Registros
lucianaportinho 26/05/2013 16:25
Registros Luciana Portinho [caption id="attachment_6361" align="aligncenter" width="500" caption="ft. Google"][/caption]

 

Moro em bairro que uns chamam de Centro, outros de Lapa e alguns de Parque Oliveira Botelho. Um bairro com três nomes só poderia ser como é: híbrido. É Campos, em um jeitão de cidade média. É interior de uma cidade pequena, é meio roça. Minha rua com nome de poeta, Gonçalves Dias, é paralela à Rua Riachuelo, em séculos passados já foi um dos limites da área urbana. Por trás da Riachuelo, passava a ativa linha do trem. Cheguei a pegá-lo no fim, vinha ao final da tarde com o apito ligado. Passava atrás da Creche Cochilo, onde meu filho mais velho, Dimitri, então pequenino estudava, já que eu trabalhava o dia inteiro. Estamos perto e distante da parte em que pulsa o boom da especulação imobiliária. Isso aqui creio, ainda sobreviverá por mais de uma década intocável. Moro em uma casa, agradável. Pra mim é bonita, meio antiga meio moderna, em dias de chuva, chove. E a gente aprecia a água presente que escorre por duas pequenas áreas internas, feitas desse modo para que também venha lavar um pouco a nossa alma. Nesse espaço doméstico, além dos humanos, habitam dois cachorros e uma gata carinhosa. Ela é charmosa, foi adotada no Rio de Janeiro, ganhou o nome francês da mais vistosa de todas as mulheres: Bardot. Hoje, um domingo de sol, acordamos com a cantoria dos passarinhos. Aqui em volta eles ainda vivem nas não muitas árvores e quintais. Acordada de olhos fechados, enfiada na coberta quente veio o som do “Está passando o carro das variedades, aproveite freguesa, ele está passando hoje, mas, não passa todo dia”. É um dos tantos carros de produtos que passam pela nossa porta. Vez, em quando, me divirto com a voz de trombone que irrompe “O CARRO DO GÁS ESTÁ NA SUA RUA”, em contraste com a esganiçada “ Batata, cebola, maxixe, inhame, abóbora”, do carro concorrente. Aqui nesse espaço urbano, vizinho cumprimenta vizinho. As pipas voam pelo céu. Passa carroça recolhendo entulho, tem mini supermercado com o básico que ainda vende pela caderneta mensal. E ainda, padaria que te avisa na porta quando sai a broa quentinha. Vai fazer seis anos que viemos parar nesse canto de Campos. Não sei quanto tempo mais fico, quando me for, carregarei boas lembranças. Vou torcer para que intacto assim permaneça.

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