A Mosca Cega...
bethlandim 05/07/2013 21:07

Estava sossegada no quarto de uma aconchegante pousada campestre, escondida entre os pinheiros, numa tarde noite muito agradável... Ao tempo do por do sol escuto o som de uma desesperada luta de vida ou morte perto de mim. Uma mosca está gastando as últimas energias de sua curta vida na vã tentativa de voar através da vidraça. O zumbido das asas rápidas conta a pungente historia da estratégia da mosca: tentar sempre! Mas não está dando certo. Os esforços frenéticos não dão esperança de sobrevivência. Ironicamente, luta é parte da armadilha. Por mais que tente, é impossível para a mosca atravessar a vidraça. Contudo, esse pequeno inseto empenha a vida para atingir sua meta através de puro esforço e determinação.

A mosca está condenada. Vai morrer na vidraça. A três metros dela, a porta está aberta. Dez segundos de vôo e essa criaturinha poderia chegar ao mundo externo que deseja. Apenas uma fração desse esforço desperdiçado bastaria para se livrar da armadilha criada por ela mesma. A possibilidade de travessia está ali. Seria tão fácil. Por que a mosca não tenta algo drasticamente diferente? Como se fechou tanto na ideia de que determinada via e determinado esforço prometem? Como se fechou tanto na ideia de que determinada via e determinado esforço prometem o sucesso? Que lógica há em continuar até a morte procurando chegar a um lugar diferente através da mesmice? Sem dúvida, essa solução faz sentido para a mosca. Infelizmente, é uma ideia que leva à morte. Tentar sempre não é necessariamente a solução para chegar a um fim. Pode não ser uma promessa verdadeira de obter o que se quer na vida. De fato, às vezes, é uma boa parte do problema. Se você empenha suas esperanças de travessia, tentar sempre a mesma coisa, pode matar as oportunidades de sucesso.

Como nos diz Confúcio: “Nada é bastante para quem considera pouco o que é suficiente.” Muitas vezes insistimos em uma única tecla, ficamos cegos, a bater insistentemente ou porque não dizer cegamente, naquele “único caminho”... E então, não levantamos a cabeça para vislumbrar o horizonte a nosso frente... não nos permitimos tirar os “óculos escuros” que tiram nossa visão... não arejamos o cérebro... na maioria das vezes, nossa teimosia nos cega... Já repararam que as pessoas que tem maior poder de inventividade, de criar o novo, são aquelas que procuram mudar sempre... São aquelas que gostam da mudança e não se desestabilizam com ela, são aquelas que não se acomodam, buscam a satisfação na simplicidade, que é bem diferente da “mesmice”... Saint Exupéry nos fala que... “Só se vê bem com o coração, pois o essencial é invisível aos olhos.” Quantas vezes ficamos a bater na vidraça da janela? Quantas vezes deixamos de olhar para o lado e ver uma imensa porta a nos chamar? Mais do que uma tentativa, isto é um exercício diário que temos que fazer várias vezes ao dia... Não devemos reclamar da vida, e sim levantar a cabeça, pois dias ruins são necessários para que os dias bons valham à pena.

Steve Jobs nos deixou um legado de acreditar, de sonhar, e mais do que isso, tentar sempre outras portas:

“Cada sonho que você deixa para trás é um pedaço do seu futuro que deixa de existir.”

Não podemos, nem devemos gastar as nossas energias para “desafinar o piano”, batendo na mesma tecla... Enquanto reclamamos da vida, tem gente lutando por ela... Não nos condenemos como a mosca na vidraça... sempre existirão milhares de possibilidades e caminhos... aprendamos a exercitar a nossa liberdade interior para que possamos olhar para o mundo sem nos aprisionarmos, pois na maioria das vezes, nós é que colocamos as grades do nosso cárcere... Quantas armadilhas você cria para você mesmo? Pois o ideal é ser feliz e não perfeito!!! A perfeição exacerbada nos leva a cobranças e aprisionamentos, e nos impede também de exercitar o perdão! Pense nisso... Há sempre uma porta, um rasgo de sol, uma fresta de luz para aquecer nossos dias e descortinar o horizonte de beleza colorida que é viver! Voemos sempre... em liberdade... rumo às montanhas e aos vales...

Pois muitas vezes não podemos escalar as grandes montanhas, mas podemos contorná-las através dos vales... Bater de frente na maioria das vezes não demonstra sabedoria e contornar não significa subterfúgio, mas sim uma gama de alternativas que nos possibilita ver outros caminhos que o horizonte nos apresenta... É sempre bom sermos vales na nossa vida e instrumento na vida dos que nos cercam, porque é maravilhoso escalar as montanhas, é um desafio instigante, e nos traz emoções e vivências maravilhosas, mas quando se torna impossível, nada como caminhar pelos vales... Pense nisso e tire a venda dos olhos... pare de criar suas próprias armadilhas... deixe de dar cabeçadas na vidraça para que possa vislumbrar as várias frestas e portas que existem ao seu redor...

Com afeto,

Beth Landim

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