Comédia quase divina
lucianaportinho 17/06/2013 11:06
O ator e escritor Adriano Moura dedica seus dias ao trabalho em seu novo livro, que será lançado em setembro. “O Julgamento de Lúcifer” vai ao mercado pela Editora Novo Século (SP).  Adriano, que é campista — professor de Língua Portuguesa e de Literatura e professor convidado na Pós de Literatura, Memória e Sociedade do Instituto Federal Fluminense — deseja que o livro seja lido fora daqui, também. Essa a razão de buscar uma editora longe de Campos. Ao contrário da obra de ficção nova que escreveu, Adriano tem os pés no chão; vai encarar uma maratona para fazer com que “O Julgamento de Lúcifer” chame a atenção do leitor nacional. [caption id="attachment_6486" align="aligncenter" width="600" caption="Ft. Google"][/caption]

Por si, a história do livro vai atrair. Passa-se no inferno. Levanta polêmica. É latina. Através da mágoa de Lúcifer, que se considera o filho preterido, pois afinal, “Se tudo é criação de Deus, também faço parte dele”, crê o personagem.  Na ficção, Lúcifer aparece como um apaixonado de-le. Os outros querem culpa-lo por tudo de ruim que acontece. “Pretendo debater algumas coisas, entre elas, a responsabilidade de cada um, na mesma linha de Sartre em a afirmação célebre, “O inferno são os outros”, fala Adriano.

Na trama, um sobrevoo na era cristã, em dois mil anos de história — três líderes religiosos vão ao inferno, seduzem Lúcifer pela vaidade para que participe de um Reality Show. São investidos bilhões de dólares no programa. Querem que assuma crimes como o de ter sido torturador na ditadura militar brasileira, o responsável pela pedofilia e sedução de menores nas hostes da Igreja, um médium charlatão. Os fatos são tratados como ficção, o narrador usa a linguagem de direção de teatro, uma ficção (ou realidade) dentro da ficção. Ele vira o jogo, no julgamento público; se torna réu e, através de um controle remoto universal passa a disparar as barbaridades e hipocrisias dos que o acusam em imagens diretas — posts — exibidas nas telas do mundo inteiro.

— Um reality show, o BBB, por exemplo, é editado, roteirizado. Quem está lá interpreta 24h, é ficção pura — alerta. Na realidade quando em setembro o livro impresso chegar às livrarias, 40% dele, poderá ter sido lido virtualmente através do sítio eletrônico, www.ojulgamen-todelucifer.blogspot.com.br. Nele, semanalmente é baixado um capítulo. “A sociedade está mediatizada, se ninguém ouviu falar em você no ambiente virtual, você não existe. Esta prática também é adotada pela música e o cinema. Se você não está no écran é como se não existisse. Os repetidos vídeos em que pessoas aparecem cantando, dançando, fazendo uma palhaçada qualquer, atestam essa realidade. São os tais 15 minutos de fama do Andy Warhol”, frisa ele. Além disso, o livro que já foi peça teatral, “fiz o caminho inverso”, volta em Campos ao palco como dramaturgia e como debate. Adriano quer montar uma mesa com um espírita, um católico e um evangélico, ele corre atrás de patrocínio.  O livro está em fase de produção, nele o escritor não pode mais fazer alterações, só revisões gramaticais. “É gostoso escrever o livro. Chega o momento de dar fim, enviar à editora e esquecer, pois senão a cada leitura que faço altero alguma coisa”, conta demonstrando total prazer na escrita. “O poder de criar vida nos personagens, de manipular a vida deles é meio de criação mesmo, de Deus. O personagem ganha vida própria, a gente quer mudar o rumo e ele não deixa”, elucida. Adriano se expande ao falar do ato de escrever, “Não acredito em inspiração e sim em ideias. As ideias já estão aí, são pré-ideias. O autor as pega, brinca com o som, imprime sentido. A literatura é imagem. Palavra criando imagem é como manusear a imagem. “O Julgamento de Lúcifer” levou cerca de um ano e meio para ser escrito. Ele gosta de escrever de manhã, com a cabeça fresca. Perde ideias? “Muita coisa. O que toma tempo não é escrever a história. Ela está escrita e aí você começa a buscar a palavra, a encontrar a forma, a sintaxe da frase, a escolha do verbo certo. São semanas, é algo meio esquizofrênico, um monte de personagem falando. Se o som não agrada, mudo tudo”, relata. A aposta é que divirta muita gente. “Se vai vender ou não é sem controle. Sei que o mercado editorial é difícil para o autor desconhecido”.  É boa aposta. Luciana Portinho (Capa da Folha Dois de ontem, domingo, 16/06)  

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