Em Campos, saúde ainda na fila
31/10/2013 08:10

Na terra do petróleo, dos milhões em royalties, a cultura de dormir em filas para marcar uma consulta médica não chega ao fim, continua sendo rotina na vida de uma parcela da população que precisa de atendimento público. Na noite de terça-feira (29), por volta das 21h, a equipe da Folha encontrou dois locais com pessoas virando-se como podiam para passarem a noite e conseguir marcar às 7 horas da manhã a consulta. Na Unidade Básica de Saúde (UBS) do parque Santa Rosa, em Guarus, algumas especialidades só tinha disponibilizada uma vaga. Desde as 21h, oito pessoas já se amontoavam para marcar a vez.  Na área central, no Centro de Referência e Tratamento da Criança e do Adolescente, um pai passou toda a madrugada com a filha, que é portadora de doença mental e paraplégica, no local para conseguir marcar um neurologista. O governo municipal de Campos informou que não existe essa necessidade de fila, já que o agendamento é informatizado. Mas admitiu que existem especialidades com demanda maior do que a oferta.

Na manhã de desta quarta, na UBS do parque Santa Rosa, servidores da unidade disseram que já pediram à secretaria de Saúde que aumente o número de vagas para algumas especialidades — não informaram quais, a relação que fica fixada tinha sido retirada —, pois o posto atende uma demanda grande de pacientes, não só da área, mas de bairros vizinhos. A dona de casa, Claudiana Pereira, de 38 anos, conta que para conseguir uma consulta com um nefrologista, teve que revezar com o filho na fila desde as 9h da manhã de terça, pois só havia uma vaga e a distribuição das fichas aconteceria desta quarta, às 7h. “Eu revezei com meu filho para não ficar o dia todo aqui no posto. Só tinha uma vaga para nefrologia, eu preciso da consulta e se saísse da fila perderia. A gente não tem escolha, ou fica aqui pra guardar lugar ou só é consultada daqui a um mês se abrir vaga”, disse Claudiana.

No Centro de Referência e Tratamento da Criança e do Adolescente, localizado na Rua Gil de Góis, no Centro, o mesmo caso estaria acontecendo. A fila começa a se formar por volta das 20h da noite anterior à marcação. Alguns pais, sem ter onde deixarem seus filhos, os levam para a fila. Alguns acabam dormindo em ma-las de carros estacionados, enquanto os adultos guardam.

O aposentado Magnaldo Macedo, de 51 anos, pai de Camila, de 17, que é especial, enfrentou a fila desde as 21h de terça também para conseguir marcar a consulta da filha, que faz tratamento e acompanhamento na unidade. “É complicado, pois não tenho com quem deixar minha filha. Imagina isso todo mês para marcar a consulta?”, indagou.

 

Doutor Chicão fala sobre o problema

O vice-prefeito e secretário de Saúde de Campos, Doutor Chicão, informou que a questão que ainda leva uma parcela da população para as filas de unidades saúde é cultural.

 — Ainda existe a cultura das filas. É importante ressaltar que, hoje, a rede de saúde pública de Campos, na questão de marcação de consultas, é toda através de sistema de agendamento. Considero essa situação, do caso relatado da UBS do parque Santa Rosa, como pontual. Hoje, já não se vê tantas filas no município, sei que até existem em alguns locais, mas não é como ocorria há alguns anos. Esse número é bem reduzido — disse o secretário.

Quanto à demanda relacionada ao número de consultas para certas especialidades médicas, como as relatadas na UBS do Santa Rosa, no caso da paciente que buscava uma consulta na área de nefrologia, ou de neuropediatra, em outro caso no Centro de Referência e Tratamento da Criança e do Adolescente, o secretário disse que para algumas especialidades a demanda ainda é maior do que a oferta de profissionais. “Mas esses pacientes podem ser atendidos em outras unidades de saúde, que não seja o de origem do pedido e em outro dia”, ressaltou.

A assessoria da secretaria de Saúde disse que existe uma insuficiência de profissionais de algumas especialidades no sistema público, em todo o país, como endocrinologia, neurologia, reumatologia, entre outras. Porém, em geral, a demanda vem sendo atendida, graças à descentralização da marcação de consultas. Na UBS do Parque Santa Rosa, são realizados 4 mil atendimentos por mês, incluindo vacinação, exames, consultas, entre outros.

 

Amaro Júnior

Dora Paula Paes

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