Era para ser uma declaração de amor, mas os vereadores não deixaram
José Paes 24/10/2013 18:08

Como me casarei no próximo sábado, nesta semana pretendia preparar um artigo mais light, sobre a importância desse momento para minha vida. Confesso que dependendo da minha inspiração sairia até mesmo uma declaração de amor pública, coisa que, aliás, minha futura esposa merece, e muito.

Mas diante dos lamentáveis fatos ocorridos na última terça-feira, quando professores, que até então vinham fazendo manifestações completamente pacíficas, foram impedidos de acompanhar a audiência pública para discussão do orçamento de 2014, fui obrigado a mudar meus planos.

O que se viu na terça-feira superou todos os limites da razoabilidade. Algo verdadeiramente vergonhoso, inconcebível, deprimente. A cena das portas do prédio legislativo fechadas com correntes, como se do lado de fora houvesse um grupo de manifestantes ensandecidos, representa tudo de mais desprezível que uma instituição pública pode transparecer.

Não consigo compreender como uma audiência dita pública, para discutir um dos aspectos mais importantes de uma Administração Pública – o seu orçamento -, é realizada a portas fechadas, impedindo-se a entrada da população. Muitos dirão – como parece ter dito o Presidente da Câmara, que a medida foi tomada para evitar baderna. Discordo complemente. Não se pode presumir a baderna, sobretudo pelo fato dos profissionais da educação sempre terem mantido uma postura de paz, de diálogo.

Se não havia clima ou segurança para a realização da audiência, que a mesma fosse cancelada e outra designada, o que não se pode conceber, é que uma audiência prevista em lei, para discutir algo tão importante, seja esvaziada para evitar eventuais e não factíveis confusões. E as demais pessoas, que nada tinham a ver com o movimento dos profissionais de educação e tinham o interesse em acompanhar a audiência, como ficam? E a dita transparência tão propagada pela casa legislativa, como fica?

O mais prudente, até mesmo para evitar questionamentos judiciais sobre a legalidade da audiência pública, como ocorrido na Capital recentemente, seria a sua anulação pelo legislativo e a designação de uma nova. É necessário que a Administração da casa reconheça seu gritante erro e o repare, até mesmo para mitigar a absurda injustiça cometida com a população em geral e com os professores, em especial. Que tal medida seja cobrada pela oposição e pela sociedade como um todo.

Por fim, para reparar a gigantesca injustiça que acabo de cometer com a minha noiva, gostaria simplesmente de dizer o seguinte: Te amo! Que o sábado chegue logo! As portas da Igreja estarão livres das correntes, para que possamos dizer o tão aguardo “sim”!

Artigo publicado na versão impressa da Folha de hoje (24.10)

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