Bloomquist et al., 2013)

Ou seja, treina-se ao mesmo tempo de uma péssima forma tanto em termos fisiológicos quanto fisiológicos, quando se pensa em hipertrofia! Então, qual a ideia de enfiar saltos no meio dos treinos? Aí vem uns que dizem que saltar é "funcional". Não sei sobre vocês, mas conseguir saltar em cima de uma caixa não é uma função que eu preciso muito na minha vida...

Só mais uma coisa para as mulheres. As mulheres normalmente sofrem cinco vezes mais ruptura de ligamento cruzado anterior que os homens e essas lesões acontecem bastante após os saltos (Wild et al., 2012).

Enfim, o salto pode ter aplicações interessantes, mas cuidado para não se promover um desgaste desnecessário e sem um objetivo definido!

Paulo Gentil

Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília

Fontes:

Bloomquist K, Langberg H, Karlsen S, Madsgaard S, Boesen M, Raastad T. Effect of range of motion in heavy load squatting on muscle and tendon adaptations. Eur J Appl Physiol. 2013 Aug;113(8):2133-42. doi: 10.1007/s00421-013-2642-7. Epub 2013 Apr 20.

Bryanton MA, Kennedy MD, Carey JP, Chiu LZ. Effect of squat depth and barbell load on relative muscular effort in squatting. J Strength Cond Res. 2012 Oct;26(10):2820-8.

Markovic G, Mikulic P. Neuro-musculoskeletal and performance adaptations to lower-extremity plyometric training. Sports Med. 2010 Oct 1;40(10):859-95.

Wild CY, Steele JR, Munro BJ. Why do girls sustain more anterior cruciate ligament injuries than boys?: a review of the changes in estrogen and musculoskeletal structure and function during puberty. Sports Med. 2012 Sep 1;42(9):733-49.

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    Marcos Almeida

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    Marcos Almeida é assessor esportivo, especialista em Ciência da Musculação e mestre em Ciência da Motricidade Humana.

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