Como a chuva que cai lentamente...
bethlandim 23/03/2013 15:40

Se pararmos para observar a chuva, constatamos a grande diferença da chuva que cai torrencialmente e da chuva que cai lentamente... A primeira arrasta a terra, faz cair casas e pessoas nas suas enxurradas, inunda na maioria das vezes de forma abrupta e irracional a vida no seu dia-a-dia... Já a chuva que cai lentamente faz a semente germinar, a terra ficar produtiva, a vida florescer e gerar frutos... Na verdade, precisamos sempre destas doses homeopáticas, tanto da chuva como das orações que Francisco nos tem demonstrado desde que iniciou seu Papado. Existe uma frase dos judeus, no evangelho, que de alguma maneira resume o confronto que se reflete nos evangelhos desses dias e que culminará na morte de Jesus: “Mas quem pensas que és tu?” Jesus não tinha um bom currículo, não pertencia a uma família famosa, não estudou com nenhum rabi de categoria, não nasceu em Jerusalém. Era só um judeu marginal procedente da Galiléia pagã. E foi com Ele que aprendemos tudo. São Pedro também não teria a menor chance de ser eleito em um Conclave. Seu currículo era bem fraco e nada entusiasmante. Oriundo da Galiléia, pescador do lago de Genesaré, só falava uma língua em dialeto e não tinha grandes estudos. E a historia muitas vezes se repete... Jorge Mario Bergoglio não estava entre os favoritos e a escolha foi uma surpresa para alguns representantes da igreja e para todos nós. Chama a atenção que ele não abre mão de recordar que é um jesuíta, conservando o emblema da Companhia de Jesus (SJ), isto é, um sol com as primeiras letras, maiúsculas, do vocábulo “Jesus” em língua grega (IHS).

Com um estilo pastoral diferente de Bento XVI, o Papa Francisco fez uma homilia onde chamou atenção a referência que fez de São José como guardador. Guardar significa cuidar. Com isso, o Papa afirma que todos somos chamados a termos a função de guardiões da criação e da natureza. Ele insiste que não podemos permitir a destruição, tanto da natureza, quanto da humanidade. Além disso, temos que ser guardiões uns dos outros, pois o ser humano merece o cuidado do outro ser humano. Isso tudo é uma referência explícita a São Francisco, que foi o grande incentivador do amor à natureza e ao ser humano. A preocupação dele, enquanto pastor da Igreja, na sua dimensão de universalidade, é que a natureza hoje clama por quem a defenda verdadeiramente, não apenas no discurso. A defesa tem que ser uma prática completa na vida de cada pessoa. O que a gente percebe é que ele tem preocupação com cada pessoa e, em seu espírito franciscano, se preocupa com todas as pessoas, independentemente delas serem cristãs ou não. A colocação “guardemos com amor aquilo que Deus nos deu”, usada na homilia, é humana, transcendental e universal. Não importa o modo que cada um conceba Deus, mas sim que ele considere que Deus fez tudo e com amor.

Neste trecho de sua homilia: “Queria pedir, por favor, a quantos ocupam cargos de responsabilidade em âmbito econômico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos "guardiães" da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo! Mas, para "guardar", devemos também cuidar de nós mesmos. Lembremo-nos de que o ódio, a inveja, o orgulho sujam a vida; então guardar quer dizer vigiar sobre os nossos sentimentos, o nosso coração, porque é dele que saem as boas intenções e as más: aquelas que edificam e as que destroem. Não devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura. A propósito, deixai-me acrescentar mais uma observação: cuidar, guardar requer bondade, requer ser praticado com ternura. Nos Evangelhos, São José aparece como um homem forte, corajoso, trabalhador, mas, no seu íntimo, sobressai uma grande ternura, que não é a virtude dos fracos, antes pelo contrário denota fortaleza de ânimo e capacidade de solicitude, de compaixão, de verdadeira abertura ao outro, de amor. Não devemos ter medo da bondade, da ternura!”

Francisco é este rasgo de luz no meio de tantas nuvens, que nos traz o calor da esperança aos nossos corações... Deixemos que a chuva caia lentamente em nossos corações como gotas de orvalho e óleos perfumados que amaciam e abrandam nossa experiência divina nesta oportunidade humana de viver.  O Papa nos mostra que a Igreja é feita de homens, é humana, feita de erros e acertos, mas acima de tudo, ele nos fala com seu exemplo de olhar olho no olho, da simplicidade, da ternura, da espontaneidade, de gente querendo cuidar de gente... “Cai chuva lentamente lava minha alma e o meu espírito. Fertiliza as idéias e a inspiração, cria uma fonte no meu coração... Nasça a planta, de uma pura semente, que seja do céu o maior presente... Rega a emoção o corpo e a razão, faça um lindo canteiro, cuide também do jardineiro. E perfumada as flores brotarão, enfeitando a vida e o coração... como o pingo de orvalho, respinga com uma brisa suave... e a solidariedade promove. Cai chuva, cai lentamente uma chuva de harmonia, toca com sabedoria, cura a alma faço um apelo, deixa o mundo mais belo.”

Abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens é levar o calor da esperança e deixar que a chuva caia lentamente em nossos corações como gotas de orvalho e óleos perfumados que amaciam e abrandam nossa experiência divina nesta oportunidade humana de viver.

Com afeto,

Beth Landim

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