Encontro com o amor desconhecido
Mariana Luiza 22/01/2017 01:19 - Atualizado em 18/05/2020 20:24
Nos meses de Maio e Novembro, no New Yorker Hotel, em Manhattan, acontece um encontro promovido pelo Clube Metropolitano de Postal. Durante um fim de semana, cerca de 40 colecionadores de cartões postais exibem, trocam e vendem suas coleções de cartões separadas por continentes, países, praias e cidades. Em Maio de 2009, fui a um desses encontros. Visitava as barracas dos expositores sempre na busca de postais que imprimissem o Brasil. Nem todas as barracas tinham postais brasileiros, e as que tinham, estampavam mulheres de biquinis nas praias ou lindas paisagens com araras exóticas.
Postais novos, nunca usados, sem recado ou selo postal. Eu pulava de barraca em barraca buscando uma carta, uma recado, "eu te amo" ou qualquer frase curta remetida por alguém que tivesse visitado o Brasil. Andei por todas as quarenta barracas, olhando atentamente as caixinhas de postais brasileiros ou latinos. Não achei nada. Resolvi então procurar por postais de Nova York, e quando revisitava o segundo expositor, encontrei sem querer, um postal da Baia de Guanabara, enseada de Botafogo perdido na caixa dos postais da Big Apple. Uma lua linda, cheia e amarela, iluminava o mar de Botafogo e alguns barcos que repousavam sobre as águas. Estava ali por acaso. Perdido. Quando o expositor me viu com o postal na mão, foi logo se desculpando dizendo que alguém o havia colocado no lugar errado. Interrompi dizendo conhecer bem o endereço daquele remetente. 
E comprei o postal que havia me encontrado quando eu desistira de procurá-lo.
No verso do cartão, um selo do Rio de Janeiro para uma destinatária em Nova York datado de 13 de Julho de 1952. Um homem chamado Steven escreve um recado para sua suposta namorada, "Jenny, Meu Amor" únicas palavras em português. O recado dizia "Se você acha que a lua cheia sobre o rio Hudson é maravilhosa, precisa conhecer a lua cheia sobre o mar de Botafogo".
Saí da feira e peguei um metrô na direção do rio Hudson. Comprei um sanduíche e um suco de laranja e sentei num banquinho de frente ao rio à espera do nascer da lua. Eu preenchia o vazio do quarto crescente com minha imaginação refletindo sobre as águas do Hudson uma luz branca imaginária. 
Pensei em escrever para o endereço de Jenny no cartão postal. Perguntar o porquê daquela mensagem de amor ter se perdido numa caixa de postais de outra localidade. O que fora feito daquele sentimento? Será que Steven retornou do Brasil ou a lua de Botafogo o fez apaixonar-se por aqui? Será que Jenny ainda se lembra dele?
Desisti de escrever. Não tinha o direito de ressuscitar tais lembranças empoeiradas. Me restava assim como fiz com a lua preencher as lacunas da sombra com minha luz imaginária. Dias depois, voltei ao Hudson para conhecer a lua cheia que Jenny gostava tanto. As águas do Hudson banhadas de prata e pontos de luz dos inúmeros arranha-céus era mesmo deslumbrante. Mas eu precisava concordar com Steven. A lua surgindo detrás do Pão de Açúcar e iluminando os veleiros da enseada de Botafogo é realmente estonteante. Espero que Jenny, acompanhada ou não, tenha tido a chance de ver tal beleza.
 
 

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Mariana Luiza

    [email protected]