Da música ao atabaque do candomblé
lucianaportinho 01/08/2013 16:43
Ele é baiano de nascimento e o campista o conhece como um cantor de Axé e de MPB. Durante alguns anos arrastou multidões em cima de um trio, no Farol de São Tomé. Hoje o vemos dedilhando suave o violão na noite goitacá. Seu nome Jota Leone. Anda banido dos grandes shows que a prefeitura organiza, mas, continua popular. Ganhou tempo então de dedicar-se a outra faceta. Jota Leone, há alguns anos acrescentou novas palavras ao seu nome e virou Jota Awofa Ifajánà Ajagajiji Leonni. É que há dois anos foi iniciado no Culto de Ifá, assumiu de vez a sua identidade religiosa e inaugura a Casa do Rei Besen, “Kwe Arosv-Ro Besen”. Vai ser no próximo sábado, a partir das 20h, a solenidade festiva de abertura da casa de candomblé, em Campos. É uma casa de Axé (força maior); local de consultas e socorros espirituais. O Axé, ele explica, “É como uma força espalhada da terra para que todos possam usufruir das forças da natureza mais simples que são a água, a terra, o fogo e ao ar”. [caption id="attachment_6750" align="aligncenter" width="500" caption="Ft. Hellen de Souza"][/caption]

 

- Sou baiano e como tal já nasci entrelaçado na religião. Foi uma mãe de santo que fez meu parto. Continuo sendo o Jota Leone músico, não vou parar de cantar nunca. Achava bonita a religião, mas fugia, não queria comprometimento, exige dedicação. É um caminho árduo, mas, de vitória, de conquista da paz, abro uma casa de respeito, tranquila – fala Jota. No espaço da casa, propositalmente igual a uma casa de roça, a preparação para o dia de inauguração pública é notável. Jota descreve como uma ‘Roça de Santo’ o centro de candomblé. Em ioruba (nagô) Kwê significa casa. Para entender o ritual do candomblé é preciso certo esforço. A origem é africana, é de lá que saem as referências culturais desta religião que preserva o primitivo da vida. É então compreensível que tudo seja meio incompreensível no primeiro contato. Nessa religião afro-brasileira as palavras possuem mais de uma significação. Todo corpo docente da casa, desde o Babalaô Baba Ifajèmi, veio de São Paulo com a função de criar em Campos uma casa de Axé, “Jota se fez merecedor da nossa dedicação, merece o nosso respeito”, frisa o babalaô. No Culto de Ifá, onde Jota foi iniciado a conduta moral exigida aos adeptos é rígida e complexa. Ifá é a codificação genética do mundo e representa também a força e a coragem maior. Se Olodumari (Deus) é o grande senhor, Exu é o movimento na vida, “É a polícia do céu na terra. Popularmente Exu é caracterizado como o Diabo, nada disso, ele é o vigia de Deus na terra”, esclarece ele. Se no senso comum macumba e candomblé se equivalem, para os adeptos dessa última, a macumba não passa de uma transfiguração pejorativa ou ainda um instrumento musical. Tudo no ambiente da casa tem uma razão de ser e um nome estranho.  No ambiente os elementos existem para criar o circuito de equilíbrio. Segundo o dogma do candomblé o circuito do equilíbrio é a energia das forças elementares da natureza ou força simples. É com o nascimento do humano que a forma dessa força se modifica, passa à manipulação surge a magia. Medo é palavra banida do espaço. “Ao conhecer a fé jamais temos medo de nós mesmo, é o amor que transforma, é acreditar em si mesmo”. Nessa atmosfera de louvor a criança é considerada o maior tesouro, em prol da união, agradecem à força da criação. Em meio a panos de brilho e turbantes coloridos a cor branca predomina. Ao som de atabaques e chocalhos, eles cantam e dançam. Pela força das palavras, emana o agradecimento da vida.
Luciana Portinho
Capa da Folha Dois de hoje, 01/08.
   

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