Por que temos que reaprender a correr? (Por Erick Neves)
Marcos Almeida 11/03/2013 13:46
Márcio Almeida, corredor descalço há décadas, ocasionalmente "teima" em pisar de calcanhar, enquanto seus filhos, Tiago e Giovana, ainda correm naturalmente com o antepé. (Foto: arquivo pessoal, gentilmente cedida).Márcio Almeida, corredor descalço há décadas, ocasionalmente “teima” em pisar de calcanhar, enquanto seus filhos, Tiago e Giovana, ainda correm naturalmente com o antepé. (Foto: arquivo pessoal). 

N.E.: Essa é a primeira colaboração de Erik Neves, médico e corredor descalço de Brasília, DF.

Christopher McDougall, logo no título do seu famoso livro, falou que somos “Nascidos para Correr”. Ora, se é assim, por que existem dezenas de livros e centenas de blogs, como este, que ensinam como correr?

Em qualquer outro esporte, o gesto esportivo é ensinado, treinado, aperfeiçoado e repetido exaustivamente. Tome a natação como exemplo. Não nascemos para nadar ou, melhor dizendo, as pressões evolutivas a que nossos antepassados foram submetidos não os selecionaram para a vida aquática. Mesmo assim, qualquer criança recém-nascida tem reflexos que a permite se locomover na água, mas o estilo é “cachorrinho”, distante, em forma e desempenho, do que é visto nas piscinas olímpicas. Se essa criança não continuar sendo estimulada a nadar, alguns anos mais tarde, ela simplesmente esquecerá como fazê-lo e, caso caia numa piscina suficientemente profunda, provavelmente se afogará.

Com a corrida, algo semelhante acontece. Apesar de termos “evoluído para correr”, como o professor de Harvard Daniel Lieberman defende, a vida moderna atrapalha o desenvolvimento da corrida natural.

O problema já começa no sapatinho dos bebês. Os pais das crianças (especialmente as mães, por experiência própria) adoram ver seus filhos bem arrumadinhos e querem protegê-los das “apavorantes” doenças que seus filhos podem contrair. Assim, elas não aprender a andar descalças e sim, calçadas. E o tempo vai passando e os sapatos vão ficando mais grossos, mais pesados, menos flexíveis, mais diferentes do andar descalço.

Apesar disso é possível notar, observando crianças de 3, 4 anos correndo descalças, que boa parte delas ainda não teve sua biomecânica alterada pelos sapatos e ainda correm com o antepé.

Ao ficarem mais velhos, as crianças param de correr, porque correr é coisa de criança. Seus pais lhe ensinam isso: “Pare de correr! Comporte-se! Parece criança!” Se não praticarem um esporte, ficarão anos sem correr, apenas andando com seus pesados tênis e sapatos. Quando voltam a correr, adultos, para controlar o peso ou porque “dizem que faz bem à saúde” (normalmente não é por prazer), estão como as crianças que pararam de nadar: não sabem mais como fazê-lo!

Caminhar é bem diferente de correr. A maneira mais eficaz (energeticamente econômica) de caminhar é aterrissar o pé com o calcanhar, rolá-lo, como um mata-borrão e retirá-lo com a ponta. E o novo atleta tem esse modelo motor assimilado por anos. Ao voltar a correr, usará o único modelo que conhece: calcanhar-meio-ponta. Começar correndo devagar e progressivamente mais depressa só piora o quadro.

Por esses e outros motivos, a corrida que os adultos praticam intuitivamente, com o calcanhar, não é a corrida natural para qual o nosso corpo evoluiu.

Por isso tentamos reensinar a correr. Naturalmente, com o antepé.

Fonte: Corrida Natural.

 

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    Sobre o autor

    Marcos Almeida

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    Marcos Almeida é assessor esportivo, especialista em Ciência da Musculação e mestre em Ciência da Motricidade Humana.

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