Serviços básicos não passam de um sonho em Mussurepe
21/10/2013 09:10

Os moradores de São Bento (Mussurepe), na Baixada Campista cobram atenção das autoridades às necessidades básicas da comunidade. Depois de dois meses da primeira visita da reportagem da Folha, nada mudou — eles continuam sem água encanada, rede de esgoto, unidade básica de saúde, escola e creche. Além disso, os moradores reivindicam uma área de lazer para atender as crianças. A localidade fica a35 quilômetrosdo Centro da cidade, onde está localizado o tricentenário mosteiro dos beneditinos erguido em 1690, após doação de faixa de terra da capitania de São Thomé, administrado inicialmente pelo frei Fernando de São Bento, que apesar de ser ponto turístico do município, estaria sem manutenção, segundo os próprios moradores.

O departamento de Infraestrutura informou que os alunos da localidade não estão desassistidas. No distrito, existem três escolas municipais: E.M. José das Chagas Pinto, E.M. Francisco Ribeiro Siqueira e E.M. Pedro Barbosa. Ainda, nos distritos vizinhos de Baixa Grande e Saturnino Braga, estão sendo creches modelos. Enquanto as obras são finalizadas, a Creche Maria da Conceição Santos Tavares,em Baixa Grande, atende às comunidades próximas, como São Bento.

São Bento é uma das rotas para o Porto do Açu (São João da Barra). As casas foram construídas no entorno do Mosteiro, mas muitas estão abandonadas. São pouco mais de dez residências e apenas em cinco ainda moram famílias, que parecem estar esquecidas pelo poder público.

A pedagoga Sirlene Nogueira, 52 anos, disse que falta saneamento básico. “A localidade não possui rede de água nem de esgoto. A água para consumo tem que ser mineral. Para lavar utensílios os moradores usam filtro, para água sair mais clara”, explicou. 

A falta da rede de esgoto é outro problema para os moradores. “Esgoto não tem, é fossa. Os terrenos não têm dimensões ideais para fazer a fossa a uma distância adequada do poço”, relatou a pedagoga.  A doméstica Elérgia da Silva, de 53 anos, contou que em época de seca os moradores sofrem com a falta de água. “Quando não chove, falta água nos poços. Isso acontece em janeiro e fevereiro.”, disse.  Através de nota, a presidente da Empresa Municipal Habitação (Emhab), Simone Ferreira, disse que São Bento está incluído entre os 45 locais do interior que serão contemplados pelo Programa Águas da Comunidade, que promoverá a construção de sistema de captação, tratamento e adução de água potável até às residências. A localidade de São Bento não está na área de contrato da concessionária Águas do Paraíba.

Os moradores também não contam com Unidade Básica de Saúde. “Aqui não tem posto, sóem Baixa Grande. Asaúde é precária”, relatou a pedagoga Sirlene. A segurança é outra preocupação dos moradores de São Bento. Além dos imóveis abandonados, os assaltos cresceram na região.

São Bento não atende aos critérios do Ministério da Saúde para a implantação de uma unidade de saúde 24 horas. O governo federal também não preconiza que haja uma unidade em cada bairro, e os atendimentos são territorializados.

 

Mosteiro precisa de pacote de reforma

O Mosteiro de São Bento continua sem manutenção. Dentro do imóvel, é possível ver paredes com mofo e infiltração. Segundo Alessandro Ribeiro, desde a última reportagem nada mudou. “Não houve nenhuma manutenção, nem vistoria. O Mosteiro está em terrível estado de conservação. Ele está no site da prefeitura como ponto turístico e recebe escolas para visita, mas está abandonado”, explicou.

Através de nota, o presidente do Conselho de Preservação do Patrimônio Arquitetônico Municipal (COPPAM), Orávio de Campos Soares, informou que o Mosteiro foi inventariado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). O Mosteiro também “é ‘tombado’ (incluindo o cemitério) pelo Coppam, como patrimônio arquitetônico, histórico e religioso, pela Resolução 003/2011”, segundo a nota. Ainda segundo Orávio, cabe ao proprietário a manutenção de seu imóvel, seja tombado, preservado ou tutelado e a prefeitura não pode investir, de acordo com a lei.

 

Pais reclamam da distância da área de lazer

A localidade de São Bento não oferece um local adequado para o lazer das crianças. O auxiliar de escritório do Mosteiro, Alessandro Ribeiro, 37 anos, tem uma filha de três anos que não tem onde brincar. “Faz muita falta uma área de lazer mais próxima, as crianças só brincam nos quintais de casa”, disse. Na última reportagem, há três meses, o secretário municipal de Obras e Urbanismo informou, através de nota, que os moradores podem recorrer à Praça de Mussurepe, que conta com quadra de esportes. A resposta gerou revolta entre os moradores. “Como vou levar minha filha para Mussurepe? Como a criança vai pra lá sozinha de bicicleta ou de ônibus? Fica a uns cinco quilômetros daqui, como vou levar todos os dias?”, questionou Alessandro. Sirlene Nogueira também se revoltou com a resposta. “Da última vez, os moradores reivindicaram uma praça e a autoridade respondeu que haviaem Mussurepe. Seeles estivessem aqui, gostariam de ouvir isso?”, indagou.

A falta de escola e creche também prejudica os moradores. “Minha filha estuda em Ponta de Coqueiro, minha esposa pega dois ônibus para ir e dois para voltar”, disse Alessandro. 

A secretaria de Obras não respondeu ao e-mail da reportagem até o fechamento da edição, na sexta às 19h.

 

Lohaynne Gregório

Arthur Damasceno

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