Mensalão: Reflexões
José Paes 23/11/2013 12:37

As prisões dos condenados no processo do “mensalão” foram o estopim para uma série de manifestações na imprensa e nas redes sociais, a favor e contra as condenações. Há os que alegam que os condenados são presos políticos e que as condenações são fruto de um julgamento casuístico, político, pautado pela velha e conservadora mídia e por grupos de direita que não aceitam a derrota nas urnas. De outro lado, há os que consideram que o julgamento do “mensalão” será um marco no combate a corrupção, servindo de exemplo para a legião de políticos corruptos que desfilam impunemente pelo país. Sejamos honestos, nem tanto ao céu, nem tanto a terra.

Não se pode negar que o julgamento tenha sofrido influência de aspectos políticos. Também não se pode negar que a mídia, seja ela conservadora, independente ou o que for, também exerceu forte pressão e influência. Mas não sejamos bobos, afirmar que os réus, sobretudo os ex dirigentes do PT, são presos políticos é uma falácia sem tamanho. Como podem dois membros do partido da situação, da alta cúpula do governo e do PT, serem presos por perseguição política dentro do País que o seu governo comanda há 11 anos? Que força é essa que a velha imprensa possui, que desbanca o poderio de um governo com alto índice de aprovação popular? Sejamos objetivos e honestos: Pode-se até discordar das teses jurídicas que sustentaram a condenações do Mensalão, mas não há elementos mínimos que demonstrem que os membros do Supremo Tribunal Federal - cuja grande maioria foi indicada pelo governo petista - atuaram de forma estritamente política. Tentar retirar a credibilidade da mais alta corte do País, se apegando a um ranço de perseguição proveniente do período da ditadura não é algo aceitável.

Não pensem os mais radicais, que o fato de defender as condenações dos “mensaleiros” do PT me faz comemorar a demora no julgamento de outras importantes demandas, como o denominado “mensalão tucano”. Toda suspeita de corrupção, seja ela proveniente do partido que for, deve ser apurada e julgada. O que não se pode conceber, é tentar provar a inocência de uns, pela ausência de julgamento de outros.

Falando em corrupção, não acredito que o julgamento do “mensalão” terá o efeito de modificar o caótico cenário brasileiro, como pensando por alguns. Enquanto não se modificar o modo de fazer política no país, vivenciaremos diversos outros escândalos, apenas com novos personagens.

Pode até parecer clichê, mas de fato se faz necessária uma reforma política, em que se discuta, sobretudo, um novo modelo de financiamento de campanha, ponto de partida para os mais variados mecanismos de desvio de verbas públicas.

Enfim, comemoro a decisão do STF, mas não a vejo como remédio para combater a corrupção em nosso país. Precisamos sim é de reformas, de um novo modelo de política e também, lógico, de um pouco mais de vergonha na cara.

Artigo publicado na versão impressa da Folha do dia 21.11

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