Artes e ofícios
lucianaportinho 22/05/2013 17:42
Eles são campistas: uma mulher e dois homens. Os três têm filhos. Cada um tem duas profissões distintas. Em comum: uma das profissões é do ramo artístico. Lúcio Magno é médico ortopedista, cirurgião e músico. Olga D’Lucas é assistente social, escultora e artista plástica. Carlos Alberto Bisogno é petroleiro e cineasta. Como conseguem conciliar com a mesma ênfase as duas profissões é algo curioso, os três provam ser possível. [caption id="attachment_6312" align="alignleft" width="300" caption="Ft. Edu Prudêncio"][/caption] Músico desde os dezesseis anos, quando ganhou o Primeiro Festival de Música do Colégio Auxiliadora, o jovem Lúcio aprendeu novo a conciliar os estudos de sua futura profissão médica com a adrenalina sonora da guitarra. Uma parte das despesas da Faculdade de Medicina ele levantava tocando na noite, nas festas do Tênis Clube e nos bailes. “Sábado, pelas manhãs tinha aula de urologia, presença obrigatória. Parava o carro em frente à faculdade, dormia com a roupa que tocava. Naquele tempo chegaram a me perguntar: Menino você faz o quê na noite? Você é dançarino, é leopardo”? conta ele sorrindo. Foi fazer residência médica em São Paulo, especializando-se em Medicina Esportiva e Cirurgia de ombro e joelho. “Vendi guitarra e pedais, para comprar geladeira e fogão. Montei um apartamento, por lá fiquei seis anos sem jamais perder o desejo de voltar, de ter filhos e retornar a tocar”, fala ele. O segredo de até os dias de hoje conseguir levar a bom termo atividades tão diferentes, segundo Lúcio é não deixar acumular de uma área para outra. A agenda profissional dele é pesada. Encontra na música sua válvula de escape. Sua banda de pop rock é conhecida na cidade “Acústico Drive”, querem gravar um CD com composições próprias até final do ano. “A música me equilibra. Meus pacientes sabem que eu toco e me prestigiam, é bom. O segredo é não deixar furo em nenhuma área, por isso, tenho prioridade. Por mais que leve a sério tocar na noite, administro, não toco em noite anterior à cirurgia”, exemplifica. [caption id="attachment_6314" align="alignleft" width="300" caption="Ft. Hellen de Souza"][/caption] Dos três citados, Olga foi a última a estabelecer laços firmes com arte. Mulher, mãe de cinco filhos, a dupla jornada de trabalho como assistente social desde cedo consumiu seu tempo. Veio de uma família “humilde”, o pai mecânico na Usina de Baixa Grande. Estudou no Iepam, “Colégio onde ricos e pobres andavam juntos. Eu andava feito uma princesa, minha tia costurava para me sustentar”. Há 31 anos, Olga exerce a função de assistente social na prefeitura de Campos. Em 2005, no bojo de uma depressão descobriu-se — e foi descoberta — uma escultora por inteiro. Tem uma escultura sua no acervo da Rainha Elizabeth, outra escultura sua na Praça Brasil, cidade de Nagoia, Japão. É uma autodidata, provavelmente ajudada por sua extrema sensibilidade. A conversa transcorre nos olhos marejados da inquieta ariana, “Na Arte recupero energia, exorcizo meus fantasmas. A escultura me toma muito tempo, acaba com minhas unhas, é um desgaste físico, uma catarse. Sinto-me na obrigação de colorir o mundo. Não explico meus trabalhos, cada um traz a sua interpretação”. Como assistente social, Olga trabalha com a miséria humana, se sente impotente. “Trabalho para fazer valer os direitos do paciente, não o interesse contrário da instituição. Consigo amenizar um pouco o sofrimento das pessoas, faço um plantão semanal de 24h no Hospital Ferreira Machado e lá não estou passeando”. [caption id="attachment_6315" align="alignleft" width="300" caption="Ft. Lívia Nunes"][/caption] Quem diria que dá para ser petroleiro e cineasta? Pois para Carlos Alberto Bisogno, não poderia haver melhor combinação. A Petrobrás (é técnico de operação concursado) é a fonte de renda dele. “Fico 15 dias lá e 21 dias aqui; o maior tempo é dedicado ao cinema e mesmo lá o cinema está presente. Quando desembarco, venho com o roteiro escrito, o planejamento elaborado”. Remonta a 2007 o início de seu envolvimento com a “sétima arte” antes, desde 2001, compunha música orquestral no papel ou no computador. Não estranhem ele é uma inteligência rara, apesar de não admitir que o vejam assim e de preferir se autodenominar de “louco”. É que quando cria, a cena (iluminação, fotografia, gestual, fundo musical, por exemplo) vem por inteira na mente dele, assim é também quando escreve música. Sem tocar instrumento algum, a peça musical é concebida mentalmente, aí ele senta e escreve na partitura. Bisogno está agora em seu primeiro longa metragem. É também o primeiro longa metragem de Campos. É um Drama, filmado em 3D. “Já estamos gravando, entre o elenco estão Orávio de Campos, Yve Carvalho, Adriana Medeiros, Aucilene Freitas, Lucia Talabi e Toninho Ferreira. Todos acreditam no projeto, fazem pela oportunidade de experimentar, sabem que não tenho como pagar cachê. Só os atores estabelecem compromisso de filmar naturalmente. O filme retrata um grupo de jovens estudantes, amigos, paixões. No cinema a força não está na história e sim na forma como é contada”, frisa ele. Frente à particular constatação de que a ciência perdeu a força criadora, Bisogno largou a Faculdade de Física do IFF, tomou outro rumo “A arte me deu condições de expansão”. Luciana Portinho Capa da Folha Dois de hoje, 22/05.

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