Quando o futebol retrata a sociedade
José Paes 13/12/2013 15:14

No momento em que o mundo se despede do líder sul-africano Nelson Mandela, exemplo de tolerância, de respeito ao diferente, de como a conciliação é o melhor caminho para sanar divergências, nós, brasileiros, presenciamos pela TV pseudo torcedores de futebol se digladiando, numa verdadeira guerra campal. As chocantes imagens circularam por todo o mundo, causando apreensão às vésperas da realização da Copa do Mundo.

Em momentos como esse, dirigentes, políticos, jogadores, imprensa, a população em geral, todos cobram a adoção de medidas para conter a violência no futebol. Uns falam em delegacias especializadas, outros cobram a prisão dos “torcedores”, outros o banimento das torcidas organizadas. Evidente que algo precisa ser feito, que as autoridades precisam tomar atitudes concretas para conter a violência entre torcedores, mas, sinceramente, entendo que todas essas medidas são apenas paliativas e servem apenas para mitigar um problema que ultrapassa as quatro linhas: A degradação da sociedade brasileira.

A constante violência entre torcedores é apenas um triste retrato de como a sociedade brasileira vem desprezando valores básicos para o seu desenvolvimento. A falta de caráter, de respeito entre as pessoas, de respeito pela coisa pública, a falta de moral, banalizou-se a tal ponto que sequer mais nos indignamos.É necessário que eventos como esse de Santa Catarina aconteçam para sairmos da inércia e visualizarmos a que ponto nossa sociedade chegou.

Penso eu que a solução para esse grave problema não será encontrada no curso prazo, mas necessariamente passa por uma política de valorização da educação. Não estou dizendo, com isso, que todos os problemas de formação moral dos cidadãos serão resolvidos na escola, mas não há dúvidas de que a melhora na qualidade do ensino contribuiria, e muito, para a elevação moral da sociedade brasileira.

Além disso, é preciso combater essa sensação de impunidade que assola o País, nos mais variados setores. A impunidade estimula a delinquência. Vejo o caso do jogo de domingo. Centenas de “torcedores” entraram em conflito, mas apenas três estão presos. Uma situação absurda e que estimula a transgressão.

Enfim, precisamos pensar e refletir muito além do futebol. Precisamos tratar a sociedade como um todo. Só assim, cenas como essas deixarão o nosso cotidiano.

Artigo publicado na versão impressa da Folha da última quinta-feira (12.12)

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