“Cabruncos” não pretendem sair das ruas
lucianaportinho 12/08/2013 16:43

Para quem pensa que as manifestações dos “Cabruncos Livres” em Campos perderam a força, registra nada mais que uma fotografia de um momento. De acordo com os membros, política é movimento a cores; é a expressão de um processo em curso. Quem viu de relance um grupo de jovens — com baldes e vassouras em punho — simbolicamente lavando a sujeira das escadarias da Câmara de Campos, na última terça-feira, pode ter ficado com a impressão de mais um ato (o quarto ato) dos jovens campistas.

Frases como “Força não se mede só pela quantidade de gente” e “Não estamos fazendo teatro para a sociedade” são afirmações de um dos integrantes do grupo, Alexis Sardinha. Ele esclarece que naquele ato quem de fato estava lá era o coletivo de arte dos Cabruncos Livres. “Nosso momento é de ganhar qualidade. A fase inicial das grandes mobilizações de massas na rua passou, cumpriu o seu papel histórico. Isso já era esperado por nós. Atingimos o nosso objetivo. Nossa pauta de reivindicações ocupou o noticiário dos blogs, sites locais e jornais. Vem coisa nova por aí,” diz Alexis. O cientista político e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) Hamilton Garcia desenvolve entendimento na mesma linha de raciocínio. “As manifestações foram uma onda que entraram para o calendário político do país e que está agora em seu momento vazante. Mesmo assim, é interessante ver como os grupos juvenis mais conscientes estão se organizando para continuar ocupando o espaço público, sustentando a luta por mudanças com maturidade e perspicácia que muitas lideranças mais velhas da cidade não demonstram ter”, fala o cientista social. O movimento dos “Cabruncos” veio para ficar, é o que nos diz outro integrante, Luís Felipe Romano. “Tivemos um momento de ápice, espelhado no movimento nacional, alguns foram às ruas até sem saber o que estava reivindicando. Passado esse momento, continuamos com as reuniões, formamos comissões de estudo centradas na pauta municipal”, frisa. Luiz Felipe constata que da parte da base aliada do governo local faltam ações proativas, não reacionárias. “Reunimo-nos na Câmara com eles, nos falaram que tudo era passível de ser materializado e nenhuma ação concreta até agora aconteceu”. Luís Felipe sabe que, de alguma forma, o poder municipal os ignora, “Eles nos acusam de não ter densidade política. A pauta dos Cabruncos é de todos que querem mudar a realidade. Campos não teve conquista, eles não avançam na transparência e no compromisso com a sociedade por falta de vontade política. Para eles, vale a falsa democracia apenas através do voto de quatro em quatro anos”, sentencia. Um movimento que começa sem líder Ainda que os representantes dos “Cabruncos Livres” não admitam líderes no movimento, este se organiza, tem divisão interna de tarefas. E, mesmo que evitem falar — ou reconhecer — lideranças internas, “parece que a vanguarda do movimento vai assumindo sua configuração coletiva, já tendo em mente o tamanho e a complexidade dos problemas sociais em tela”, sugere o professor da Uenf,  Hamilton Garcia. Se em um primeiro momento, eles estavam circunscritos aos estudantes, de lá para cá, eles avançaram; conversam entre si e com demais setores da sociedade, como sindicatos, movimentos sociais e a universidade, planejam os próximos passos. Alexis entende como uma fase diferente do movimento. No que Hamilton concorda, “a próxima onda vai encontrá-los mais preparados e bem articulados, inclusive com o restante da sociedade civil, o que aumenta as chances de obterem sucesso em suas reivindicações” frisa ele.
Luciana Portinho - publicado hoje (12/08),Folha da Manhã,página 2.
Foto: Rodrigo Silveira

   

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