Uma Academia para os mortais
lucianaportinho 06/03/2013 18:52
[caption id="attachment_5881" align="aligncenter" width="550" caption="Ft. Edu Prudencio"][/caption]

 

Com um plenário cheio, a noite da última segunda-feira foi de encontros e reencontros festivos, na Academia Campista de Letras. Aliás, uma noite um pouco atípica, ainda que solene, com a posse daqueles que o acadêmico Vilmar Rangel, na posição de cerimonialista, assim nominou: “A posse dos novos três poderes da ACL, para o biênio 2013/2014”. Além dos aguardados discursos elegantes na escrita, pungentes ao falar, certa irreverência se fez presente na mesa principal dos trabalhos. Ao lado de autoridades municipais e personalidades da intelectualidade campista, cenouras de papel e um coelho de pelúcia além do humano, o professor Hélio Coelho de Freitas, que foi conduzido à presidência da academia, juntos com os outros 13 acadêmicos nos cargos de diretores, conselheiros e assessores culturais. O primeiro a falar foi o acadêmico e ex-presidente Elmar Martins ao ler o “Discurso de desposse”. Nas dez páginas digitadas, se despediu agradecendo o apoio no mandato que, por vontade alheia a sua, se estendeu por quatro anos, à frente da instituição. Com rara habilidade misturou os filósofos gregos, poetas modernos, as pinturas rupestres e o humor ao alinhavar o texto com um bordão, “Eu faço Versos?... E só aos poetas é possível expressar em uma só palavra o universo de agradecimentos a todos quanto os devo”. De comum, entre os acadêmicos que usaram da palavra e os acadêmicos no recinto, a esperança depositada no presidente empossado de saber conduzir o processo de revitalização da vida na Academia; de um novo passo coletivo na renovação de seus quadros, da sabedoria na conservação de sua história e legado. Ao citar (em epígrafe) o alemão, Johann Wolfgang Von Goethe, “A vida é a infância de nossa imortalidade!”, Hélio Coelho — na ACL, ocupa a cadeira do poeta Antonio Roberto Fernandes — assim abordou a imortalidade que aos acadêmicos lhe é conferida. — Ser jovem não é se drogar de juventude, ser maduro é saber envelhecer e trago Bernard Shaw para nos advertir: “Não tente viver para sempre: você não se sairá bem!”. Sou fiel ao entendimento de que a denominação de imortal é inadequada para o intelectual em vida. Depois, sim, na hora do inventário de sua vida e sua obra, quando ficar evidenciado que não enterraram ao mesmo tempo seu corpo e sua obra, aí então a imortalidade impõe-se como o coroamento de sua existência. Creio ser este o sentido da fala de Goethe, em epígrafe —, e prosseguiu, “Não se pode conceber o que fazer intelectual como expressão de narcisismos nem de be-letrismos em castelos nas nuvens ou torres inacessíveis aos homens e mulheres de carne osso, como se estes fossem mortais indignos de conviver com os supostos ‘imortais’. O ser ‘imortal’ só se justifica num ‘curriculum mortis’ que autorize a perpetuação de seu nome, da contribuição à cultura de sua Terra, da singularidade de sua obra e dos desdobramentos de sua visão de mundo, do homem e das coisas. Imortal só se justifica na dimensão do que se coloca como transcendência, não a transcendência como escape, refúgio nas torres de além-mundo, mas a transcendência que dá significação à vida enquanto práxis e que, como todos os engajamentos, “não basta ser vivida, é preciso ser sonhada”, como a vivenciou Quintana”. O incremento na inserção social da ACL esteve evidenciado em todas as conversas da noite. Para o professor de arte e acadêmico Renato Marion Aquino, “O momento é muito importante, representa uma renovação. Hélio Coelho detém dons e currículo, ainda que um jovem acadêmico. Muitos dos que assumem os cargos agora, o fazem pela primeira vez. Cada qual tem o que dizer, carrega conteúdo, sabe como fazer. Antevejo uma época profícua conjugada à preservação do passado”, frisou Renato Aquino. Ao final de seu discurso, Hélio Coelho fez questão de esclarecer a ausência do nome de Vilmar Rangel da chapa empossada, “Vilmar declinou de integrar nossa gestão por razões de ordem particulares que respeitamos. Todos sabem que é um intelectual de grande porte, um zeloso administrador, é uma peça fundamental na engrenagem da ACL, rendo aqui particular homenagem”, exclamou Hélio ao pedir uma salva de palmas da plateia. Esse foi o tom da Academia Campista de Letras, na noite de segunda-feira passada, que ainda contou com a apresentação do Coro Municipal/ Orquestrando a Vida e do Conjunto de Choro, Regra Três. Luciana Portinho Capa da Folha Dois de hoje, (06/03).

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